Um bebé chorou. Um choro soluçado e que fez o corpo do Stephen petrificar. A Delilah suspirou, virou-lhe costas e entrou na porta ao lado do cadeirão e de um monte de livros empilhados numa mesa. Os murmúrios da Delilah puxaram a sua atenção e ele começou a andar, os seus olhos postos no quarto pouco iluminado. Ele entrou e viu uma menina com cabelos acastanhados e bochechas rosadas. A Delilah tinha-a nos seus braços, deambulando num passo melódico e murmurando palavras doces.
O Stephen parou novamente quando os olhos da menina abriram e prenderam-se nele, o seu rosto na direção dele, por cima do ombro da mãe. A Delilah sentiu-a mover e olhou para trás, antes de rodar para o lado. Ela reajustou a forma como agarrava a filha, deixando que esta se endireitasse. A menina limpou as bochechas com as suas mãozinhas fechadas e voltou a olhar para ele. Sem saber o que fazer, o Stephen andou para a frente. O momento no supermercado e o que ela comprara fazia sentido agora.
– Tens uma filha. – A Delilah acenou, beijando a testa da menina e depois encostando o seu rosto nos cabelos dela. – Como é que ela se chama?
– Kiersten. Kiersten Morvay. – respondeu e o Stephen aproximou-se até ficar a um palmo e pouco de distância. A Delilah olhou para a sua filha e sorriu levemente. – Kiersten, este é um amigo da mamã. Diz-lhe 'olá', coração.
A menina continuou a olhar para ele com grandes olhos azuis, a mesma cor que a sua mãe tinha no seu olho esquerdo. Afastando-se da Delilah, a Kiersten estendeu os seus braços para o Stephen. Boquiaberto, ele esticou os braços e agarrou-a; fechando a boca, engoliu o nó que tinha na garganta e prendendo-a por baixo dos braços, com as suas mãos. A Delilah parecia surpreendida com a ação da filha, mas manteve o seu sorriso. Ele clareou a garganta antes de a puxar contra o seu peito. A menina começou a rir, tocando na barba e afastando a mão, como se tivesse sido picada.
– Ela normalmente não é assim tão sociável quando conhece alguém pela primeira vez. – O Stephen não olhou para a Delilah, a sua atenção estava completamente na menina que tinha nos seus braços e que passava as suas mãos pelo seu rosto, sorrindo muito. A Delilah tocou-lhe no ombro e, apenas nessa altura, o Stephen voltou a cabeça na direção dela. – Tenho de lhe ir preparar o leite. Queres beber algo?
– Agradecia um café, se não te importares. – A Delilah acenou e saiu do quarto, deixando-os para trás. O Stephen olhou para a Kiersten e sorriu. – A tua mãe é alguém especial, não achas?
Com a pequena nos seus braços, ele saiu do quarto e dirigiu-se para a cozinha. A Delilah havia ligado as luzes e tinha ligado a máquina do café. De costas para eles, ela preparava o biberão, aquecendo a fórmula. O Stephen sentou-se nos bancos altos do outro lado da bancada-ilha, no meio da cozinha, e deixou a Kiersten em pé, nas suas pernas. Ela estava voltada para ele e mexia no cabelo aloirado e curto, penteando e despenteando. O Stephen fez-lhe uma careta quando ela apertou o seu rosto, palmas das mãos abertas nas bochechas dele. A menina soltou um riso e o Stephen ouviu a Delilah rir baixinho.
– Kiersten, não magoes o Stephen. – A Delilah aproximou-se deles e estendeu os braços para que a sua filha fosse para o colo dela. A Kiersten rodeou o pescoço do Stephen e escondeu o seu rosto. – Anda cá, coração. Não tens fome?
– Queres que lhe dê o leite? – A Delilah abanou a cabeça, passou a mão pelo rosto e poisou o biberão na bancada. – Não faz mal pedires ajuda, Delilah. Estás cansada, deixa-me ajudar-te.
– Não preciso de ajuda, Stephen. Agora, dá-me a minha filha. – Ela começou para puxar a menina com cuidado, mas esta começou a gritar e chorar. Surpreendida, a Delilah recuou dois passos, deixando-a nos braços dele. – Ela nunca reagiu assim.
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Espíritos d'Água
ÜbernatürlichesDom ou maldição? Para Delilah Morvay a resposta sempre fora evidente. A habilidade que a sua avó materna via como um dom, tornava a vida da Delilah um pesadelo que saíra de um filme de terror. Sensações... Para Stephen Nowak era uma parte da sua vid...