Capítulo 5

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Felipe

Me viro de um lado para o outro, estou deitado em minha cama a mais de uma hora e não são nove da noite ainda, mas pelo meu cansaço eu ja deveria ter capotado.

Sei exatamente o motivo das minhas noites mal dormidas - excesso de trabalho, não tenho uma rotina normal de sono, durmo quando aparece um tempinho vago entre um plantão e outro, sei que não deveria fazer isso, mas gosto do meu trabalho e não me vejo fazendo outra coisa.

Me levanto abruptamente, vou ao banheiro, jogo um pouco de água no rosto. Meu reflexo está lamentável, as olheiras estão presentes em meus olhos, barba crescendo muito rápido e os cabelos estão desalinhados e sem corte.

Meu corpo até que está bom, ainda tenho músculos apesar da minha  alimentação péssima, a nutricionista que analisasse meu diário alimentar sofreria um enfarto do miocárdio.

A população pensa que por sermos da área da saúde seguimos tudo a risca - ledo engano​, faço o possível de acordo com a minha rotina.

Se eu malho todos os dias? Não, porém uso as escadas do meu prédio para ir e vir do meu apartamento.

Nunca tive uma vida fácil, pais ausentes devido ao respectivos trabalhos. Nunca faltou comida na mesa, contudo uma criança precisa da atenção dos pais.

Minha mãe era secretária em um escritório de advocacia e meu pai...ele era o dono do escritório, foi assim que eles se conheceram.

Mesmo tendo dinheiro nunca tive tudo de mão beijada. Queria uma bola nova, tinha que manter meu quarto arrumado; passear ao fins de semana com minha tia e meus primos, deveria deixar a lição de casa pronta e ter um comportamento excepcional na semana.

Sou o reflexo da educação que recebi, alguns diriam que sou um cavalheiro, mas eu me defino como um homem maduro.

Tenho um irmão mais novo e ele cursa direito por influência do meu pai é claro, "um grande império precisa de um grande administrador" diz ele, no caso um grande advogado.

Esse cargo nunca foi meu, podem fazer a birra que for: ameaçar, brigar ou seja lá o que passe na cabeça ddosque me deram a vida, ficar enfurnado em uma sala lendo todas aquelas leis, analisando processos e defendendo pessoas em tribunais definitivamente não é pra mim.

Gosto de salvar vidas, cuidar do bem estar das pessoas e saber que faço parte  daquele sorriso de "ufa, está tudo bem", não tem dinheiro que pague esse sentimento de dever cumprido.

Sim, nasci para ser médico e modéstia a parte sou bom no que faço, pois do contrário pediria demissão e não me arriscaria a atender ninguém.

Meu irmão é 5 anos mais novo que eu, diferente de mim ele tem olhos azuis, usa uma barba rala, cabelos curtos e castanhos assim como os meus. Eduardo parece comigo mas definitivamente nossas personalidades são distintas, aquele peste é brincalhão, extrovertido, bagunceiro e sonha alto, sou mais sério e centrado do que meu irmão.

Ouço meu celular apitar com uma notificação de mensagem.

Seco minhas mãos na toalha de rosto e vou ao encontro do aparelho que por sinal deve estar em Nárnia.

Reviro o quarto e o encontro dentro do bolso da calça que usei no hospital hoje, verifico o visor e abro a mensagem.

Falando no pirralho olha ele dando o ar da graça.

- Ei doutor, por acaso teria um tempinho disponível para o seu irmão? - lá vem bomba,quando esse moleque começa assim é melhor se preparar.

- Depende de como esse tempo seria usado, caçulinha - dou um sorriso bobo ao enviar a mensagem.

- Doutor você é um porre, vamos tomar umas geladas, curtir o fim de semana e aproveitar o tempo - releio a mensagem várias vezes incrédulo.

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