O Sonho

110 6 0
                                    

________________________________

†۞†

Eu estava afundando num azul tão profundo, uma imensidão me engolia. E a única coisa conseguia enxergar, eram meus braços e pernas borrados pela água. Meus cabelos compridos e negros faziam uma sombra viva no auto do meu campo de visão, e ao fundo pude enxergar o sol, tão distante, tão pequeno tão frio, que cintilava a água pela superfície.
E eu estava cada vez mais longe dele, cada vez mais submersa na escuridão. Quando de repente o sentimento de pânico tomou conta de mim, eu comecei a me debater sem saber o que realmente estava acontecendo. Sentimento de perseguição, alguém estava atrás de mim. Como? Estava aflita. O medo ardia meus pulmões. O horizonte era uma infinita escuridão agora. Até que foi surpreendida por uma voz suave, confortante e masculina :

- Fique calma, logo tudo estará bem, Luiza... Luiza... Luiza...
- Luiza, acorda! Já são 6:40 você vai se atrasar logo no primeiro dia!!-

A pior coisa de ser acordada assim é ser acordada numa segunda feira, primeiro de agosto, depois das férias. O frio estava invadindo o quarto por frestas invisíveis na janela. Meu humor estava sendo interpretado pelo meu cabelo naquela manhã. E, para concluir, escola nova! Nada melhor do que ser o novo alvo de pessoas desconhecidas.
Depois de minha mãe dar autos berros às 6 da manhã, finalmente estava pronta. Estava usando calça preta e camisa de algodão branca de colarinho com um símbolo bem visível da Sancti Oscar Albertine. Meus cabelos compridos até a bacia faziam uma cascata de cachos, ainda úmidos. No topo da cabeça, cachos grossos, negros e volumosos, que iam diminuindo num degrade até ficarem na grossura de um dedo mindinho em espiral. Eles cobriam boa parte do meu rosto redondo, deixando uma parte das minhas bochechas cobertas por cachos.
- Vamos Lu!!! -
- Calma, já estou descendo - descia correndo com uma mochila que pesava um cadáver, trombando no corrimão das escadas.
- Finalmente! Pensei que tinha desistido.-
- Ha ha - uma risada de deboche saiu dos meu lábios.
- Estou quase - disse pisando nos últimos degraus das escadas, quase tropeçando.
Ela se aproximou. Deslizou docemente a mão em meus cabelos até o ombro, com um sorriso doce de uma mãe.
- Seja forte minha filha. Pensamentos positivos - me deu um beijo na testa.
- Obrigada, mãe. -
- Agora vá. Me avisa quando estiver voltando para casa. -
- Certo. - Caminhei até a porta mas...
- Luiza! -
- Oi. -
- Está levando blusa? -
- Sim mãe. Tchau.
- Tchau. Vê se não vai esquecer a blusa de novo, igual você fez na última escola. Ah! E se eu não estiver aqui, esquenta o arroz do jeito que a mamãe te ensinou. Tem mistura na geladeira tá? Beijos mozuco. Vai com Deus. -
- Tá mãe. Bom trabalho para senhora.- quando finalmente fechei a porta ainda dava para ouvir alguns gritos de despedida dela.
Tudo era tão quieto e arborizado do lado de fora, um horizonte de casas, uma mais exuberantes que a outra. Ao longe dava para ver uma floresta com altos pinheiros com uma mistura de floresta tropical. Dava para ver a ponta de três pinheiros, e o nascer do sol tão alaranjado que dominava todo o leste no céu azul claro é limpo.
Eu enchi os pulmões com ar fresco dominado pelo orvalho, enquanto minhas costas era abraçada pelos raios mornos do sol. Acho que não vai ser difícil me acostumar aqui... Mas... que horas deve ser.
-Ah meu Deus! Já são 7:00h!
Com passos rápidos, estava saindo da área residencial para uma pequena avenida que estava pouco movimentada, a escola era escondida atrás de árvores, e para ir até lá, tinha que passar por toda a avenida, ruas residenciais, até passa por um caminho herborizado. Mas me lembrei de um atalho que minha mãe mostrou em algum dia nas férias. Era um bosque de terra batida a poucos metros de mim. Logo na entrada; um corredor longo de árvores de diversos tipos: frutíferas, com exuberantes flores e outros apenas exibindo seus galhos. No chão, folhas acumuladas nas raízes, misturadas uma com as outras, e acima de mim: galhos secos iluminados pelo sol. E ao fundo o céu com uma pigmentação um pouco mais escura e viva, e com algumas nuvens agora. Era uma sensação boa todo aquele trajeto de alguma forma. À minha frente. Eu não tinha reparado por causa da distância. Mas havia uma encruzilhada, com longos corredores de árvore, e me lembrei do aviso da minha mãe. O caminho agora à prosseguir é do meu lado esquerdo, sentido Oeste da encruzilhada.

Finem MortuorumOnde histórias criam vida. Descubra agora