Não era possível que mesmo aquilo tudo não tenha feito Liz pensar no Natal de uma forma melhor. Pensar no outro como algo bom. Meu Deus, eu estava junto à ela a quase um ano e ela não mudara em nada.
Somos completamente diferentes, e mesmo assim ela me atrai. Aquele jeito rebelde e revoltado de viver a vida era algo que me fascinava. Como mal pude conversar com ela na noite passada por conta de sua súbita raiva, hoje levantei cedo, fui ao mercado e comprei as coisas das quais ela mais adora. Tenho uma cópia da chave da casa dela, sendo assim entrei sorrateira e silenciosamente e preparei um belo café da manhã, com seu suco de laranja natural, frios, biscoitos e pães. Fui até seu quarto, como ela era linda, até mesmo de cabelo bagunçado, me aproximei da cama e dei-lhe um beijo na testa fazendo-a acordar com um leve suspirar.
- Bom dia, flor do dia. - eu sabia que corria sério risco de ser atacado com o sapato dela por tê-la acordado mas isso valeria a pena quando ela chegasse na cozinha.
- Bom dia. - murmurou ainda tentando se situar no quarto. - por favor, diga que já são dez horas da manhã.
- Não, são exatamente... - puxei o celular do bolso para certificar-me - oito e sete.
- Tenha um motivo muito bom pra me acordar. - ela falou levantando e indo em direção ao banheiro, ah, aquela silhueta.
- Que dia é hoje? - encarei-a com olhar instigante e sai do quarto. Ela me seguiu após escovar os dentes, como o esperado e alí estava, a nossa comemoração de onze meses de namoro.
- Flávio, meu amor... que lindo! Eu te amo. - disse virando-se para mim. Eu a puxei pela cintura para que ficasse mais próxima de mim e beijei-a, como s e aquele fosse nosso último dia juntos, pretendia beija-la assim sempre.
- Também te amo. Mas estou faminto e sei que você também está.
Ela se sentou e eu servi um pouco de café puro como ela gosta.
- Isso aqui está uma maravilha. Compensa o que você fez comigo.
- Mas eu não fiz nada, Eliza. Chamei você para jantar e tinha um jantar. Bem, não vamos mais falar nisso. O que você comentou do seu chefe ontem?
- Mas um jantar com aquelas pessoas? - me doía quando ela falava desta forma das pessoas que eu gostava de cuidar, de ajudar, mas nunca falava nada. - Ah, aquele cara é maluco! Ele disse que vai dar um Bônus de Natal aos funcionários.
- Isso é ótimo, Liz. - falei com empolgação, ele vivia reclamando que quase não sobrava nada do salário.
- Ótimo nada. Ele quer que nós conquistemos o bônus. Temos que fazer uma espécie de boa ação para ganhar a bonificação.
- Legal. O natal é a data perfeita para isso. Apesar de que em todo canto tem gente precisando de ajuda. - falei mordiscando meu pão.
- Não gostei nada dessa ideia, é ridícula. - largou seu mamão e foi em direção a sala. - não tenho cara de Madre Tereza para tá ajudando os outros por aí.
- Você não precisa fazer um mega jantar para fazer algo bom. - tentei fazê-la entender.
- O jantar! Como fui tão burra? - ela me encarava, mas não conseguia decifrar seu rosto.
- Não entendi. O que tem o jantar? - perguntei sem saber o que aquilo tudo significava.
- O jantar, se eu tivesse ficado, poderia tirar algumas fotos com aquelas pessoas e mandar ao meu chefe. Como fui idiota! - eu não acreditava no que ouvia. - Fá, quando vai ter outro jantar desse? - perguntou-me com aquele olhar penetrante e meigo.
- O que?! Você só pode estar brincando, Eliza. Os jantares que damos não é pra posar para mídia. É para fazer o bem! - a raiva tomava conta de mim de uma forma que nem eu mesmo a conhecia.
- Mas o que custa você me ajudar com esses jantares?
- O que custa? - indaguei, ouvindo minha própria voz se elevar. - Custa a lealdade com você, com as pessoas ao seu redor. Não ajudarei você em nada disso. Você sabe por que eu ajudo essas pessoas, você tem que procurar a sua boa ação. E até lá, não me procure.
Peguei minha jaqueta e o capacete, adentrei estrada a fora precisando sentir o vento gelado na face, esperava que isso ajudasse minha raiva se dissipar.
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Maldito Bônus Natal
Short StoryEliza trabalha em uma empresa de publicidade, e odeia o seu chefe por sempre lhe dar trabalhos pequenos enquanto ela pode fazer muito mais, era uma das melhores em sua turma. Este Natal foi o ápice para ela, onde ele estava com a cabeça? Capa feita...