Eles tinham, sei lá. 50 anos de casados, no mínimo. Ele ainda a fez rir em público de alguma piada sem graça dos anos 80 provavelmente. De algo que só os dois saibam, de uma conversa que tiveram 40 anos atrás. Não sei. Algo aconteceu e aquela senhora de uns 70 e poucos anos e pele enrugada riu para ele. Fiquei feliz, sorri para os dois. Se me vissem, talvez os dois achariam que eu estava louco mostrando os dentes para estranhos dentro do vagão do metro.
Quando eu estava na rua, queria ligar para você para contar o que tinha acabado de ver e perguntar "Quando você estiver bem velhinha, mas bem velhinha mesmo. Ainda vai rir para mim?". Ouvir sua risada do outro lado da linha e depois silêncio seria incrível.... Algumas pessoas não sabem, mas quando você ri assim é tipo dizer "sim" sem dizer a palavra. O silêncio que vem depois é porque você começou a pensar no que eu te perguntei. E imaginar também. Por isso gosto até dos seus silêncios, porque sei que no fundo não são apenas silêncios comuns. Não sei o que eu vi em você, mas é bonito, é confortável, dá até vontade de ficar. Eu olhei para cima, me afundei no azul do céu. Sorri, me senti agradecido. E mais uma vez, feliz. Quando abaixei a cabeça vi um rapaz na minha frente. Disse "Você consegue ser a poesia de alguém?". Ele me olhou sem entender. Nem eu. Mas eu poderia escrever algo agora para você. Dizendo coisas do tipo como você anda me fazendo bem e como meu mundo mudou para melhor. Coisas como por exemplo, que bom é essa calmaria que você trouxe e em como é lindo olhar nos teus olhos escuros. Em como é gostosa essa tua boca e como o teu abraço consegue ser o melhor lugar do mundo.
No fim do dia acabamos nos encontrando. Você me beijou, me abraçou. Riu pra mim. Não pude evitar, imaginei você velhinha fazendo a mesma coisa. E ai eu que ri para você. Fiquei pensando que velhinhos riríamos de lembrar como éramos jovens. Nessa hora você me perguntou qual era a coisa mais linda que eu já vi, e eu continuei olhando pra você...
- KELVIN DREW