A Garota Nova

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Seguimos no Lata-velha até o estacionamento da escola com a marcha no ponto morto, esperávamos passar pela secretaria sem ninguém nos perceber. Ainda chovia muito, quando entramos na escola estávamos ensopados e nossos tênis faziam um barulho muito alto.

– Lauren Jauregui! Dinah Jane!

– Atrasadas logo no primeiro dia de aula. Sua mãe com certeza vai usar algumas palavras muito bem escolhidas com você, Senhoria Jane. E desfaça já essa cara de superior, Lauren Jauregui. Amma vai te dar uma surra.

A senhorita Hester estava certa. Amma saberia que cheguei atrasada em uns cinco minutos, isso se ela já não estivesse sabendo. As coisas eram assim por aqui.

– Senhorita Hester, eu só vim dirigindo devagar por causa da chuva - Dinah tentou. A senhorita Hester olhou para Dinah nada simpática.

– Não tenho tempo para conversar com vocês agora. Estou muito ocupada escrevendo seus bilhetes de detenção.

Sei... "muito ocupada". Deu pra sentir muito bem o cheiro do esmalte dela antes de dobrar o corredor.

Primeiro dia de aula, nunca muda. Os professores já tinham escolhido quem era burro e quem era inteligente no jardim de infância. Eu era inteligente porque meus pais eram professores universitários. Como eu era inteligente sempre recebia boas notas nos trabalhos, já Dinah recebia notas ruins. Acho que na verdade ninguém nem se dava ao trabalho de ler. As vezes eu escrevia coisas sem sentido das minhas redações só pra ver se algum professor percebia ou falava alguma coisa. Ninguém nunca disse nada.

No primeiro tempo, tive aula de Inglês e descobrir que minha professora de quase 700 anos de idade, tinha mando a gente ler " O Sol é para Todos" durante o verão, então me dei mal na primeira prova. QUE MARAVILHA. Eu já tinha lido esse bendito livro há uns dois anos atrás. Ele era um dos livros que minha mãe mais gostava. Porém eu não lembrava dos detalhes, então não adiantou muita coisa.

Uma informação que quase ninguém sabe sobre mim: Eu leio o tempo todo. Eu tenho um mapa na parede, e toda vez que eu leio sobre algum lugar que eu gostaria de conhecer, eu faço uma marcação. As vezes eu fazia uma linha para ligar os lugares marcados. Uma linha verde fina que eu iria numa viagem de carro no verão antes de ir para faculdade. O mapa e a leitura era um segredo só meu.

Na aula de química não foi a melhor. O professor me amaldiçoou escolhendo Emily para minha parceira de laboratório. Ela era bonita, mas só isso. E olhar para ela não compensava ouvir o que ela falava. Eu queria alguém diferente, alguém com quem eu pudesse conversar sobre outras coisas, além de festas e coroações no baile de inverno. Uma garota inteligente ou engraçada, ou pelo menos uma parceira de laboratório melhor.

Talvez uma garota assim seja um sonho, mas um sonho é melhor que um pesadelo. Mesmo se o pesadelo usasse saia de líder de torcida.

Consegui sobreviver à aula de química mas pelo visto eu ia ter aula de História Americana de novo esse ano. Eu passaria o segundo ano consecutivo estudando a " Guerra da Agressão Norte" com o senhor Lee. O senhor Lee era um dos únicos professores que me odiava. Por causa de um desafio ano passado eu tinha feito uma redação chamada "Guerra da Agressão Sul" e ele me deu um D. Acho que alguns professores liam sim as redações as vezes.
Sentei ao lado de Dinah que estava copiando a matéria da aula passada na qual ela estava dormindo. Quando sentei ela parou de escrever.

– Laur, você soube?

– De que?

– Tem uma garota nova na Jackson.

– Tem várias garotas novas, uma turma inteira do 1º ano, sua idiota.

– Não estou falando das garotas do 1º ano. Tô falando que tem uma nova no nosso ano.

