Maria Eduarda Arantes

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Eu nunca imaginei que aquele arrogante fosse capaz de ser um pai dedicado e amoroso. Eu costumava ver a arrogância de Heinrich espelhada na de Valério. Meu pai era imperioso e costumava ter as coisas do jeito dele. As pessoas dizem que eu é que sou assim, mas que o bondoso Valério Arantes era um homem digno de todo respeito. Eu só queria entender como podemos falar de um único ser e distinguindo sempre duas personalidades. Eu conheci a pior face de Valério. Meu pai nunca demonstrou um afeto singelo. Nos meus aniversários os presentes caros estavam sempre a minha espera mais eu senta falta de carinho e amor. O amor de um pai para com uma filha da maneira que eu vi entre Heinrich e a sua pequena. Senti-me incompleta e ali eu vi que a vida me deixou cicatrizes profundas, eu desejo até hoje algo que nunca tive e que talvez nunca haja de ter, já que resolvi vesti a armadura de uma mulher fria e calculista. Hoje Heinrich me surpreendeu no meu momento de fragilidade e ele viu além do que eu aparento ser. Ele viu meu lado fragmentado e de ser humano. Um alguém que não é completo nessa vida. Eu queria acreditar que a minha vida ainda poderia ser diferente. Eu queria viver diferente. Ser diferente de tudo que sou hoje e que as pessoas pudessem me ver e se orgulhar de mim. Estou no meu quarto quando sou informada que há uma pessoa querendo falar comigo. Olho pra o relógio e vejo que já passa das 20h00hr da noite. Não imagino se quer quem seja mais instintivamente resolvo atender, afinal, não é todo dia que alguém vem a minha casa. Desço e vou diretamente para o escritório já que pedi para que me aguardasse lá como costumeiramente fazia Valério ao receber pessoas nessa casa. Minha surpresa é imediata quando vejo parado no meu escritório um Heinrich totalmente nervoso diante de mim. Ele está inquieto e sua expressão é de raiva.

-Boa noite Heinrich. Algum problema com a sua filha? –pergunto já sabendo da resposta. Sua imparcialidade não tem nada a ver com a menina.

-A Maria Luiza está muito bem, obrigada pela preocupação. Contudo, a minha vinda até o seu reduto é algo que será tratado entre você e eu. –Ela fala e vejo que está escolhendo bem as palavras.

-Pois estou te escutando, Heinrich. E penso que seja serio de igual, já que não deu para esperar para amanhã.

-Pois quando se trata de ficar devendo a você é realmente serio, Srta. Arantes. Eu já faço questão de cumprir o preso de pagamento do empréstimo que fiz com Valério; Não quero ficar devendo a senhorita exclusivamente. Até por que eu devo a empresa como foi bem frisado. Então me diga o valor para que eu possa te emitir um cheque. –Heinrich fala com velocidade nas palavras que parece querer que eu o entenda a todo custo. Minha raiva se aflora como fogo em pólvora e eu vou para sua frente onde ele está assinando meio debruçado no meu birô. Arranco de suas mãos a caneta e falo:

-Deixe que eu faço muito bem o papel de arrogante e orgulhosa. Aceite meu gesto como... Como... –Perco-me nas palavras.

-Como uma ajuda? Ora senhorita Arantes. Nós não precisamos da sua pena e obras de caridade. Eu sou capaz de dar tudo, ouviu bem, Tudo que minha filha precisar. Eu estou aqui para isso. Seu dinheiro não me interessa. –Ele cospe as palavras e eu sinto como se ele estivesse mostrando o que é ser um pai e isso dói em mim como uma ferida exposta.

-Pois seja um bom pai e aceite os fatos como realmente são. Aceite o meu gesto como algo de puro beneficio para sua filha. Eu não estou tentando te humilhar Heinrich. Será que você não vê?

-O que eu sempre vejo é uma mulher fria e previsível. Uma pedra no lugar coração é o que você carrega ai dentro Eduarda. Sua postura de mulher superior diz muito do que você é. Uma mulher infantil, mimada e que quer que o mundo se curve diante das suas vontades. –Ele fala olhando fixamente em meus olhos que a cada palavra se enchem de lágrimas e eu inevitavelmente tento segurá-las.

-Talvez eu seja realmente essa pessoa, Sr. Alencar. E eu até confesso que penso em mudar minha postura diariamente. Mas não venha me julgar sendo que não me conhece. O senhor não sabe o que passei e o que me fez ser essa mulher insensível. –As lagrimas rolam no meu rosto e eu não me importo mais. Cansei de ser quem eu não sou quando na verdade eu ainda não sei quem sou eu. Cansei de segurar um mundo nas minhas costas. Cansei dessa vida fajuta e solitária que vivo. Simplesmente cansei. Choro copiosamente e sinto as mãos de Heinrich me trazendo para dentro do seu abraço; ele me acolhe com ternura me fazendo esquecer de todo mal estar que estava sentindo. Seu silencio me diz muito, pois mais uma vez ele conseguiu ver além das minhas barreiras. Heinrich me acarinha a face e eu sinto uma conexão forte entre nossos corpos. O desejo está batendo na porta e eu sem hesitar deixo que entre. Sem entender por que eu quero beijar a boca desse homem; e mais, quero que ele me toque com essas mãos quentes e sussurre palavras no meu ouvido enquanto me toma nos braços e me faz dele. Eu quero ser dele aqui e agora. Separo meu corpo do dele certa de que ele está sentindo o que eu estou. Sua boca está a centímetros da minha e se que eu sofra pela espera ele me toma de forma impetuosa. Seu beijo é ardente e cheio de promessas. E eu aceito cada uma delas. Estamos abrasados com esse fogo que nos queima e o desejo é quase palpável. Sinto meu centro ficar molhado e a volúpia toma conta do nosso momento. Eu estou completamente entregue e quero tudo que ele poder me dá.  

O Preço da FelicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora