Capítulo I - Trapaceiro

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Diante da janela, estava ajoelhada na cama desnuda, enquanto olhava o amanhecer de mais um dia repetitivo e monótono que estaria por vir. Apesar do conforto temporário da paz, ainda era insuportável o cheiro de mofo que emanava do seu quarto, o fedor nunca sumiu, apesar das tentativas vãs de limpar.

O cômodo era muito pequeno, até para ela mesma, mal cabia a cama no canto da parede e sua roupas ficavam empilhadas em uma caixa perto da porta, para dar espaço para locomoção. Talvez não fosse assim, caso não tivesse sido pega na cama com Cian, o rapaz mais bonito, desgraçado e sem caráter do orfanato, não julgaria assim antes do acontecimento. Ele era um doce, demonstrava ser atencioso e carinhoso, sempre dando uma piscadela ou um sorriso pomposo.

Foi em uma tarde, quando ele pediu para que fosse pegar uma anotação dela que havia achado no pátio. Quando chegou, sem explicação, agarrou-a pelo pulso puxando para si, prendendo-a contra a parede, dizendo que o deixava louco, já procurando o feixe do sutiã. Ela não replicou. Até que depois de dez minutos, alguém invadiu o quarto chamando-a de vadia, alto demais, gritando demais... Por fim, ele negou que fez parte de qualquer coisa, que estava sendo assediado por uma mundana.

Para não expulsá-la do orfanato porque estava prestes há fazer dezoito anos, esse foi o castigo que a Sra. Martinez deu, apenas uma desculpa, pois sabia que ela não tinha culpa, apenas porque não gostava dela. Ficar naquele quarto pútrido era ruim e solitário, mas sentia-se bem pela vista da manhã, e ser faxineira por meio período naquele inferno, ocupava os pensamentos gritantes, invés de castigo, fora um favor.

            Ela nunca se esqueceu do sorriso malicioso que Cian mostrou antes de fechar a porta.

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