A porta fechou e a Delilah e a Imogen ficaram quietas, vendo o tempo passar e sentindo o arder da dor no peito. A perda de um dos seus nunca seria fácil, por mais pessoas que elas perdessem. Cada perda era um pedacinho delas que se partia, se não as destruísse. Apertando a Kiersten contra o seu peito, a Delilah ouviu o leve respira da menina. Ela adormecera sem sequer se aperceber sobre o que tinha acontecido. Sentando-se com cuidado na cadeira de frente para a Gen, ela deixou o relógio badalar com o tic-tac.
– Por que raio é que ela não nos contou sobre o John? Eu pensei que eles estivessem bem. Felizes até.
– Não sei, Gen. A Sofia não me contou o que aconteceu. – Respirando fundo uma vez mais, a Delilah olhou para a menina nos seus braços. – Devíamos de ter contado sobre a Jane.
– Nós não sabemos se o que quer que tenha acontecido com a Jane, seja o que aconteceu com a Sofia. – Contradisse a outra. – É estranho, mas a Jane pode ter conseguido um bilhete de autocarro, e fugido desta cidade e do seu passado.
– Ela não faria isso sem avisar o Carter. Não é estranho, é quase impossível. Sabes como é o Carter e os seus protegidos, eles tem um conjunto de regras para se protegerem e garantirem que nada acontece. – Ela suspirou e observou a expressão tortuosa no rosto da Imogen. A Delilah nada podia fazer se não observar a dor da sua melhor amiga, não falando durante longos minutos. Ambas sabiam a verdade sobre as possibilidades, principalmente agora que haviam recebido aquela notícia sobre a Sofia.
– Como correu o almoço em casa da tua tia? – A mudança no tema de conversa foi inesperada, no entanto a Delilah compreendia o motivo.
– Explica-me por que razão não me paraste. – Um novo suspiro soltou-se dos seus pulmões. Franzindo o nariz, a Delilah soltou um grunhido. Quando a Gen soubesse o que acontecera, iria enlouquecer apesar de agora estar a rir como a expressões faciais que a Lila tinha. – Não te rias. Não teve piada. Eu pensava que eles não podiam descer mais baixo.
– Explica-me o que aconteceu. E não poupes nos pormenores. Não existe nada melhor para libertar a dor do que ouvir as tuas histórias sobre a família. São completamente hilariantes.
– Odeio-te tanto. – A Gen gargalhou, o riso era ainda humido devido ao choro. Ela aguardou que a amiga parasse antes de contar. – Primeiro, é sábado. E como sabes, a Kiersten não tem dormido muito bem por ser uma casa nova. Só consegui que ela adormecesse às quatro da madrugada. É evidente que estava cansada hoje, adormeci e como tive de a trazer aqui, atrasei-me um pouco. Como é, também, do teu conhecimento, a minha família gosta de se reunir sempre meia hora antes. Algo que não mudou nestes dois anos. – A Imogen esperou que a Delilah recuperasse o folgo e se acalmasse. – A minha mãe ligou-me quando sai daqui e estava a entrar no carro. Como se a culpa fosse minha.
– Tecnicamente, para ela, a culpa foi tua. – A Delilah resmungou baixinho com o comentário da outra mulher. A Imogen levantou as mãos em sinal de paz. Decida a ignorá-la e não começar uma discussão, a Delilah respirou fundo. – Ela não sabe sobre a Kiersten, Delilah. É só o que estou a dizer. Continua a contar o que aconteceu.
– Eu tentei apressar-me o mais rapidamente possível, sabes? Com cuidado mas tentei. Cheguei a casa da minha tia ao meio dia e um quarto. – Massajando a têmpora do seu lado direito com uma mão e deixando o outro braço em redor da filha, a Delilah fechou os olhos durante uns segundos. Ela estava cansada com todo o acumular de situações; desde a mudança, o facto da Kiersten não querer dormir se não nos seus braços e agora todas aquelas novidades de hoje. – Devias ter visto os olhares e reações que recebi. Foi de loucos! Cheguei a pensar que eles se acalmassem, mas não. O meu pai olhou para mim desiludido, mas com mais pena do que qualquer coisa, enquanto a minha mãe questionava-me sobre se eu, realmente, queria fazer parte daquela família. – Mudando o tom de voz, ela imitou a sua mãe. – Estivesse fora durante dois anos e nem sequer quiseste saber de nós. Quando íamos visitar a tua avó, ela dizia que tinha saído, numa viagem qualquer de redescobrimento pessoal. O que é mais importante Delilah? Tu ou a família?
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Espíritos d'Água
ParanormalDom ou maldição? Para Delilah Morvay a resposta sempre fora evidente. A habilidade que a sua avó materna via como um dom, tornava a vida da Delilah um pesadelo que saíra de um filme de terror. Sensações... Para Stephen Nowak era uma parte da sua vid...