Capítulo 2 DEGUSTAÇÃO

2.4K 378 16
                                    

  DISPONÍVEL NA AMAZON https://goo.gl/uEiBGB  

Com os acontecimentos dos últimos dias, Fernanda nem teve tempo de ir ao orelhão mais próximo e ligar para a vizinha de casa que possui um telefone para avisar sua mãe que estava retornando para casa.

Desceu na rodoviária e suspirou ao ver que ainda tinha um bom caminho até chegar a zona em que morava. Por mais que a cidade fosse pequena, ainda tinha locais, como o que sua mãe morava, que se distanciavam muito do pequeno centro que a cidade possuía.

Pegou a sua mala e enquanto outras pessoas carregavam as malas nos táxis parados, ela só olhou para a bagagem e esperou que a sua alça não arrebentasse no meio do caminho. E assim começou a sua jornada para casa.

Fez o seu trajeto sem levantar os olhos do chão. Até porque, assim que colocasse os pés no bairro de casa, sabia que os falatórios começariam. Um dos motivos de ter saído de casa era esse. Simplesmente não suportava a conversa no final das tardes de verão onde as comadres sentavam-se embaixo das árvores de casa e começavam a comentar a vida de todos que moravam na cidade.

Fulano brigou com fulana no meio do baile semana passada. O ciclano, será que está doente, vi ele novamente na farmácia essa semana! E a filha da lavadeira que saiu de casa para trabalhar na cidade grande e voltou para casa. Dizem que ela está grávida. Se meteu com o filho do patrão e ele deu um pé na bunda dela.

Teoricamente, isso era o que menos a incomodava. Ninguém realmente sabia o que acontecia dentro da sua casa, e muito menos todos os trabalhos que a sua mãe passou para nunca deixar que faltasse alguma coisa. Porém, o que a incomodava seria a falação que colocasse a sua mãe no meio da roda de conversa. Isso era um desgosto completo para Fernanda.

A culpa era totalmente dela. Completamente sua. Ninguém pode arcar com ele assim como a própria Fernanda. Ela que não conseguiu se conter e acabou caindo no conto mais antigo do mundo. Onde já se viu, Fernanda? Acreditar nas palavras vagas de um homem que tinha um império nas mãos enquanto ela mal tinha o que comer na volta de casa.

E por essa simples, mas potencialmente problemática situação, quem seria taxada de péssima mãe, que não deu a educação que ela precisava, que ao invés de ficar em casa cuidando da filha, batia de casa em casa atrás de roupas para lavar em trocas de migalhas e mal tinha educação para ensinar a filha, seria a sua própria mãe.

Por isso que eu voltei para casa. Ainda tenho uma decisão a tomar, não é? Preciso da opinião da minha mãe para saber o que eu faço da minha... nossa vida. Eu não me importo de ser taxada como vadia e outras coisas, tenho a minha consciência limpa por conta dos meus erros e vou assumi-lo. Independente de qual estrada eu irei seguir daqui para a frente.

E com isso em mente, seguiu arrastando a sua mala até a porta da sua casa. Não era nem um cômodo da que ela trabalhava, e a nem perto da luxuosidade que aquele possuía, mas em compensação, era um lugar mágico. Todas as vezes que entrava dentro de casa, era como se uma onda de amor entrasse pelo seu corpo. Deixando assim, todos e qualquer mal que alguém poderia lhe rogar.

Dessa vez não foi diferente. Sentou o peito se apertar de uma forma tão aconchegante que instantaneamente ela se sentiu-se em casa. Pode respirar sem a pressão em cima dos ombros e os problemas pareciam que ficaram no lado de fora da porta de entrada. Comportados e esperando a oportunidade de entrarem na casa para serem discutidos. Nesse momento, ela queria apenas os braços da sua mãe e o cheiro de sabão em pó característico que ela possuía.

Não precisou nem adentrar muito para sua mãe perceber a sua presença.

– Fernanda, o que aconteceu, minha filha?

Ponto e Vírgula DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora