Capítulo 3

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Murilo

Sinto como se perdesse as rédeas de tudo, da minha vida, do meu trabalho e do meu relacionamento com a Beca. No dia em que aqueles médicos trataram minha mulher feito lixo eu perdi mais do que minha filha, eu perdi parte da mulher que eu amava e desde então eu não faço ideia do que fazer.

Nós não somos mais confidentes, não somos mais amantes e é como terminar de rasgar uma ferida que foi aberta no dia em que a Mel morreu.

Eu quis a Beca desde o dia em que a vi, eu não sou como o Davi, e minha história com ela não é como a deles. Eu a quis e fiz de tudo para tê-la, não teve provocação, não fomos como gato e rato, não teve segredos e nem disputas.

Quando ela terminou comigo por causa da Emily e do Davi eu pensei seriamente em matar meu amigo, foi enlouquecedor ficar sem ela, sem perceber fiz dela minha vida e nunca tive vergonha em admitir.

Na segunda vez que terminamos foi mais complicado, eu tinha sofrido tanto pra nos colocar juntos de novo pra ela depois dizer que não iria para os Estados Unidos comigo o que consequentemente seria o nosso fim. Eu duvidei se ela queria tanto quanto eu, se ela estava disposta a manter essa relação como eu.

Eu sou muito mais bobo do que o Davi, por isso namorei muito mais do que ele, eu sempre estava apaixonado e não ligo de ser assim. A Beca veio na hora certa e foi a melhor coisa que me aconteceu, tão cheia de vida e tão apaixonada como eu. A gente se encaixava, o sexo era foda e eu tinha um puta orgulho dela, ainda tenho, mas o brilho dela não é mais o mesmo.

Perder minha filha foi uma dor excruciante, mas perder a Beca tem sido uma tortura, vê-la escorregando pelos meus dedos, o grande amor da minha vida indo embora e eu sem saber o que fazer.

No começo eu tive esperança de que a gente fosse conseguir superar e passar por cima de tudo o que houve, hoje eu já não tenho mais. Toda essa história da Preta só nos fez separar e agora me parece irremediável. Eu tentei apoiar, mas ela só foi ficando cada vez mais obcecada, decidi desistir da ideia de adoção e ela ficou paranoica e distante.

Eu quero minha mulher de volta, quero voltar a planejar nosso casamento, quero voltar a acordar com o sorriso dela ao meu lado, a gente tem todos os nossos sonhos pra realizar, é cedo demais pra deixá-los morrer, mas é como se um elefante branco estivesse sempre entre nós dois.

Eu a olhava dormir, cozinhar e internamente eu esperava que por dentro ela continuasse a ser a mesma, assim como por fora ela continuava linda. Os olhões verdes que brilhavam muito quando ela sorria, mas agora ela sorria bem menos.

- Beca, queria sair pra jantar hoje, só nós dois. – ela arrumava o café como fazia todas as manhãs, se tinha um lugar da casa que ela gostava era a cozinha.

- Que dia? – respondeu sem olhar pra mim.

- Hoje.

- Tudo bem.

- Sério? – perguntei desacreditado.

- Sério, porque o espanto?

- A gente não tem feito muitas coisas ultimamente.

- Ultimamente meus dias não têm sido fáceis. – ela era tão rápida na cozinha que eu me perdia só de vê-la.

- Pra nenhum de nós.

- É, mas você escolheu desistir enquanto eu escolhi lutar. – ela começava de novo com a mesma história.

- Beca, a gente já conversou sobre isso.

- Mas eu nunca vou entender. – ela parou e olhou pra mim cruzando os braços na frente do seu corpo.

- Será que você não vê que eu estou colocando a gente em primeiro lugar? Que essa história só fez nos afastar ainda mais?

Amanda - livro trêsOnde histórias criam vida. Descubra agora