Uma vez compreendido os assuntos tratados neste livro, e, tendo claro que os assuntos aqui apresentados são meras sínteses de um pensamento extremamente vasto e completo, tendo como meu esforço apenas despertar o interesse de você, leitor, venho em minhas palavras finais apresentar este que será o último capítulo conceitual, tendo o próximo e último capítulo definitivo apenas uma conclusão sintetizada do que já foi apresentado.
Pois bem. Nada do que foi apresentado teria um valor prático (teórico ainda permaneceria) se liberdade não fosse algo "bom". E se, após todos os argumentos lógicos comprovando a autopropriedade e de por que lei é justiça, entendêssemos com toda a certeza deste mundo que liberdade não é uma coisa boa? Do que adiantaria termos conhecimento destas verdades naturais se fossem, elas mesmas, como pragas? Aliás, seria até um sofrimento se descobríssemos essas verdades e não pudéssemos pô-las em prática, vivendo não só uma vida de mentira, mas um vida que tem conhecimento da mentira e a releva pois a prática da verdade acarretaria algo muito pior do que, simplesmente, viver na mentira.
Mas, para o conforto de sua alma, caro leitor, todas essas verdades que tive o prazer de lhe apresentar, podem ser experimentadas por que, liberdade, é bom. Exercer essa condição é estender a sua personalidade, é não só mostrar aos outros que você existe, como também a si mesmo. Quando vemos o resultado de nossas ações bem diante de nossos olhos, descobrimos que somos muito além daquilo que achávamos que éramos, quando antes guardávamos nossos segredos com nós mesmos. Eu passo por isso diversas vezes, e creio que você, que não deve ser muito diferente de mim, também vivencia. Se lembra daquela vez que foi explicar alguma matéria da escola para um amigo e, depois de tê-lo explicado, só depois, você se deu conta de que sabia muito mais do que achava que sabia? É exatamente essa sensação que somente nessa condição de maior liberdade você poderia exercer. Mas, em regimes autoritários, onde não se pode falar tudo, você ainda teria liberdade para saber certas coisas. Porém, uma liberdade interna. Só você saberia destas coisas, e isso não é bom. Somente num conceito de máxima liberdade possível, e com a lei sendo aplicada, é que poderíamos vivenciar tal coisa, que é boa. Aliás, o que é bom?
Bom, digo em poucas palavras, é aquilo que lhe eleva para um estado superior, sem ter precisado "tirar" de alguém para alcançá-lo. Ou seja, quando aprendo a leis da gravidade através de um livro que comprei (sem danos a terceiros) estou elevando meu ser a um nível superior. Porém, não confunda bom com desejo. Nem todo desejo é bom, então nem todo desejo é necessariamente bom. E, ao analisarmos esse conceito, bom, já fica subtendido de que, se temos um padrão de comparação entre ações boas e más, é por que existe um limite desta bondade, que não pode ser representada em forma humana ou nesse mundo material finito, uma vez que, analisando até às últimas consequências, entenderíamos que algo que é bom por excelência é por definição infinito. Ou seja, se bom é algo que lhe eleva a um estado superior por si mesmo, então a bondade por excelência, que é infinita, também não é alcançável aos seres humanos, porém, desejável "infinitamente" (entende se infinitamente como "até o último dia da vida de cada um"). Até os mais avessos a liberdade a desejam. Eles querem liberdade para dizer que liberdade não é algo tão bom assim, e que precisamos ser contidos para não cairmos em um poço de pecados sem fundo. Verdade, pois a inclinação natural humana é para a satisfação pessoal em primeiro, o que não é algo mal per si, porém, sem um autoconhecimento e responsabilidade, pode vir a se tornar algo horrível. Porém, defendo o egoísmo humano, não por ser natural e ruim, por que então eu estaria cometendo a mesma falha daqueles que advogam a favor do estado como um "mal necessário", mas sim, e dai invoco Locke novamente, pego seu termo emprestado para dizer que essa tal inclinação para o eu do homem é como, novamente, uma tabula rasa. Não é necessariamente boa, nem ruim. Depende de como é usada, igual dinheiro. Entretanto, creio eu que essa vontade humana para aquilo que acredita por ser bom se distingue em três:
