Capítulo 3

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Agimos certo sem querer.

Foi só o tempo que errou.

Vai ser difícil sem você...

(Vento no Litoral, composta por Dado Villa-Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá; e interpretada por Legião Urbana.)

Nossos lábios se moviam lentamente, com uma fricção suave e calma, suas mãos subiam por minhas costas, com toques delicados e gentis. A outra mão mexia firme em meus cabelos, prendendo os dedos em minha cabeça, talvez por medo de interromper o momento, ou quem sabe apenas pela necessidade de me sentir presa a si. Sua língua fazia movimentos circulares, e enlouquecedoramente vagarosos junto com a minha, levando meu corpo ao ápice do prazer delicioso e sereno, enquanto pouco a pouco eu descobria o verdadeiro significado da entrega verdadeira.

Nossos corpos pareciam se conhecer e moldar perfeitamente, sem necessidade de ajustes, numa sincronia perfeita e única, como num encaixe de quebra-cabeças. O beijo pareceu durar uma eternidade e foi simplesmente perfeito, romântico e apaixonado. Não haveria outro como aquele... Nunca houve.

Gemendo, afastou seus lábios dos meus, colou nossas testas e ficamos respirando irregularmente por um tempo com a respiração muito próxima uma da outra e o desejo latente ainda sucumbido pela necessidade de mais. Vários tremores percorreram minha pele, ainda alarmada por aquela avalanche de sentimentos e sensações contraditórias e, ao mesmo tempo, desejáveis.

Suas mãos foram até o meu rosto, segurando o delicadamente, enquanto abria os olhos. Vi aquelas orbes negras brilhantes me encarando profundamente, que parecia pérolas negras sob a luz da lua, algo espantoso. Seus lábios ainda estavam trêmulos, assim como os meus, e havia uma emoção diferente, misturada em sua face, enquanto me observava. Pude contemplar algo como arrependimento, em um jovem lutando contra os próprios conflitos. Ele me queria, mas algo me dizia que também se sentia culpado por aquela situação.

— Me desculpa... — sussurrou e baixou o olhar, como se tivesse medo de encarar-me novamente. Era nítida a vergonha e o arrependimento camuflado naquela palavra.

As batidas do meu coração pareciam uma bateria de escola de samba, deixando-me completamente perplexa com minhas ações impulsivas e pela falta de pudor, ou até respeito à memória de James. Por mais que quisesse ter me arrependido, sentia uma vontade tão grande de estar nos braços de Jacob, que era impossível me afetar pelo pesar naquele instante. Eu me sentia viva novamente e aquilo era bom demais.

Uma emoção tão forte me dominou. Tinha a necessidade de ser protegida e, ao mesmo tempo, de protegê-lo. Sabia que juntos conseguiríamos passar pela dor e vencer os obstáculos, meu coração me afirmava isso. Vi que ele também se sentia estranho e que, além do remorso por trair o irmão, sentia desespero ou quem sabe medo. Recostei a minha cabeça em seu peito e o abracei, com medo de quebrar a magia do momento e o encanto se desfizesse quando nos afastássemos.

Ficamos calados por um tempo, até que finalmente tivéssemos condições de falar algo razoável, dadas às circunstâncias estranhas em que nos encontrávamos.

— Não se desculpe, Jacob... — sussurrei em seu peito, passando a mão carinhosamente sobre ele. Ele pegou minha mão e a levou até sua face. Estremeci com o beijo carinhoso em minha palma. Levantei a cabeça e observei como ele a passava pelo seu rosto, buscando por carinho. Seus olhos se fecharam e Jacob sorriu discretamente. — A culpa foi minha... — Pisquei lentamente e vi que ele abriu os olhos e acompanhou cada movimento de meu rosto. O tempo parecia estático, cada ação ocorrendo quadro a quadro. Assim acontecia conosco, desde o primeiro instante, do primeiro gesto até chegar ao primeiro beijo. Tudo muito lento, calmo e sereno.

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