Prologo

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De tarde quero descansar

Chegar até a praia e ver

Se o vento ainda está forte

Vai ser bom subir nas pedras

Sei que faço isso pra esquecer...

(Vento no Litoral, composta por Dado Villa-Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá; e interpretada por Legião Urbana.)

Dois meses se passaram desde que James, meu namorado, morreu, mas a dor continuava pulsante. Lembranças dos nossos últimos momentos me machucavam tanto, massacrando lentamente cada parte da minha alma. Não aguentava pensar no fato de eu ser a culpada por sua morte. Pensar que, se não fosse a minha estupidez, naquele fatídico dia, talvez ainda estivesse vivo e feliz ao meu lado.

Sentada em uma grande pedra, onde costumávamos ficar juntos, eu me lembrava do passado. Meus pés brincavam com a água, enquanto olhava para o horizonte, vendo os seus olhos negros, sua boca carnuda, a maçã do rosto marcante, a covinha no queixo e o nariz arredondado. A lembrança ainda estava muito nítida em minha mente, como se o tivesse visto no dia anterior.

Nas nuvens, eu via o seu sorriso se abrindo e tinha a nítida lembrança da sua gargalhada, das gracinhas que sempre dizia quando ficávamos assim. Ao fechar os olhos, sentia o seu toque em meu corpo, abraçando-me de forma tão carinhosa enquanto sussurrava coisas ao meu ouvido. Era tão difícil lembrar-me daquilo... Tão doloroso.

Sempre que pensava em James — tão novo e com a vida ceifada em um acidente estúpido —, eu não suportava o remorso porque acreditava ser o meu único amor... Ah, o amor... Ele pode vir de tantas formas. Não sabia que tantas coisas mudariam em minha vida. Não fazia ideia das peripécias do destino, com sua mão cruel e manipuladora, tecendo os fios como uma aranha trabalhadora. Aquele era o primeiro fio, mas não seria o único, certamente.

Ao olhar o sol se pondo na linha do horizonte, tudo o que eu conseguia desejar era uma segunda chance para ser feliz com James — sentindo a água fria em minhas pernas, pensando em como eram bons aqueles momentos, senti a sua falta causar um vazio massacrante em meu coração, que chegou a sufocar o fundo da minha alma.

Levantei da "nossa pedra" — o nosso canto favorito —, caminhei sobre ela até alcançar a areia da praia, abracei o meu peito sentindo o frio enorme. Meus cabelos estavam esvoaçantes, devido ao vento que ficava mais forte. Um arrepio repentino percorreu a minha espinha, levantei a cabeça e olhei para frente. Algumas pessoas estavam andando na praia, casais de namorados de mãos dadas. Lembrei novamente de James e o ar me faltou, fazendo com que uma lágrima solitária corresse pelo meu rosto.

De repente, alguém tocou as minhas costas e me chamou. Virei-me para ver quem era e...

— Não! Não! Não pode ser! — gritei, negando com a cabeça. — Você morreu! — Assustada, me sentia emocionalmente abalada. Era impossível vê-lo ali, diante de mim. Um frio estranho se instalou em minha barriga, deixando uma terrível sensação de pavor.

James estava morto, mas eu via o seu fantasma à minha frente. Fui tomada por uma vertigem, tudo foi ficando escuro e, de repente, meu corpo deslizou no chão lentamente.

Braços quentes me envolveram, havia calor, um corpo forte e musculoso, um cheiro que não era dele, mas era bom. Tentei abrir os olhos, mexi rapidamente as minhas pálpebras e quando consegui abrir, vi seu rosto em minha frente denunciando que estava louca. — Não! Não! Não! — continuei negando tentando me soltar de seus braços, enquanto me debatia, e, sem forças, fui completamente rendida. Lágrimas rolaram por minha face, fazendo-me chorar... Chorei...

Totalmente angustiada, pensei que era mais um dos meus diversos pesadelos. O fantasma, que era a visão perfeita do meu namorado morto, começou a falar e percebi que sua voz tinha uma sonoridade diferente. Novamente fiquei arrepiada da cabeça aos pés e todos os meus pelos se eriçaram.

— Não sou James, Emmy... Sou Jacob — disse com a voz rouca, baixa e muito sexy. Fiquei olhando seu rosto, ainda alarmada pela semelhança, respirei fundo e inalei o cheiro masculino forte e inebriante. Tudo começou a sumir e, de repente, só havia escuridão à minha frente.

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Vento no litoralOnde histórias criam vida. Descubra agora