Quanto tempo?

Capítulo 20

  Chegamos estou exausta, vamos dividir o apartamento, eu fico com um quarto e os pombinhos no outro, "pombinhos" nunca imaginei usar essa expressão ao falar desses dois, saimos pra conhecer o câmpus da faculdade, as vezes chego a não acreditar que conseguimos, e o melhor de tudo conseguimos juntos, e penso que amizades de verdade existe, e é algo que você escolhe, você escolhe com quem passar seus dias e essas pessoas te escolheram também, eles me escolheram com todos os meus defeitos e hoje estamos juntos, amigos que estou levando pra vida, me pego pensando nisso, mas percebo que o momento...e nossa, estamos fazendo a nossa vida, estamos vivendo ou sobrevivendo?  Espero realmente que seja vivendo, saimos pra fazer algumas compras que estavamos precisando afinal hoje somos nois que cuidaremos de tudo, depois tomo um outro banho e resolvo tirar o cochilo, afinal foi um dia agitado. Deito e rapidamente me encontro adormecida.

  Um céu, um dia nublado, turbilhões de pensamentos, infinitas possibilidades, dias... Muitos dias pela frente, um futuro incrivel pra ser mais exato, sonhos a serem realizados, vou conquistar o mundo, pensou ele, e um dia mudarei o mundo, mudando a mim mesmo todos os dias, não buscando a perfeição mas buscando uma forma de ajudar pessoas, uma forma de mudar o mundo, pelo menos o meu.
     - Eu vou conseguir ! - dizia ele com lágrimas nos olhos, a princípio parecia triste, mas não, com certeza não, ele estava radiante, estava feliz, tão feliz que o sorriso não cabia em seus lábios, embaçado, rosto embaçado, e então era um rapaz sem rosto com milhões de pensamentos, "ele iria mudar o mundo", ele caminhava pela rua em um dia nublado, estava avoado, bastante distraído,  os minutos passavam, ele tinha passos firmes, ia a procura de algo, seria o mundo dele?  Ele iria em busca dos sonhos?  Ele iria para um lugar que o faria feliz, eu caminhava do lado dele, mas ele não me via e ele caminhava, passos cada vez mais firmes, um rapaz sem rosto, pelo menos para mim, ele era alto, cabelos grandes e escuros, o celular derrepente toca, eu verifico os bolsos por alguns segundos pensei que fosse o meu, ele atende, derrepente o sorriso some, ele continua andando mas os passos parecem perdidos, o foco ficou em algum lugar, em qualquer lugar menos ali, a firmeza e coragem parece desaparecer.
     - Vai dar tudo certo. - diz ele - Sempre da, ela sempre consegue! - as palavras que deveria fornecer confiança e esperança para a pessoa que esta do outro lado da linha, não trazem confiança ou conforto nem a ele mesmo, quem seria ela?  Ela sempre consegue?  Deve ser uma guerreira, penso eu, chego a pergunta a ele quem é ela e contra o que ela luta, mas ele não me esculta, muito menos me vê, sinto uma tristeza por ele, os passos ficam cada vez mais perdidos, a confiança se foi.
     - Vai dar tudo certo, em alguns minutos chego ai. - diz ele, logo em seguida coloca o celular no bolso e sai correndo, ele repete consigo mesmo :
      - Corre, são só algumas ruas, ele esta logo ali. - não sei ao certo ao que se referem "Ele esta logo ali" quem é o "ele" da história, corro apressada ao seu lado, e ele não nota a minha presença, ele começa a ficar ofegante e eu percebo que eu nem cansada estou, e em alguns minutos descubro que o "ele" na verdade se trata de seu carro, ele entra e começa  a dirigir.

     Um céu, um dia nublado, turbilhões de pensamentos, infinitas possibilidades, um animal que por acaso entrou na pista em um momento inoportuno, um carro, um caminhão, um acidente, três pessoas, três vidas, seria a morte conversando com o destino brincando como se aquelas pessoas fossem brinquedos, pequenas marionetes, alguém chorando talvez arrependido, carros de policias, algumas ambulâncias, outros carros começam a parar pra ver o que aconteceu, muitas perguntas, poucas respostas, ele iria mudar quem sabe até salvar o mundo e naquele momento talvez não conseguisse nem salvar a própria vida, um corpo jogado na pista, um carro lançando contra uma árvore agora ele estava em chamas, o motorista do caminhão com apenas alguns arranhões estava sentado no meio fio, bastante confuso, seu amigo a terceira vítima estava sangrando mas iria ficar bem, uma observadora : "Eu" .

