F o u r

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Eu estava estática. O garoto ria na minha cama com os olhos fechados, e ele havia surgido do nada, do além!

Particularmente só consigo pensar em três possibilidades: um, ele é um fantasma ou um espírito; dois, ele é um stalker que mora dentro da minha parede; três, eu estou completamente louca. A opção três é a mais realista, pois se eu não estou louca agora, provavelmente vou ficar depois que descobrir de onde esse garoto surgiu, porque cá entre nós, nenhuma das opções me agrada!

As risadas dele paravam lentamente, então ele foi se levantando e fingiu enxugar uma lágrima, então o olhar dele foi para mim, que o encarava incrédula, ainda na mesma posição.

Seu olhar passou lentamente de um sorriso para uma expressão confusa a medida que eu continuava o encarando, então ele olhou para trás dele mesmo como se tentasse descobrir para onde eu estava olhando, e ao voltar novamente seu olhar para mim, se inclinou para um lado e para o outro, e meu olhar o seguiu. Ele arregalou os olhos.

– Você pode me ver? – Ele falou e eu soltei um gritinho, então levantei na velocidade da luz e andei para trás cambaleando.

– Q-Q-Quem é v-você? – Perguntei desesperada enquanto tentava achar algo para me defender, alcançando apenas uma almofada. Ele em vez de responder, apenas sorriu.

– Você pode me ver! – Ele exclamou animado e eu ainda continuei aterrorizada no canto. – Finalmente alguém que pode me ver, pensei que você pudesse apenas me ouvir!

Ele começou a se aproximar e eu soltei um gritinho.

– O que você está fazendo no meu apartamento? – Perguntei ameaçando jogar a almofada, então ele me encarou.

– Seu apartamento? Não, este é meu apartamento! – Ele disse e então cruzou os braços. – A pergunta é, o que você está fazendo no meu apartamento? A culpa não é minha se ninguém me vê, o apartamento continua sendo meu!

Lembrei do que a senhora Wang disse sobre o antigo morador, o que sofreu o acidente.

– Espera… você é o antigo morador daqui?

– Eu sou o morador daqui! – Ele disse ainda de braços cruzados e minha mente se iluminou.

– Não, você não é! Não pode ser dono de um apartamento estando morto! – Falei ainda não absorvendo a ideia direito.

– Eu não me lembro de ter morrido. – Ele deu ombros e andou até um canto, atravessando a parede. Pisquei incrédula e andei até a sala, vendo que ele se jogou no meu sofá.

– Não se lembra de ter morrido? Ah tá, então quer dizer que pessoas vivas sabem atravessar paredes! – Disse com raiva. Não acredito que estou tendo uma discussão com um fantasma.

– Eu nunca disse que me lembro de estar vivo… – Ele disse e eu abri a boca para retrucar, porém interrompi a mim mesma, ficando um tempo calada absorvendo sua frase.

– Você está me dizendo que não se lembra de estar vivo? Não lembra da sua… vida?

– Nop! Nadinha! – Ele disse e sorriu para mim, um sorriso quadrado. – Só lembro que meu nome é Taehyung e que eu moro aqui, e é isso.

Aquilo estava confuso demais para o meu gosto. Taehyung. Então ele se lembrava apenas do próprio nome e de onde morava? Nada mais?

– Isso não vem a questão! A questão é, por que resolveu me atarsanar?

– Bem, você está no meu apartamento, para início de conversa. Segundo, você foi a única que me ouviu, então pensei que poderia me divertir um pouco... – Ele parou um pouco antes de continuar, como se pensasse, então deu ombros.  – E não sei, você meio que me lembra algo, talvez seja o mais perto que tenho de uma memória.

– Bem, não é possível que eu te lembre algo, eu nunca te vi na minha vida inteira! – Protestei e ele me encarou.

– Eu disse que você apenas me lembra algo, me da uma sensação esquisita e familiar. – Ele disse e eu pensei um pouco.

– Olha, eu só quero ter uma vida tranquila e morar em um apartamento calmo, então tem como você ir para outro lugar? – Pedi e ele cruzou os braços.

– Princesa, se você não entendeu, esse aqui é meu apartamento! Não vou sair dele, e também não vou parar de te seguir.

– Como é? Por que? O que eu te fiz? – Falei incrédula.

– Bem, é legal conversar com alguém. Como não tenho lembranças e ninguém me escuta, não tem como me entreter. – Ele deu ombros, porém virou o rosto de lado e deu um sorriso malicioso. – E te ver na banheira não é ruim, tenho que admitir.

Meu rosto todo ficou vermelho, arrancando uma leve risada dele. Lembrei das vezes que troquei de roupa e de meu banho enquanto sentia uma presença. Ele estava me vendo nua esse tempo todo…?!

– Além de não me deixar em paz, você é um pervertido?! Já chega, não posso conviver com isso, vou chamar um padre! – Eu disse e ele soltou uma gargalhada, e eu o olhei com raiva. – Do que está rindo?!

– Docinho, mesmo que você chamasse um padre, não ia adiantar de nada! Eu moro aqui, não estou te assombrando e não sou um espírito maligno, sou um fantasma! – Ele disse com um sorriso provocativo.

Suspirei tentando conter o misto de emoções nada boas em minha cabeça, era uma mistura esquisita de medo, raiva, incredulidade e um bando de outras coisas.

– Eu não posso me mudar daqui! Esse é o único lugar que eu posso pagar… – Choraminguei e ele chegou mais perto de mim.

Sentia sua presença agora ao meu lado, talvez perto demais, então logo senti sua voz ecoar roucamente em meu ouvido e me arrepiei por completo.

– Então parece que somos colegas de apartamento agora…

Save Me » Kim Taehyung «Onde histórias criam vida. Descubra agora