Capítulo II - Serena

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             Ela tentou se levantar, mas sua força para se mantiver de pé não era o quanto possuía, graças aos seus trabalhos.

Caiu ao chão, em frente à um espelho sujo, coberto de pó: uma menina com olheiras e aparência cansada retribuía o olhar. Fora um grande esforço não chorar, e um esforço maior erguer a cabeça para encarar a oxigenada que acabara de escancarar a porta.

            — Oi, queridinha. — disse a desvairada gritante, a mesma que influenciou no castigo. Parecia que ultimamente seu hobby era escancarar portas. — Nossa você está péssima.


            — Obrigado por me dizer o que eu já sabia. — retrucou.

Revirando os olhos e fazendo uma cara de desdém, já se virava para sair e fechar a porta, quando parou.

             — Ah, já ia me esquecendo, a Sra. Martinez está lhe chamando, pediu para que eu desse pessoalmente o recado. E...— fez-se atriz de pensante - fique longe do Cian, não abra as pernas pra quem já tem dona. — depois disso saiu dando risinhos irritantes.

Depois de cinco minutos a caminho da diretoria, as pessoas por quem passava principalmente meninas, cochichavam e faziam caretas, os meninos por outro lado, mostrava camisinhas e pegava na calça onde se localizava o membro.

             — Vagabunda! — gritou uma menina sardenta do outro lado do corredor.

             — Se você dormir comigo, juro que não irá se arrepender. — cochichou um rapaz alto de cabelos castanhos claros ao passar com um grupo de amigos.

Ignorando, apenas continuou andando. Quando chegou a uma porta escura e grossa, inspirou e expirou profundamente. Preparava-se para bater quando alguém a abriu.

            — Entre senhorita Eileen. — disse a Sra. Martinez indicando a poltrona de couro em frente à mesa. — Pedi para a Srta. Glenda lhe dar o recado, mas não pensei que fosse tão rápido...

Ela começou a falar em disparada, mas Eileen apenas encarou sem ouvir, estava exausta demais, porém a observou atentamente. O coque grisalho estava firme e bem penteado para trás, os lábios continuavam vermelho vivo e as roupas bem apertadas para uma coroa. Corria boatos que ela pagava certa quantia para alguns meninos no orfanato para lhe dar prazer. Ninguém nunca duvidou.

           —... Dezoito anos amanhã. — sua atenção voltou quando ouviu o final da frase.

           — Desculpe senhora, não ouvi, poderia repetir? — perguntou desesperada já imaginando o que estaria por vir.

Um lampejo de irritação passou bem visível em seus olhos escuros.

           —Já havia lhe falado que seu castigo terminaria quando fizesse dezoito anos... — amanhã era seu aniversário, e esquecera completamente. — Bom, amanhã é seu aniversário, e como prometido cessarei os seus serviços, portanto, peço que arrume suas coisas, pois sairá amanhã do orfanato.

           — M- Mas...

           — São as regras. — disse a interrompendo.

           — Mas tinha que ter pelo menos um mês de antecipação para me ajeitar lá fora! Não tenho para onde ir!

           — Não tem mais Eileen, você sabe as regras há muito tempo, não se ajeitou antes porque é descuidada. — falou em tom de censura para abaixar o tom, as lágrimas já formavam nos olhos da moça.

           — Como assim?! Mas foi você quem disse que eu não poderia sair enquanto estivesse no castigo, você! — a voz mal saiu por causa do bolo que formava- se na garganta.

Uma gargalhada terrível soou da velha.

         — Sem desculpas garota. Agora saia.

         — Não. — disse Eileen, mantendo-se firme naquela poltrona que agora escorregava com o suor.

Uma sobrancelha arqueada, um chicote em mãos, e...

        — Saia!

Abaixando a cabeça com medo de mais cicatrizes marcassem suas costas. Saiu, e seu mundo desabou.

Um pouco DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora