Os meses que se seguiram

8 1 0
                                    

Os dois primeiros meses

Augusto começou a fazer fisioterapia, com séries compostas por alongamentos, fortalecimento muscular e demais atividades adaptadas para seu estado clínico. O garoto ainda não via mudanças, mas se apegava ao máximo à possibilidade de voltar a andar algum dia. Não seria o fim do seu sonho, seria apenas adiado para um futuro breve.

A visita dos seus amigos tornou-se cada vez mais frequente. Vários eram os jogadores que o incentivavam a continuar firme à luta. Após a fase da negação e da profunda tristeza, Augusto enfrentou a fase da aceitação do ocorrido e a esperança em se dedicar à fisioterapia, contudo, não se esquecia de que a possibilidade de cura não era total. Como o nome já dizia, era apenas uma possibilidade.

— Irmão — disse Johnny Dias ao entrar no quarto. — Vim te trazer isso.

O rapaz alto e musculoso entregou a última edição de uma revista sobre esportes que Augusto adorava. Não eram irmãos de sangue, mas mantinham uma poderosa conexão.

— Continua lendo meus pensamentos, irmão — sorriu Augusto, desferindo-lhe seu melhor olhar.

— Logo você vai estar de volta com a gente cara, pode apostar.

O garoto também era jogador amador e lutava por seu, literalmente, lugar ao sol. Augusto sabia o quão seria difícil voltar a jogar, se conseguisse andar um dia. Ele não queria pensar nisso, mas a cada dia tentava se imaginar em qualquer vida que não fosse num campo.

Médico, advogado, administrador, dentista, engenheiro... Nada parecia fazer sentido. Pior que isso: nada parecia importar.

Johnny contou as novidades sobre a equipe, depois de ouvir os acontecimentos que Augusto vivenciou. O rapaz estava nervoso, fazendo com que gotículas de suor se formassem sob seu boné e escorressem pelos cabelos castanhos. O incomodava muito ver um amigo tão querido assim, totalmente acamado e, o pior, talvez sem nunca mais conseguir andar.

— Eu vou rezar por você — prometeu o amigo. — E logo você vai sair dessa.

Augusto assentiu. O horário de visitas chegava ao fim, mas ver um rosto amigo era como receber uma injeção de ânimo. Ou tão bom quanto devorar uma panela inteira de brigadeiro.

Enquanto Johnny deixava o quarto e Augusto se perdia em devaneios, os últimos minutos do seu horário de visita lhe traziam uma inesperada surpresa.

— Agatha? —disse, com a voz espantada. Passou os dedos pelos cabelos desgrenhados, se preocupando com sua aparência pela primeira vez desde o acidente.

— Oi... — a garota disse tímida. — Desculpa por não vir antes. Meus pais acharam que era melhor esperar um tempo.

Augusto assentiu. Ela não era a primeira. Muitos dos seus colegas encaminharam mensagens através dos seus pais, aguardando para visitá-lo quando já estivesse melhor do choque. Afinal, ele mesmo não queria ver ninguém antes.

— Penso todos os dias no que aconteceu — o rosto de Agatha corou. — Digo, queria que nada disso tivesse ocorrido —as palavras saíram engasgadas, como se retirasse um grande fardo das costas.

Augusto frequentou a mesma classe que Agatha Vilela durante o ensino médio no ano anterior, mas mantinham contato apenas pela internet desde dezembro. Ela iria para a faculdade, ele se tornaria jogador de futebol, e tudo parecia tão impossível...

— Era o que eu mais queria também — Augusto assentiu. — Mas parece que nem tudo ocorre como planejamos...

— Adaptar-se é preciso — disse a garota loira, as bochechas cada vez mais rosadas. — Quero dizer, às vezes não entendemos o que acontece com a gente, mas... lá no fundo... sei que tudo tem uma razão.

As folhas caídas do outonoOnde histórias criam vida. Descubra agora