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Lia

Eu ainda estava em choque com a volta de Eduardo. Achei que estaria preparada para o encontro, talvez estaria se tivesse sido avisada. Afinal, eu tinha dedicado sete anos da minha vida a um cara que agora tratava tudo com desdém.

Entrar na sala e vê-lo segurando minha filha tinha sido outro choque. Eu não queria sua aproximação, nenhum contato. Ele havia contribuído com uma pequena parte, mas havia sido Gabriel que a tomara como filha.

Continuei abraçada a ele, prolongando o máximo possível o retorno para a realidade. Eu conseguia sentir a insegurança de Gabriel em relação a tudo. Fazia menos de 48 horas que eu havia me entregado a ele, não só o meu corpo, mas o meu coração também. Eu precisava lhe assegurar isso.

— Não quero voltar a encontrá-lo – falei quebrando o silêncio do quarto, com minha cabeça ainda colada ao seu peito.

— Podemos ir embora, se você quiser.

— Seus avós não ficariam chateados?

— Chateados por você não querer encontrar o cara que te abandonou?

— Ele também é neto deles. Com tantos meses longe, eles esperam no mínimo uma explicação.

— Você já sabe a explicação.

— Mas eles não.

— Então chegamos a que ponto? Vamos embora ou vamos ficar? Você decide.

— Vamos ficar – eu disse por fim – pelos seus avós. Mas vou deixar bem claro, ele não vai voltar a tocar na minha filha.

Eduardo não tentou falar com nenhum de nós dois até o jantar. Permaneci no quarto com Valentina, enquanto Gabriel conversava com seus avós. Ele não tinha tido muita opção quando foi chamado.

Banhei em Valentina e coloquei uma roupa de frio. A temperatura havia caído drasticamente logo que o sol se pôs. Eu também precisava de um banho, mas teria que esperar por Gabriel para que ele ficasse com Valentina. Os avós dele haviam preparado um quarto completo para ela, mas eu não queria deixá-la lá, onde Eduardo teria fácil acesso.

Quando Gabriel entrou no quarto, sua fisionomia ainda não tinha relaxado, eu poderia até dizer que havia piorado.

— Vamos embora amanhã ao primeiro horário.

— O que aconteceu?

— Eduardo aconteceu. Eu só queria entender porque ele tem que ser tão imbecil – disse exasperado.

— O que ele falou que te deixou assim?

— Que usei a minha persuasão com você, aproveitando da sua sensibilidade para me aproximar.

— Você sabe que não é verdade.

— É claro que eu sei, mas ele está tentando convencer meus avós do contrário. Eduardo me faz perder a calma. Quase o acertei com outro soco. Se não fosse por meus avós...

— Vocês brigaram? – perguntei preocupada á procura de algum machucado.

— Hoje à tarde ele me provocou e eu lhe dei um soco.

Continuei preocupada.

— Relaxe, eu estou bem.

— Mesmo com raiva do Eduardo, ele é seu irmão e não quero causar nenhum desconforto entre vocês.

— Esse desconforto já vem nos perseguindo há anos. Queria entender essa raiva gratuita que ele tem por mim. Mas vamos esquecer esse assunto, como você está?

A sua esperaOnde histórias criam vida. Descubra agora