Tentativa de Fuga Fracassada

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"Existem partes de nós que queremos esquecer, esquecer da dor, do sofrimento e dos machucados. Mas o certo não é esquecer, o certo é seguir em frente e mostrar de fomos mais fortes do que aquilo que nos feriu" - Natasha Ribeiro.

Meu pulso se encontrava vermelho pela força das mãos de meu pai ao me puxar pela rua. Chegamos em frente a porta de entrada do nosso "lar do horror" e ele soltou meu braço com raiva e procurava qual das dezenas das chaves era a certa, sua respiração era ofegante e transpirava ódio, e finalmente quando ele abriu a porta, senti meu corpo sendo empurrado com força para dentro, e enquanto ele trancava a porta eu me afastava andando para trás lentamente e olhando para ele, ele me olhava de volta e vinha em minha direção com raiva, seus passos eram curtos e sua respiração alta, meu medo aumentava  a cada passo dado por ele, senti meus passos sendo bloqueados por algo atrás de mim, e quando me virei para ver o que era, e voltei meu olhar para ele em questão de segundos, senti meu rosto queimar e meu corpo ser arremessado ao chão, o canto de minha boca sangrou, não me contive e chorei, sua mão se encontrava vermelha pelo tapa que havia me dado, meu rosto estava quente e minha mão estava no canto de minha boca enquanto eu chorava e tentava me levantar. Senti uma dor mais forte, só que desta vez em minhas costas, ele estava me chutando sem parar, e eu me arrastava pela sala tentando achar algo do qual eu pudesse usar para me defender, mas ele me chutava muito forte e eu chorava na mesma intensidade.

- Para... por favor - supliquei com uma voz de choro e ela saiu meio falhada por conta da falta de força.

- POR QUE MELISSA? POR QUE IA ME ABANDONAR? O PAPAI TE DAR TUDO O QUE VOCÊ QUER E AINDA DECIDE FUGIR?

Ele gritou com um tom de raiva enquanto me chutava. Eu já havia parado de me arrastar pois não aguentava fazer mais nenhum movimento, senti ele parar e o corpo dele se aproximar de mim, ele se abaixou e sussurrou em meu ouvido:

- Você não entende? Pode fugir, ir para onde quiser que eu te encontro, pode ligar para a polícia, para qualquer um, mas você não vai encontrar lugar seguro enquanto eu estiver aqui! E da próxima vez que tentar fugir, eu te mato. - E após dizer tais coisas ele me olhou e sorriu para mim, e meu único olhar passava tanta coisa, dor, medo, raiva, ódio, vingança... E logo depois ele me pegou no colo e me sentou no sofá - Olha só o que o acidente de bicicleta fez com você minha princesa, papai falou que não era para passar naquela rua movimentada, a sorte é que não se machucou tanto, deixe papai cuidar disso.

Olhei-o confusa enquanto ele caminhava em direção a estante e tirava de dentro de uma porta uma caixa de plástico branco com vermelho, era uma caixa de curativo, ele se sentou do meu lado no canto direito do sofá e passava um algodão molhado no canto de minha boca limpando o sangue, ele parou e acariciou o meu rosto e sorriu para mim, virei-me um pouco para o lado evitando seu toque, e pensava em como seria bom se ele morresse, eu não lamentaria nem sequer por um segundo se alguém tivesse a boa vontade de mata-lo, e a cada minuto que eu passava ao lado daquele monstro eu me sentia cada vez mais cheia de coisa ruim, cheia de ódio, rancor, vingança e medo, sentia muita vontade de desabar em lágrimas, mas eu estava aprendendo a me conter e segurar o choro, pois eu sabia que não havia ao menos um pingo de amor dentro daquele homem, não havia compaixão nem sofrimento, eu conseguia ver uma pessoa vazia, uma pessoa que sabe fingir bem para as outras, mas que no fundo nem sabe exatamente quem é, meu medo era me tornar como ele, uma pessoa sem amor nem compaixão, nada além de ódio e vingança, comecei a aprender que chorar não iria mudar nada, ele não iria parar de fazer comigo o que ele havia começado, e nada iria impedi-lo de continuar. Minha tentativa de fuga poderia ter falhado, mas eu não ia desistir de me ver livre daquele homem!

Enquanto meus pensamentos estavam longes, senti ele me cutucar trazendo minha atenção de volta para ele, então pude sentir a enorme dor enquanto ele passava uma pomada desconhecida por mim nas feridas que seu sapato esportivo tinha causado em minhas costas.

- Querida, sei que está um pouco cansada e eu também estou, foi um dia exaustivo para ambos, por tanto meu bem, hoje não terá "festinha" em seu quarto, eu sei, eu sei, sei que você queria mas papai está exausto, vamos dar um tempo esta noite, a não ser que queira fazer um pequeno serviço de agrado ao papai.

Me virei para olha-lo melhor e ele me olhou maliciosamente abaixando seu olhar para sua calça que já se encontrava com um alto volume, acompanhei seu olhar e não havia entendido o que ele queria que eu fizesse, então o olhei confusa.

- Quer agradar o papai hoje? - ele perguntou sorrindo piscando para mim e eu disse "não" com a cabeça, virando meu rosto e segurando o choro.

- Tudo bem querida, você ainda vai fazer o que eu quero!

Ele afirmou se levantando e guardando a caixa de volta no lugar. Eu vou me vingar dele, não importa como, mas ele não irá me tocar novamente.

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