Altruísmo puro;
Egoísmo puro;
Egoísmo altruísta.Altruísmo puro, para nós, é impossível, pois toda ação racional e não involuntária (que, por definição da palavra é voluntária) sempre busca minimizar o grau de perda. E, como o valor de tal ação está ligada à intenção daquele que a fez, então, a ação que ele escolheu fazer pode ser a ação mais prejudicial à ele, mas, mesmo assim, só por antes de fazê-la, ele teve a intenção de fazer a menos danosa, só pela escolha mental disso, já fica pressuposto que não agiu de modo a por de lado todos os seus anseios. Mesmo que, pouco, ele ainda pensou em se sair bem. Por exemplo, alguém que acredita no Deus cristão e acredita ser certo doar todo o dinheiro de seu bolso, que ele gastaria para comer, pois estava com fome. Se ele pensa: "Já tenho fartura em casa, e, se eu não comer agora, chegando em casa, terei ainda o que comer, mas este homem não tem. E, além disso, Deus disse que devemos ajudar o próximo, e todo aquele que ajuda o próximo ajuda a Ele também. Vou doar a ele tudo que tenho", ele pratica essa ação, mesmo que com total pureza no coração, a pratica por que acredita ser o certo. Se acredita ser o certo, acredita então haver uma verdade que transcende o homem, de modo que a deva seguir independentemente de qualquer coisa, ou seja, seguir essa verdade é o que completa a existência dele. Se ele completa sua existência, se sente feliz pois, mesmo continuando com fome, e pode até ter se arrependido depois, a intenção de doar por que acredita ser o certo, e por acreditar ser o certo acredita que essa verdade transcende o homem e é seu motivo de existência, ao cumprir o ato, se sente, mesmo que infimamente, feliz. Ou seja, não renegou sua total satisfação, pois é impossível.
Egoísmo puro é possível. Você pode tornar todas as suas vontades como sendo o cerne de sua existência, e a praticá-la para o resto da vida. Porém, não me parece ser bom, pois hora ou outra, a não ser que vá morar no meio de uma selva no interior, necessitará de alguém para realizar tal ação. E, se for necessário "diminuir" o outro para "elevar" seu estado, então, é, por definição, uma ação má. De maneira simples, se não for para morar isolado da civilização, ou longe de qualquer contato humano, o egoísmo puro possui enorme possibilidade de ser algo mal, mas não mal per si.
Considero este último como sendo o recomendado: Egoísmo altruísta. Como vimos antes, egoísmo não é mal per si, o que significa que pode ser usado de maneira boa. Porém, vimos também que, em sua forma pura, sua chance de ser um instrumento de maldade é demasiado alto. Conciliando então essa propensão natural à satisfação pessoal em primeiro, e o outro em segundo, consideremos então ser este conceito o mais recomendado. Afinal, o que seria o egoísmo altruísta? É conciliar essa natureza humana com o conhecimento de que os outros também são assim; Portanto, para alcançar os desejos que são bons, devemos fazer isso mutualmente, e, mais importante, voluntariamente, pois, se é forçado, não é bom, por que a bondade começa na intenção. Não é bom o homem que doa dinheiro para um mendigo por que há em sua cabeça um fuzil carregado lhe obrigando a fazê-lo. Portanto, entendo ser esse tal egoísmo altruísta como sendo o próprio livre mercado.
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Liberdade como máxima filosófica
De TodoUma investigação filosófica acerca do conceito de liberdade humana, entendido primariamente como uma máxima absoluta de bem alcançável, interpretado até às últimas consequências.