    Um céu, um dia nublado, turbilhões de pensamentos, infinitas possibilidades, "Ele iria mudar o mundo" , mas naquele momento ele estava indo consolar alguém, o motorista estava apressado pois precisava descarregar a carga antes das 18 horas se não perderia o emprego, seu amigo estava fazendo-lhe companhia, e eu estava olhando, tentando entender, porque aquele rapaz não tinha rosto?  Porque eu conseguia visualizar os detalhes de todos que ali estavam menos os dele, um rapaz sem rosto, eu o acompanhava mas não consegui evitar o pior, seu corpo estava jogado ali, teria ele morrido com aquele acidente?
     Acompanhei ele na ambulância até o hospital, esta em coma disse o médico, talvez acordasse um dia, ou talvez nunca mais acordaria, infinitas possiblidades, milhares de dias talvez nunca vividos, e ele mudaria o mundo, e eu estava ali ao seu lado, sem ao menos saber quem era, sem ao menos saber como era seu rosto, mas algo me ligava a ele, algo fazia com o que eu me importasse e eu queria estar ali, eu não queria deixá-lo, vejo algo claro do outro lado da porta, várias vozes, e escuto os seus pensamentos, como posso fazer isso.
       - Les,  estou aqui!  - me surpreendo sem saber de onde veio aquela voz, olho na direção dele, o rapaz sem rosto. - Leslie, estou aqui! - sim, são seus pensamentos, eu escuto seus pensamentos, então isso quer dizer que ele pode acordar, ele acordaria?
         Um rapaz sem rosto , e eu escuto os seus pensamentos, e nos seus pensamentos ele me chama, ele me conhece e eu nem sequer vejo seus olhos, me aproximo, um pouco incerta do que esta acontecendo, eu simplesmente me aproximo, se eu tocá-lo, o que aconteceria?  Eu veria seu rosto?  Será que...  Eu o toco, sua face começa a ficar mais visível, é como se todo o seu corpo, fosse se modificando, e eu consigo ver, me surpreendo com quem está ali, eu vejo, e falta só mais um pouco, só mais um pouco e todo o seu rosto será revelando, um toque, uma conexão e eu estou à alguns momentos de confirmar quem esta ali, naquela cama de hospital, ele mudaria o mundo e agora esta em coma.
     Olho ao redor e quando vou olhá-lo novamente e vejo sendo arrastada dali, algo me puxa pra fora daquela sala, pra fora daquele hospital, pra fora daquela cena.
      
      Tudo escureceu, abro os olhos, foi só um sonho, depois de tanto tempo... Só um sonho, mas como sempre foi tudo real de mais, quem era o rapaz sem rosto? 
      Fecho os olhos e tento lembrar, mas é como se o sonho estivesse sendo roubado de mim rápido demais, e eu começo a esquecer.
      - Lembra, lembra, lembra. - começo a repetir. - Você tem que lembrar, tem que lembrar. - levanto, olho no relógio são 05:49, volto sento na cama, tento novamente lembrar, em seguida levanto novamente, olho na janela, tudo parado, um mundo parado, todos dormem, então resolvo voltar pra cama, deito, olho pra teto, fecho os olhos, e milhões de pensamentos invadem minha mente. Derrepente tudo parou, não sei se estou acordada ou dormindo novamente, mas em minha mente surge 2 frases e logo após uma palavra.
As frases são:

  - ELE IA MUDAR O MUNDO.

  - SERÁ QUE ELE ACORDARIA ?

E logo após a frase, que acaba comigo, e me lança em um mar de incertezas e a palavra é :

        -  PREDESTINADOS.

Não sei ao certo se estou acordada ou se voltei a dormir, mas aquela palavra me perturba, quem é o rapaz sem rosto, de tudo só tenho uma certeza : Estou confusa demais pra distinguir algo.