Eliza

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Não podia acreditar naquilo! Já não bastava eu ficar com as piores publicidades da empresa, e ter que passar horas esperando aquela maldita reunião, meu chefe ainda surge com o "Bônus de Natal". Eu sei que você deve estar pensando: que isso é ótimo, um dinheiro a mais na minha conta e tudo mais, só que não é bem assim, eu vou ter que merecer essa bonificação.

Segundo o meu brilhantíssimo chefe, ele dará um bônus de  reais para quem fizer uma boa ação. Não uma boa ação qualquer, como dar roupas e sapatos velhos pra doação, mas que deveríamos de fato entrar no espirito natalino e mudar a vida de alguém.

- Esse cara é maluco! - murmurava dentro do meu carro enquanto esperava o sinal abrir. - Eu odeio o natal, não sou apta para o "espirito natalino" desse cara.

A neve voltara a cair, tornando a camada no chão ainda mais grossa. Precisava chegar em casa, tomar um banho quente, uma boa xícara de chá e fazer uma bela maratona de séries para comemorar a chegada do fim de semana.

Segui meu plano à risca até ser vencida pelo cansaço e adormecer no sofá da sala. Acordei na manhã de sábado renovada. Pretendia sair às compras, fazer unhas e cabelos, ficar linda para ver meu namorado, Flávio, que prometera me levar para jantar hoje.

☃☃☃

Chegada à noite, já estou pronta usando uma calça preta e uma blusa azul roial e botas também pretas, e uma pilha de nervos esperando que meu namorado chegasse, depois de deixar inúmeras mensagens em seu celular, resolvo sair e procura-lo. Pego as chaves de casa e do carro, coloco um casaco e saio. E que droga! A neve estava grossa demais para sair de carro. Decido então ir andando, e rezando para não encontrar meu namorado naquele lugar onde distribuem sopa para os mendigos da cidade.

Vou em seu apartamento e ele não está lá, como já era esperado, tento no hospital, talvez ele ainda estivesse no plantão mas a recepcionista falou que ele havia saído mais cedo naquele dia.

Por que raios eu não trocara de sapatos? Aqueles saltos estavam me matando. Vencida pelo cansaço saio em direção ao centro comunitário que ele costuma ir, e lá estava ele, com um sorriso genuíno nos lábios, o cabelo negro caindo sobre os olhos. Não! Aquele jeito dele não tiraria toda a minha raiva de encontra-lo alí.

- Meu amor, que bom que você chegou. Já estava ficando preocupado com a sua demora. - falou vindo em minha direção para me beijar, no qual com a mesma rapidez virei o rosto e cruzei os braços. - o que houve?

- Você houve. - respondi entredentes. - se você não lembra, marcou um jantar comigo hoje.

- Sim marquei, e quando sai do plantão mandei uma mensagem pra você vir para cá. Nos ajudar, e depois teríamos um ótimo jantar.

- Você sabe que estou sem internet, e sabe que eu odeio pagar de boazinha nos cantos, já basta meu chefe com o tal bônus de natal, que eu quero muito, mas não tô afim de fazer qualquer boa ação. E aqui não terá um ótimo jantar, quero meu restaurante preferido. - protestei.

- O quê? Venha, Liz, vamos entrar, está congelando aqui fora. - ele me abraçou aquecendo meu corpo e conduzindo-me para dentro.

Para a minha surpresa de fato tinha um jantar magnífico lá dentro, com direito a carnes, frangos, patês, sopas. Nossa, o aroma era delicioso.

- Uau! Isso aqui está lindo. - falei enquanto ele puxava a cadeira para que me sentasse em um dos cantos.

- Realmente ficou bom, não? - ele sentou-se à minha frente e pegou minhas mãos que ainda se encontravam geladas. - decidimos reunir nossos apoiadores e fazermos esse jantar hoje. Sabemos que ainda faltam duas semanas para o natal, mas preferimos já nos adiantar e dar uma ceia digna àqueles que não têm nada.

- Espera, vocês fizeram tudo isso só para os moradores de rua? - eu olhava em volta e não podia acreditar em como eles gastaram tanto dinheiro, e tanta comida para dar aos miseráveis que importunavam-nos nas ruas da cidade.

- Não, não. - Flávio riu como se o que eu havia falado fosse um absurdo. - também para as crianças órfãs da casa das irmãs, e para os deficientes do centro de reabilitação. As crianças até fizeram um coral para apresentar hoje.

- Vocês não têm juízo mesmo. Que ridículo! E eu aqui achando que seria um jantar de gala, e que estava mal vestida para tal coisa. - levantei-me ainda mais enfurecida do que havia chegado. Como ele pudera ter me trocado por pessoas qualquer, sem futuro algum, e que não tem nada de bom para dar ao mundo?

Quando cheguei à porta uma onda de gente invadiu o local, crianças saltitando e correndo, cadeirantes sendo empurrados pelos mendigos. Eles não paravam de chegar, todos tinham cara de esfomeados. Sabia que Fábio estava vindo atrás de mim e precisava sair daquele inferno logo. Fui empurrando todos que estavam na minha frente até conseguir ir embora e voltar ao meu apartamento.

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Oi, essa é a primeira historia que escrevo e tenho coragem de publicar, tudo graças a LarahRodrigues que me lançou um desafio de natal, no qual tínhamos que escrever um conto que se passasse nessa data.
Espero que gostem 😁

Maldito Bônus NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora