Capítulo 11

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07:42Am

Acordei com a luz do sol invadindo levemente as cortinas do quarto, como se isso fosse um farol forte em meio a escuridão, mas eu sabia que lá no fundo era só o meu interior preocupado me fazendo acordar para, mais uma vez, pensar no que fazer.

E eu sei o que devo fazer. Sei exatamente por onde começar. Só não consigo imaginar a reação das pessoas, por mais que eu me esforce para isso. Não consigo tentar prever um futuro breve, com Lily sendo despejada em nossas vidas tão de repente. Não sei até que ponto isso nos afetaria — nem mesmo sei se, de fato, isso realmente afetaria algo em nossa família. Eu sei o que devo fazer, mas sinto medo. Sinto medo de que nossas vidas tão instáveis sejam estremecidas da pior maneira. O pior de tudo é que o pouco que conheço de Lily me mostra o quanto seria difícil lidar com ela todos os dias. Provavelmente, suas atitudes sejam reflexos da forma como ela é tratada em sua outra família, mas são atitudes que eu e nem Will, que é seu pai legitimo, conseguiríamos mudar.

Olhei para o lado, de forma automática. Vi Will dormindo tranquilamente, com a cabeça recostada sobre o travesseiro alto e macio, os cabelos castanhos arrepiados dando um contraste encantador com o tecido branco. Seu peito estava nu, assim como o restante do corpo — não fosse pela cueca preta que cobria sua intimidade. As nossas roupas estavam jogadas por todos os cantos do quarto. Quando pisquei por um instante, vi uma das cenas da noite anterior. O que vi foram nossos corpos colados um no outro, e pude, felizmente, sentir ali o calor e o cheiro dos nossos suores ao se misturar. E o mais incrível de tudo é que não importa quantas vezes nós dois fizéssemos amor: sempre iria me sentir assim na manhã seguinte. Revigorada. Como se sempre fosse a nossa primeira vez. Como se meu corpo, ao se encaixar no dele, ganhasse uma energia inovadora para enfrentar qualquer obstáculo.

Obstáculo, a palavra ressoou em minha mente. Agora eu tenho um obstáculo.

Balancei a cabeça para os lados e me levantei da cama antes que eu retornasse aos meus pensamentos de antes: Lily. Mas somente quando fiquei de pé me dei conta de que estava completamente nua. Desajeitadamente e com um súbito medo de mamãe abrir a porta de repente, comecei a procurar de maneira desesperada algo que me cobrisse. Assim que vi a camisa de Will jogada no chão, a vesti as pressas, como se aquela peça de roupa fosse capaz de salvar a minha vida.

— Colírio para os meus olhos em plena manhã — ouvi uma voz rouca atrás de mim. No mesmo instante, me virei de frente para ele. Seus olhos estavam pouco abertos, mas o suficiente para me enxergar sem roupa em sua frente. E na boca um sorriso travesso desenhava-se em seus lábios finos e rosados. — Pode fazer isso quantas vezes quiser, Clark. Já começo o dia com o pé direito. — ele deu uma risadinha. — Como se fosse possível. — cochichou logo depois, bem baixinho.

Eu ri com seu comentário.

— Se você for um bom menino, eu até posso pensar no seu caso.

— Ser um bom menino inclui comer salada em todas as refeições?

Coloquei a mão no queixo, pensando.

— Sim.

— Lamento Clark, mas acho que prefiro vê-la com o pijama que provavelmente minha avó também usa e com os cabelos arrepiados no alto a cabeça.

Revirei os olhos e depois mostrei a língua para ele, começando a me dirigir até a porta.

— Quer que eu tire você da cama agora ou quer descansar mais um pouco? — perguntei quando abri a porta, olhando pelo corredor a porta de Isobel que, como sempre, estava entreaberta.

— Vou ficar aqui mais um pouco. Tá tão gostoso.

Assenti com a cabeça, não tendo a certeza que ele estava me vendo. E assim que dei o primeiro passo para fora do quarto, ouvi ele me chamar.

Como Eu Era Antes De Você - Cinco anos mais tardeDonde viven las historias. Descúbrelo ahora