Em qualquer outra escola é normal entrar uma garota nova no 2º ano. Mas estamos na Jackson.

– Quem é ela?

– Não sei. Tive aula com todos os nerds da banda, e eles não sabem nada além de que ela toca o violino ou algum instrumento assim. Queria saber se ela é gata.

–Então ela é nerd? e está na banda?

– Não. É musicista. Tomara que tenha o mesmo amor por música clássica igual à mim.

– Música clássica?

– É, você sabe, os clássicos. Pink Floyd. Black Sabbath. Os Stones.

Comecei a rir.

Assistimos a aula, e depois que acabou ficamos um tempo no corredor conversando e esperando a tal garota nova passar, só que ela não passou então fomos para próxima aula de LSA, linguagem de sinais Americana, e falar era rigorosamente proibido. Logo após o termino da aula fomos almoçar. Como Dinah jogava basquete ela sempre sentava na mesa com os jogadores e as líderes de torcidas, e como a gente é amigas e sempre almoçamos juntas passei a sentar na mesa dos "populares" com ela. E o assunto na mesa era a garota nova. Até que chegou Savannah e Emily as duas são líderes de torcida, as duas eram como o padrão de beleza daqui da escola.

– Vocês souberam da garota nova?

Savannah sentou no colo do capitão do time de basquete, que era seu namorado. Ele passou a mão pelas penas alaranjadas dela tão alto no coxa a ponto de nós não sabermos para onde olhar.

– Disseram que ela é gata. Vão chama-la para participar da equipe?

– Impossível. Você está falando isso porque não viu o que ela está vestindo.

– E como ela é pálida.

Emily sentou e inclinou-se sobre a mesa.

– Disseram pra você quem é ela?

– O que isso quer dizer?

Emily parou e fez um suspense antes de continuar.

–Ela é sobrinha do Velho Ravenwood.

Macon Melchizedek Ravenwood era o recluso da cidade. Ele morava em uma casa velha em ruinas, na fazenda mais antiga e mais assustadora de Gatlin, e pelo o que dizendo ninguém não o via há muito tempo.

– Está falando sério? - Perguntou Dinah.

– Completamente.

E ai todos continuaram a falar dela, das roupas, dos cabelos, do seu tio, e do quanto ela devia ser esquisita. Era isso que eu odiava aqui, o fato de todo mundo sempre tinha algum para dizer sobre tudo o que você falava, fazia ou nesse caso, vestia.

Dois anos, oito meses e a contagem regressiva continua. EU PRECISO SAIR DESSA CIDADE.

Depois da escola a chuva tinha parado. Então Dinah e as outras meninas que jogavam basquete foram jogar enquanto eu assistia sentada nessas arquibancadas.
Um tempo depois olhei para o estacionamento e vi um emaranhado de cabelos castanhos e compridos atrás do volante de um longo carro preto.

Era o mesmo carro de hoje de manhã. O carro de funerária. Fiquei paralisada.

Quando ela virou-se, pude ver uma garota olhando em minha direção. Pelo menos pensei ver. Quando o carro se afastou, olhei em direção a quadra e todos os meninos pareciam ter visto fantasma.

– Aquela era...? - Alguém falou.

– A sobrinha do Velho Ravenwood. - Um dos jogadores respondeu.

– É. Exatamente como falaram. Dirigindo o rabecão dele.

– Ela é gata mesmo. Que desperdício.

Eles voltaram a jogar, só que de repente começou a chover novamente. E eu fiquei lá de pé deixando a chuva acabar comigo. Meu cabelo estava molhado e caia sobre meu rosto.

Meu mau presságio não era apenas por causa do rabecão. Era uma garota.

Por alguns minutos me permitir ter esperanças, de que alguma coisa fosse mudar. Que talvez eu tivesse alguém com quem conversar. Alguém que realmente me entendesse.

Dezesseis Luas - Versão CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora