Morangos Para Sobremesa (Série Coda - 4)

III - Casualidade

Não fiquei surpreso quando Julia apareceu na minha casa naquela tarde.

- Então? - Perguntou provocativa quando atendi a porta. - Como foi o jantar?

- Muito bom. Ele é um cozinheiro fantástico. Você deveria ter ficado.

- Sim, certamente. - Ela disse enquanto sentava no meu sofá.

- Como está o Tony? - Perguntei.

A questão era: eu realmente não me importava com o irmão dela e Julia sabia disso. Foi uma tentativa fraca para mudar de assunto, e ela não mordeu.

- Cole parece ser um atacante! Ou ele é goleiro mesmo? - Disse.

- Julia, não é nada assim. Jantar e sexo, sim, mas não é como se estivéssemos namorando.

- Vamos ver... - Disse ela, me ignorando. - Ele cozinha e é atencioso. - Ela estava passando os pontos nos dedos, enquanto falava. - Ele é super bonito.

- Ele realmente não é meu tipo.

- E ele é rico.

- Como você sabe disso?

- Só um palpite. - Disse ela, e lhe revirei os olhos. - Isso é como a trinca perfeita. Mais uma sugestão...

- E daí?

- Então, você seria um idiota de deixá-lo.

***

E acabou por não importar que Cole estivesse fora da cidade. As próximas semanas foram tão ocupadas, que eu não teria tido tempo de vê-lo de qualquer jeito.

Eu só consegui passar algumas noites em minha própria cama. O resto do tempo, eu estava em Las Vegas, na conversão de um cassino em nosso software. Eu possuía um apartamento num condomínio em Las Vegas, que era um pouco mais pessoal do que um quarto de motel. Mas ele ainda não estava tão familiar quanto uma casa.

Foi-se quase um mês antes que eu ouvi dele novamente. Eram sete horas da manhã, e eu estava apenas saindo pela porta do meu condomínio, para outro longo dia de trabalho quando ele ligou.

- Olá, Muffin. Como você está?

Eu não poderia deixar de sorrir.

- Muffin?!

Ele me ignorou.

- Eu gostaria de vê-lo. Você está livre a qualquer momento esta semana?

Eu suspirei.

- Não. Estou preso em Las Vegas.

- Você está trabalhando? Não é o fim de semana?

- Não há fins de semana na indústria hoteleira.

- Você é um desmancha-prazeres. Quanto tempo você vai ficar aí?

- Vários dias, pelo menos. Você está de volta em Phoenix?

- Estou, na verdade. Mas vai ser terrivelmente chato aqui sem você.

- É muito chato aqui, também.

Ele ficou em silêncio por um momento, e então disse:

- Eu poderia mudar isso, você sabe...

- Você poderia tornar a transição de dados contábeis mais interessantes?

- Meu Deus! Não. Estou bastante certo de que isso jamais será possível. Mas eu poderia pelo menos tentar fazer sua noite valer à pena.