Capítulo 2

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Agimos certo sem querer

Foi só o tempo que errou

Vai ser difícil sem você

Porque você está comigo

O tempo todo

E quando vejo o mar

Existe algo que diz

Que a vida continua

E se entregar é uma bobagem...

(Vento no Litoral, composta por Dado Villa-Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá; e interpretada por Legião Urbana.)

Jacob e eu nos sentamos de frente para a praia e ficamos admirando o mar. Apesar da dor que sentíamos, ele me transmitiu uma paz tão grande, que pouco a pouco foi acalmando o meu coração. Consegui enxergar o acidente com outros olhos e acreditar que fora uma fatalidade. Antes daquela conversa eu me afligia com o remorso, depois tudo foi ficando mais fácil. Era como se James houvesse me enviado o irmão para me dizer que me perdoava por aquilo e que deveria seguir em frente. Ele foi a resposta para as minhas orações ao longo daqueles dois meses.

Eu o olhava e via James dizendo que me perdoava, mas quando prestava atenção nos seus gestos, no modo de falar e de agir, era uma pessoa completamente diferente. Meu coração estava em um ritmo completamente diferente fazendo-me sentir à vontade com Jacob. Em alguns momentos, sentia-me culpada por estar atraída pelo meu cunhado, afinal havia perdido meu namorado há dois meses e era no mínimo estranho sentir algo por ele. Foi estranho e ao mesmo tempo inevitável. Olhando para ele abrindo o coração sem pudor, senti uma paz de espírito e conforto na alma a cada segundo. Por mais que tentasse evitar, meu coração traiçoeiro se pegava fazendo comparações entre os dois e percebia que gostava mais da versão ponderada e segura de Jacob, não apenas por ele me consolar. Eu me sentia estranhamente ligada àquele homem. Como poderia explicar isso a alguém?

— Posso te perguntar uma coisa? — questionei, vendo-o se virar para me encarar. Novamente meu corpo denunciou os meus sentimentos, a revolução no estômago, o frio na espinha, o coração acelerado... Todos os sinais eram visíveis, apesar de tentar disfarçar. Às vezes ficava muda, sem ar, apenas observando as expressões de seu rosto e como seus olhos o traíam, indo em direção aos meus lábios. Esses eram os momentos mais difíceis... Sentir que ele também me queria.

— O que você quiser — respondeu com a voz rouca e sexy, fazendo pequenos tremores afligirem o meu corpo com descargas elétricas.

— Como sabia que eu estava aqui? — Percebi um ligeiro sorriso se formar em seu rosto. Era algo inacreditável, suave, encantador e, ao mesmo tempo, havia dor denotando uma estranha frustração. Ele sofria mais do que eu, vivia um drama familiar muito complicado e veio a mim pedindo socorro. Sorriu forçado para mim e mesmo assim foi lindo ver os dentes branquinhos, as covinhas no queixo, o nariz arredondado, a boca carnuda e desenhada se abrindo ligeiramente. Fiquei completamente fascinada por aquele sorriso e, ao mesmo tempo, culpada por me sentir daquela forma.

— Sua tia... — sussurrou enquanto franzi o cenho, sem entender o que dizia. Como ele conhecia a minha tia? Do que estava falando? — Fui à sua casa e sua mãe caiu dura quando me viu. Foi a mesma reação que teve. Sua tia a acudiu e depois expliquei quem eu era e o que queria com você. Mas sua mãe não queria que te procurasse. Achou que você teria um colapso e se negou a me dizer como achá-la. Agradeci e saí, e foi naquele momento que sua tia veio correndo para me alcançar e disse que você estaria na praia ou nos penhascos. Falou da sua pedra à beira-mar e que sempre vinha aqui para remoer a morte dele. — Quando falou a morte "dele", engoliu em seco e seu tom ficou mais áspero. Ele não estava confortável com aquela situação e o sorriso se fechou no mesmo instante, denotando novamente a tristeza.

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