Uma vez que já entendido meu conceito de liberdade proposto neste livro, e considerando, mais uma vez, insisto em recordar, que estou tratando aqui liberdade como uma máxima daquilo que é bom, portanto, desejável por todos os seres humanos (e mais adiante explicarei do por que penso assim). Se liberdade é isso, então levemos-na às últimas consequências.
Pois bem, se temos que os agentes impeditivos restrigem liberdade e, como alguns são impossíveis de serem simplesmente removidos, concluímos que liberdade máxima não se é possível, porém, mesmo assim, infinitamente desejável (como alguns que buscam a perfeição humana, sabendo que ela é uma ilusão). Se é assim, então todos os agentes impeditivos de ordem humana devem ser removidos, para que experimentemos dessa liberdade. Mas, antes de detalhar cada um (como farei ao capítulo seguinte), abordarei daquele mais nefasto e contagioso de todos eles: o Estado.
O Estado é, por definição, o monopólio da "lei", e, por conseguinte, da força, sobre determinada região. Nada mais é do que um grupo seleto de indivíduos (que podem ou não se alterar no poder) exercendo uma suposta autoridade, sobre um suposto consentimento, adquirido através de um suposto "contrato social" (que nada mais é do que uma permissão para qualquer coisa). Claro que, não coloquemos na mesma medida, governos como os de Stálin na União Soviética, junto com os governos suíços de hoje. É certo que, enquanto um, no caso do governo suíço, foca em se restringir a algumas tarefas onde a inciativa privada é proibida de atuar (como na formulação de certas leis, por exemplo), outros governos totalitários buscam, de maneira "naturalesca", predatória e instintiva estabelecer seu domínio e poderio sobre a massa dos desgovernados. Pior até do que no reino animal, onde a ideia é sobreviver pela carne do outro, este não, o Estado é bem pior: Ele é como um leão que devora metade de sua presa, diz que ela não viveria sem seu peso, mantendo-a viva, para que não se dê ao trabalho de procurar por mais presas ao seu dispor. É diabólico.
Quando Marx falava em classes dominantes que, ao longo da história, trocavam apenas o modo de produção e algumas coisas estéticas e não necessariamente sua forma, devo admitir, sem sombra de dúvida, que estava correto. Porém, o que ele não percebeu (não por completo) é de que essa tal classe dominante não é, necessariamente, os detentores de propriedade, e sim, os detentores da "lei". Foram eles que, ao longo da história, apenas alteraram seu modo de atuação, porém, a ideia que era defendida, continuou a mesma. Talvez, a maior mentira já inventada em toda a história. Pois, a melhor das mentiras, é aquela onde o mentiroso acredita que faz a verdade. Por que, aquele que cria o problema, e passa a acreditar nele não com um erro mas sim como solução, com o passar dos tempos, convence a todos a viver sob esse fardo. Talvez o Estado tenha começado assim. Considero extremamente improvável que, em algum momento da história, enquanto todos os seres humanos viviam como animais que caçavam e que andavam de lá pra cá em busca de alimento, um deles exclamou, dizendo: "Tive uma grande ideia! E se eu (claro) e alguns dos mais inteligentes daqui nos juntássemos e decidíssemos o que é melhor para cada um? E, para manter nosso glorioso salário de paladinos da justiça, cobraríamos uma taxa de atuação, à serviço de todos nós!" De certo, isso não aconteceu. E, se acontecesse, também não importa o suficiente para que consiga me convencer do contrário.
Voltando ao ponto em questão. Já sob o domínio dos povos, o Estado apenas mudara sua forma de atuação. Antes, era o próprio Deus; Passou a ser escolhido por Deus; Reconhecido pela autoridade religiosa, e constitucionalmente legalizado, pelo "povo", a agir por eles; Constituído pela "vontade democrática da nação". Em todos os casos, sempre se buscou uma desculpa para se estabelecer, como que se nós não pudéssemos viver sem essa maravilhosa bota de couro sobre nossos ombros. E as desculpas também se adaptaram ao longo dos tempos. A primeira delas:
"Seria uma blasfêmia desobedecer a autoridade de Deus sob a forma do Estado";
"Seria também blasfêmia desobedecer ou se revoltar com a autoridade do rei a quem Deus confiou poder";
"Seria inconstitucional ferir algumas das regras da coroa, portanto, errado per si";
"Seria antidemocrático agir de tal maneira, pois seria desrespeito à 'vontade popular' da nação."
Todas estas justificativas nunca partiram do povo e sim da própria autoridade que, ao longo de seu domínio, e por muito dos tempos também detentora do monopólio de divulgação (somente o Estado divulga informação, ou ele autoriza) é que fez com que o povo achasse normal esse tipo de relação. Como dizia Rothbard em Anatomia do Estado, para que seu domínio se estabeleça forte e seguro, é necessário cercar a corte com os intelectuais, lhes garantindo estabilidade financeira e ótimos recursos, para que sejam porta vozes de sua autoridade. Não é de se espantar que hoje em dia, com o acesso a informação de todos os tipos quase que gratuita em totalidade, o Estado, até então nunca antes na história, tenha se cercado de tamanho apoio às classes dos artistas e formadores de opinião. Há, em vários países, até mesmo leis (isso mesmo) que fornecem ao artista, através de dinheiro público, um incentivo financeiro para custear sua obra. E, claro, para consegui-lo, é necessário aprovação do Estado e, é certo que apenas conseguirão aqueles que dele fizer elogios. Talvez, uma crítica ou duas, mas nada mais.
Por isso, digo: O Estado é a não-lei (pois a única lei justa, provada por lógica, é a lei de autopropriedade, que também é provada pela lógica, ou seja, a priori), predador (pois destrói riqueza alheia), caluniador (pois contorce a realidade e conduz o povo a pensar que necessita dele para garantir a "ordem"), injusto (pois redistribui propriedade que, além de imoral, pois a redistribuição não é consentida pelos quais os bens são usurpados, é ineficiente, pois não gera riqueza, apenas a realoca) e, por fim, diabólico (pois, assim como você provavelmente já deve ter ouvido falar, o maior trunfo de Satanás, que é o todo-mal, é te fazer acreditar que ele, na verdade, não existe.)
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Liberdade como máxima filosófica
RandomUma investigação filosófica acerca do conceito de liberdade humana, entendido primariamente como uma máxima absoluta de bem alcançável, interpretado até às últimas consequências.