Terceiro dia...

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Terceiro dia...

Desperto em minha cama. Olho para os lados e não a vejo. Dessa vez vou ao banheiro e lavo meu rosto, para não ter dúvidas de que não estou sonhando. Olho-me no espelho, e tudo parece estar bem. Nada fora do lugar.

Saio do quarto, caminho para a cozinha. Alicia deve estar preparando nosso café. Na cozinha, não a encontro.

--- Alicia? Onde estas? – não escuto retorno – Alicia?

--- Estou aqui fora, na varanda – ela responde.

Encontro-a observando o horizonte como em meu sonho. Ela afasta um pouco no banco e indica o lugar a seu lado. Aceito sua oferta e a entorno com meus braços.

--- O que faz aqui fora?

--- Pensando apenas – diz e me olha – lembra-se de nosso primeiro encontro?

--- Claro que sim! Como esquecer a imagem mais linda de toda a minha vida – falo lembrando exatamente como aconteceu.

Eu estava fotografando em meu local predileto: em baixo de uma árvore situada bem no meio da praça, de lá podia ter uma visão de toda ela. Foi quando Alicia passou por mim e sentou-se em um banco próximo. Ela lia Razão e Sensibilidade de Jane Austen. Impossível não admirar sua imagem em contrate com o por do sol que eu estava fotografando antes dela chamar minha total atenção. Fiz diversas fotos suas, esquecendo totalmente de meu propósito de estar ali.

Enquanto estava concentrado em fotografá-la, seu olhar levantou e direcionou aos meus no exato momento que consegui captar todo o mistério que eles carregavam. Apaixonei-me naquele instante por Alicia.

Tomei coragem e me aproximei, com a desculpa de mostrar-lhe  as imagens que captei dela. Soube naquele instante que seria incapaz de me afastar.

--- Eu também me apaixonei naquele instante – disse ela, me observando profundamente, como se conseguisse ler minhas lembranças.

--- Por que quer me deixar? – pergunto segurando seu rosto – Não me deixe só, aqui.

--- Você nunca estará sozinho... – sua voz está tranquila – você tem muito que fazer. Seus pais, irmãos, amigos. Todos estão a sua espera.

--- Mas e você? Eles também a esperam – digo tentando  convencê-la a voltar comigo, seja lá para onde.

--- Eles sabem que não voltarei. Mas você, sim! Eles o esperam para continuarem seus caminhos.

Minha cabeça começa a doer e as lembranças invadem minha visão, como se estivessem esperando para explodir a qualquer momento.

Estava dirigindo para casa naquela noite. Estávamos voltando do restaurante, no qual comemorávamos nosso terceiro ano de casados. Alicia estava linda em seu vestido preto de mangas longas. Ela sempre ficava maravilhosa em tudo que vestia.

As ruas não estavam tão movimentadas naquela noite, eu dirigia em velocidade baixa. Ela me pediu que reduzisse para olhar a linda lua que fazia naquela noite. As estrelas pareciam tão brilhantes.

Parei no sinal vermelho de um cruzamento. Aproveitei para olhar para Alicia, fiquei a admirando durante o tempo que o semáforo demorou a abrir. Ela então sorriu e disse que já podíamos ir. Acelerei ainda a observando. Somente consegui ver uma luz forte ofuscar toda a imagem de Alicia. Depois, tudo se tornou escuridão.

--- Não... Não... – Não consigo pronunciar mais nada. Olho a imagem de Alicia brilhando – Não...

--- Você precisa dizer... – sei exatamente o que ela quer – Fale meu amor!

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