- Porque você não disse que estava de saída? - pergunto novamente, enquanto faço círculos imaginários em seu peito desnudo.
- Já disse, não queria acordá-lo, você parecia em um sono tão bom e sereno que não pude te tirar dele. - seus olhos estão fechados agora, como se estivesse curtindo o carinho feito por mim. Apoio meu queixo em seu peito novamente apenas para o observar, não evito o pequeno sorriso que brota em meus lábios.
Às vezes me pergunto como alguém pode ter medo desse ser tão lindo, e agradeço por ser o único com a vantagem de viver com ele.
- Você nasceu assim? - pergunto de repente, assustando até a mim mesmo, não sei se deveria ter feito tal questão. Vejo seu maxilar travar, então ele abre os olhos negros, porém os mesmos parecem distantes.
- Eu fui transformado. - diz finalmente, minha curiosidade aflora e sinto vontade de saber mais.
- Como?
- Tem certeza que quer saber? - o tom alerta em sua voz me preocupa e me pergunto internamente se quero mesmo saber. Um medo estranho se apossa de mim, mas sinto que devo saber o que quer que seja que ele tenha pra contar sobre ser transformado.
- Sim. - seus olhos fecham com minha resposta e ele respira fundo antes de falar.
- Seu pai me transformou. - sua frase me deixa confuso, a menção de meu pai me deixa tonto.
- Não é possível. - digo em um quase sussurro, sento na cama o encarando, pego parte do lençol para cobrir o corpo pois estamos os dois nus.
- É a verdade. - continua, pegando uma de minhas mãos, tento evitar ao toque mas meu corpo se move sozinho retribuindo o aperto de sua mão. - Seu pai era um dos originais, só um original pode transformar alguém.
Suas palavras me confundem ainda mais. Original? Meu pai? Sinto meu coração acelerado e o ar parece difícil de ser inspirado.
- Como aconteceu isso? E minha mãe? - as perguntas tomam conta de mim. Se meu pai era assim, significa que minha mãe também era e eu consequentemente serei assim?
- Sua mãe era humana, como você. Eles se conheceram quase da mesma forma que nós dois, assim como você sua mãe não teve medo de seu pai, os dois se apaixonaram e passaram a viver em um lugar distante e perto da floresta negra. Seu pai deixou um pouco de lado a vida não humana, teve uma família, teve você e sua mãe. - meu semblante assustado toma conta de acordo com a história contada.
- Mas e você? Como meu pai o transformou? - ele senta na cama junto a mim e se aproxima, tocando meu rosto delicadamente, nossos olhos grudam um no outro como dois imãs.
- Pouco antes da morte de seus pais... - aquilo me deixa estático, falar sobre a morte de meus pais ainda é difícil para mim, tocar nesse assunto delicado me deixa tenso, ele parece notar mas mesmo assim continua. - Eu fui um dos que tentou entrar na floresta negra, sentia como se ela me chamasse, então eu fui. Naquele dia minha vida mudou, eu mudei, não soube o que aconteceu comigo, em um momento eu estava correndo desesperadamente sem rumo, tropeço em um galho e quando tento levantar sinto algo arranhar meu rosto, passei a mão e tinha muito sangue, acabei desmaiando, fiquei desacordado por longas horas após isso mas quando acordei não havia mais arranhão nenhum, pensei ter sido um sonho mas meu corpo todo doía e minhas roupas estavam em trapos...
- Você havia se transformado... - concluo e ele concorda com a cabeça. - Mas como soube que foi meu pai?
- Dois dias depois eu briguei com meu pais e corri para dentro da floresta novamente, foi aí que na adrenalina e raiva me transformei sem querer. Acabei caindo, foi estranho de início, eu via tudo mais claramente, podia escutar as pessoas caminhando nos pontos mais distantes do vilarejo. Aí encontrei seu pai, brigamos, rosnamos um ao outro, mas eu era novo, cansei rápido e voltei ao normal, então ele voltou ao normal também, estendeu a mão e me ofereceu ajuda, eu aceitei, não sabia o que estava acontecendo comigo.
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The Boy Of The Red Cape
WerewolfEu estou na floresta negra, correndo de algo que está me perseguindo, é algo grande e não parece ser humano, eu sinto medo mas ao mesmo tempo sinto vontade de ver o que vem atrás de mim, mesmo assim não paro de correr, corro como se não houvesse ama...