Capítulo 1

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Em 1.612...

Na Itália.

O quão bonito pode ser o simples voar dos pássaros?

Para Lorena, que vivia trancafiada naquela abadia, existiam muitos significados; do mais bonito ao mais receoso.

Como seria voar? Será que eles não sentiam medo?

Lorena lembrou-se que sua irmã Helena, em uma das visitas após se casar, disse que havia um jeito de voar, mas quando ela perguntou "como" a irmã mudou de assunto. Lembrar da irmã a fazia lembrar que havia um ano e meio que a irmã tinha ido embora e ela estava sozinha naquele lugar.

- Lorena! Seu pai está aqui. – Diz uma das abadessas que acabara de entrar em seu quarto, encontrando a garota na janela a observar.

- Papa? Diga que já irei.

"o que será que houve?", pensou.

A ultima vez que o pai botara os pés naquele lugar foi para buscar Helena para seu noivado. Ela e a irmã do meio adoravam discutir sobre os assuntos mais variados, mas as abadessas sempre diziam que mulheres não deveriam pensar sobre certos assuntos, pois os maridos não gostavam dessas atitudes e isso poderia levar a uma devolução. Se não quisessem dar desgosto a família, teriam que pensar em filhos, na casa e no marido.

Particularmente, Lorena achava aquilo tudo uma grande bobagem e sabia que jamais seria tão submissa. Porém sempre se lembrava de que Helena também pensava assim antes de se casar e agora fazia todas as vontades do marido. Será que ela também ficaria assim?

- Papa! – Exclamou Lorena, indo abraçar o pai que não via há tanto tempo. – O que traz o senhor até aqui? Está tudo bem?

- Que saudades querida. Está tão crescida.

- Não faz tanto tempo que não nos vemos.

- Sim, sim. Tem razão. Estou aqui porque preciso ter uma conversa séria com você. – Diz César, receoso com a reação da filha mais nova, pois apesar de pouco conhecê-la sabia que esta não ficaria muito feliz com a novidade. – Álvaro entrou em contato comigo e acredita que este é o melhor momento para que você e Henry...

- Se é o que estou pensando a resposta é não! – Gritou Lorena, nervosa com o que o futuro reservava.

- Você precisa se casar, Lorena. O futuro da Itália depende disso e você sabe desde o dia em que nasceu.

- Não! Não preciso. Lívia pode herdar tudo e tomar conta da Itália e ainda se casar com esse tal de Henry se ela quiser. Além disso tenho meus princípios...

- Princípios?! – Gritou César. – Lhe coloquei neste lugar para ser uma boa esposa e nada mais. Agora vá até seu quarto pegue suas coisas e partiremos.

Lorena tentou argumentar, porém o pai estava furioso e temia que ele lhe batesse, então subiu para o quarto em silencio. O pai nunca havia gritado com ela. Pela pouca convivência durante sua vida toda, até agora, sempre se deram bem, apesar de não concordarem nesse aspecto.

Sendo observada por todas as suas colegas, Lorena juntou seus poucos vestidos e pertences, guardando-os em seu baú. Ao sair do quarto, sua amiga que lhe aguardava, deu-lhe uma rosa recém colhida.

- Você será a melhor rainha de todas. O povo da França terá sorte de ter uma rainha como você Lorena. –

- Obrigada, minha amiga. Você também será e espero que vá me visitar na minha nova prisão.

As duas se abraçaram em despedida. Raven também estava ali pelo mesmo motivo e as duas viraram grandes amigas após a partida de Helena.

Dando uma ultima olhada no lugar que passou a vida inteira, Lorena entrou na carruagem real deixando escorrer algumas lagrimas.

Na França.

A lebre corria na floresta, depressa como se soubesse seu destino. A flecha era mirada com precisão. No momento em que a lebre parou perto de um pequeno arbusto, a flecha fora disparada, acertando a em cheio.

- Henry, Henry! – Gritava Laila indo de encontro ao irmão. – Papa quer falar com você.

- Diga que já irei pequena.

- Está bem! Você viu meu vestido novo?

- Vi sim, minha irmã. É muito lindo. – Respondeu Henry sorrindo docemente – Espere sentada que já irei de volta para o castelo com você.

Após limpar a lebre, Henry pega a irmã no colo com uma das mãos e segue em direção ao castelo.

Ao chegar a porta do gabinete do pai, Henry respirou fundo antes de colocar Laila no chão. A verdade é que sempre temia estas conversas, afinal, nunca resultavam em boas coisas.

Assim que a irmã saiu em disparada em busca da mãe, Henry bateu na porta, hesitante. Após alguns minutos de espera, ouviu a voz do pai firme dizendo para que entrasse.

- Me chamaste pai? –

- Sim. Sente-se. – Disse Álvaro, esperando que o filho se sentasse para continuar. – Sua mãe me disse que estava caçando. –

- Sim, mas acredito que o senhor não me chamou aqui para coversarmos sobre isso. –

- Realmente. Sabe Henry, seu avô tinha este mesmo temperamento; gostava de ir direto ao ponto. Mesmo que por pouco tempo, ele foi o melhor rei que a França poderia ter. O povo lembra até hoje de suas benfeitorias e de como ele me ensinou a ser o rei que sou. Depois da sua morte, ele teve a sorte de ter um filho homem para seguir os passos dele. Dar continuidade ao nosso nome – os Deville. Assim como eu tenho um filho homem que seguirá meus passos. Porém eu também não seria o rei que sou hoje se sua mãe não estivesse ao meu lado nos momentos mais difíceis. É por isso que uma rainha é tão importante, meu filho. Ela é o nosso suporte nos dias de luta, nas guerras. Ela é o coração que o povo precisa; a personificação do amor para o nosso reino.

Henry sabia que o pai adorava fazer discursos incansáveis sobre como os Deville e como o seu clã era o melhor clã que a França já teve. Porém, suas palavras nunca eram em vão e sempre tinham um propósito. Propósito este que Henry começava a desconfiar que estaria envolvido.

- Okay, mas aonde o senhor quer chegar com isso? –

- Alguns reis não tiveram a mesma sorte que eu e seu avô. Eles tiveram apenas filhas mulheres e se recusaram a ter um filho bastardo que governasse seu país. O que quero que entenda é que precisamos expandir nosso território, pensar grande e isso você sabe. E a melhor forma de fazê-lo é construindo alianças permanentes como o casamento.

- Não me diga que o senhor...

- Sim. Encaminhei um mensageiro até a Itália. Cézar há esta hora deve estar trazendo Lorena para nosso castelo.

Sem conseguir pensar, Henry levantou-se em um pulo, fazendo a cadeira, que estava sentado, cair. Não podia acreditar que o pai havia armado tudo sobre suas costas. Depois de tantos anos sem que o assunto fosse mencionado, acreditou que tudo já tivesse sido esquecido.

- Por que não me avisaste com antecedência? – Gritou Henry.

- Porque eu sabia que iria fazer de tudo para impedir que isso acontecesse, mas não existe volta. Eu dei minha palavra quando você tinha 03 anos de idade. Você sempre soube que isso um dia iria acontecer. Agora vá fazer algo de útil, ao invés de ficar caçando animais que não alimentam nem os nossos empregados.

Naquele momento, Henry sabia que não teria como lutar contra os desejos do pai, mas esperava achar uma maneira de escapar de tudo aquilo. 

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