Prólogo

314 16 1
                                    

Poça de Ervas andava calmamente pela floresta em pleno sol alto, durante a estação das folhas caídas. O solo estava coberto de folhas amarelas e laranjas, todas secas e quebradiças. Elas estalavam quando as patas da curandeira pisavam nelas, se partinho em pedaços. As árvores eram apenas a madeira. Algumas poucas folhas resistiam nos galhos de algumas árvores, balançando com o vento suave.
Poça de Ervas não estava a procura de caça ou muito menos ervas medicinais. Em dias bonitos como aquele, ela gostava de caminhar pela floresta e observar os detalhes da natureza. Podia passar horas fazendo aquilo. Muitas vezes, quando voltava para o acampamento, a lua já tinha subido, e Estrela de Orvalho reclamava com ela.
Porém sua caminhada foi interrompida por um barulho de água corrente, o que ela estranhou, já que não corria nenhum rio lá por perto, apenas em outras partes da floresta.
Curiosa, Poça de Ervas se aproximou, seguindo o som. Conforme se aproximava, sentia um calor lhe envolver, cada vez mais forte.
Chegou ao topo de uma colina, e quando olhou para o vale lá embaixo, viu um rio de água e um rio de lava. Onde os dois rios se encontravam, se formava obsidiana, uma pedra arroxeada.
A curandeira arregalou os olhos, sentindo-se incapaz de se mover. Ouviu ao longe alguém lhe chamando, mas sentia-se presa a aquela visão.

Em um salto, Poça de Ervas se pôs de pé. Olhou ao redor, assustada, e viu que estava em sua toca. À sua frente estava Estrela de Orvalho, parecendo preocupado.
— O que... O que foi? — perguntou-lhe a gata, se sentando.
— Os filhotes de Pele de Corça e Pluma Prateada estão para nascer — respondeu ele — Você tem que vir comigo!
A curandeira acenou com a cabeça e lambeu rapidamente a sua pelagem para abaixa-la, então seguiu o líder para dentro do berçário, passando pela passagem estreita, onde as duas rainhas, Pele de Corça — uma bela gata castanha — e Pluma Prateada — uma gata de pelagem prateada e branca —, estavam entrando em trabalho de parto.
Poça de Ervas pediu a Estrela de Orvalho que fosse buscar algumas teias de aranha, cerefólio e algumas sementes de papoula em sua toca. Já que ela não tinha um aprendiz, o líder do clã teria que servir.
Quando o sol começava a surgir no céu, Pele de Corça e Pluma Prateada alimentavam os seus filhotes. A primeira rainha dera a luz a dois machos saudáveis: um era marrom canela, parecido com a mãe, e o outro era alaranjado e tinha manchas brancas espalhadas pelo corpo, assim como o avô paterno. Já a segunda rainha dera a luz a uma fêmea, uma linda gatinha branca.
— O que eu perdi? — perguntou Coração de Leopardo, entrando no berçário exasperado, parecendo ainda sonolento. — Os filhotes já nasceram?
— Já. — respondeu Poça de Ervas, lançando um olhar reprovador à ele, que se encolheu levemente, parecendo arrependido.
— Ah, não tem problema — ronronou Pluma Prateada, notando o olhar da curandeira para o companheiro. — Venha ver como ela é linda, Coração de Leopardo!
O guerreiro manchado se aproximou e ronronou ao ver a filhote.
— Ela é mesmo uma graça.
— Que nomes vocês darão aos filhotes? — perguntou Estrela de Orvalho, se aproximando de Pele de Corça e lambendo suavemente seus filhotes, e então a companheira.
— Eu pensei em chamar a minha de Filhote de Neve — ponderou Pluma Prateada, e Coração de Leopardo agitou a cauda em aprovação.
— Pensei em chamar este — miou Pele de Corça, cutucando levemente o filhote marrom canela com o focinho — de Filhote de Pinheiro. E este — continuou, agora cutucando o filhote laranja e branco. — de Filhote Flamejante.
— Ótimos nomes. — ronronou Estrela de Orvalho.
— Ótimo, os nomes foram escolhidos. Agora é hora de deixar as rainhas descansarem — miou Poça de Ervas, enxotando  Estrela de Orvalho e Coração de Leopardo do berçário — Logo Asa de Areia também irá dar a luz, então ela também precisa descansar bastante. — A outra rainha deu um pequeno sorriso para eles, e foi até as novas mães, olhar os recém-nascidos.
Os pais saíram, e a curandeira foi atras deles. Eles agradeceram o trabalho da gata, que apenas sorriu e balançou a cabeça.
Porém ela não conseguia deixar de pensar no sonho que tivera. Seria ele uma profecia enviada pelo Clã das Estrelas? Ela deveria contar sobre ele a Estrela de Orvalho? E o que tudo aquilo significava? Talvez tivesse sido apenas algum sonho bobo. Resolveu que seria melhor esperar e tentar decifrar tudo aquilo antes de contar para o líder.
Balançando a cabeça para por os pensamentos em ordem, Poça de Ervas voltou para a sua toca. Logo ela já tinha esquecido sobre aquele sonho.

Gatos Guerreiros - Sangue IrmãoOnde histórias criam vida. Descubra agora