Respostas

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— Não!

A Resposta é dura, concreta, e quando ele fala, é absolutamente verdadeiro. Seus olhos exprimem completa dureza, e ao mesmo tempo, sinto que Mosés sente dor com a minha pergunta. Mosés desvia o olhar para o chão e passa a mão nos cabelos nervosamente, depois ele esfrega as faces e se aproxima de mim, fungando. Ele está chorando, me sinto mal por ter perguntado, e eu sei que ele me esconde algo por trás desse "Não".

— Onde você estava?

Ele fica parado a alguns centímetros da cama, muito próximo de mim, me olha e me olha, e percebo que Mosés parece completamente cansado, preocupado, muito diferente do homem que deixei hoje cedo na sala, brincando com seu novo presente.

— No seu prédio!— Sou sincera.

— Onde? Fui lá, Ana, não te achei!— fala com a voz trêmula e coloca as mãos nos quadris. — Por Deus, o que passa pela sua cabeça? Sabe o quanto ficamos preocupados?

Abaixo a cabeça e nego.

Tudo o que eu queria era poder ter voltado mais cedo, ter sido mais corajosa e ter respondido Safira, mas talvez, eu jamais consiga ser assim quando se trata dele, Mosés se tornou o meu ponto fraco muito rápido, é a pessoa na qual pode me atingir de toda e qualquer forma.

— Sua irmã me disse tantas coisas — respondo e limpo as lágrimas com força. — Ela disse tantas coisas nojentas.

— Safira?— pergunta confuso.

— Quem mais poderia ser? — respondo com outra pergunta.

— Ela... — Mosés parece meio pálido —, ela te disse isso?

— Sim, disse que você herdou o dinheiro de Bonnie Handerson porque era seu amante desde a adolescência...

— As coisas não foram assim, Ana — Mosés me interrompe —, eu não era amante de Bonnie.

— Pois, foi o que a sua irmã falou — digo sincera. — Ela disse coisas horríveis sobre mim, sobre você, fiquei tão magoada, queria sumir.

— Ana, a minha irmã está em Ibiza!

Eu o fito.

Mosés me olha abismado, depois percebo que ele está nervoso, e esse nervosismo é muito suspeito, porque se ele não devesse nenhuma explicação, ele não reagiria assim.

É verdade. Diz a vozinha em minha cabeça, meu bom senso.

E me arrepio toda dos pés à cabeça com a constatação.

Mosés foi sim, amante de sua mãe adotiva.

Ele dormia com a mãe desde os 12 anos de idade.

Ele dormia com ela por sua herança, assim como Safira falou.

Me levanto indignada e avanço para cima dele, ele mentiu para mim, ele me enganou, e dentro de mim tudo se rompe com força, uma força que novamente vem para destruir, mas quero quebrar algo, quero destruir algo, porque essa dor que cresce dentro de mim me sufoca de tal forma, que não consigo mais prendê-la.

— Mentiu para mim — berro, avançando para cima dele.

— Ana..., para! Para! — reclama ele, tentando segurar as minhas mãos.

— Me solta seu mentiroso, seu louco, seu nojento sem escrúpulos!

Avanço tentando me soltar, mas Mosés segura os meus pulsos, ele tem mais altura que eu — muito mais — e muito mais força que eu. Mosés solta os meus pulsos e me segura pelos ombros, ele me sacode, e as lágrimas novamente caem pelas minhas faces.

— Eu não fui amante dela!— berra me sacudindo. — Ela abusava de Mim, Ana! Ela abusava de mim!

Seus olhos estão cobertos de dor e suas mãos tremem, Mosés me solta e se afasta de mim, enfiando as mãos nos cabelos, percebo em meu choque ao ouvir essas palavras, que isso o magoou muito mais do que ontem.

Machuca ele ter que falar isso, machuca de uma forma que também o destrói.

Mas ainda assim, tenho medo de que talvez esteja inventando isso para me enganar.

— Está mentindo para mim...

— Gostaria de estar mentindo para você sobre ter sido estuprado pela minha mãe adotiva por sete anos da minha vida, Ana, mas isso, infelizmente, é a pura verdade. — Mosés corta, num tom severo.

Essas palavras me machucam e dói muito mais ouvir isso, do que ouvir o que Safira me disse pela manhã. Ele mal olha na minha cara, me dá as costas.

— Você não sabe o que eu sofri na minha vida, Ana, você não sabe metade de tudo o que aconteceu, sinto muito se foi isso o que lhe disseram, mas não é a verdade.

— E qual é a verdade?

— Bonnie me obrigava a dormir com ela sempre que Phill viajava, ela me obrigou a ter relações com ela durante sete anos...

— Sua mãe!

— Ela não era a minha mãe!— Mosés grita e eu recuo um passo, assustada. — Ela era um monstro, era isso o que ela era.

Seu descontrole é doloroso, suas mãos tremem e eu o vejo chorando, mas nenhum som sai de sua garganta, soluço, porque constatar isso é aniquilador, Mosés Handerson já foi abandonado, negligenciado e abusado sexualmente por seus pais adotivos.

— Não foi minha culpa— reclama choroso. — Você não sabe a preocupação que me deu o dia todo, Ana, não sabe o quanto eu a amo..., por favor..., apenas fique comigo!

Mosés evita me olhar e percebo que acima de tudo, ele está envergonhado. Estou tremendo, assim como ele. Me aproximo, meu coração está aos pulos, e dói mais dentro de mim, porque acredito nele, acreditar nele me deixa completamente suscetível.

Ele me dá as costas, e eu toco seus ombros sem saber exatamente o que falar, ele funga e se vira para mim, seus olhos cobertos por lágrimas me fitam.

— Não foi minha culpa!— repete rouco, a voz interrompida pelo choro. — Eu não queria..., eu não queria!

Toco sua face e Mosés se agarra a mim como uma criança pequena, que precisa tanto de um pouco de paciência. Respiro fundo e eu o abraço de volta.

Não importa o que Safira falou, o que importa é o que Mosés fala.

Eu acredito nele.

Eu o amo demais para não acreditar.



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Garota G.G II (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora