Finalmente Augusto recebeu seu veredicto: liberdade.
Estava livre.
Ganhou alta do hospital, ainda precisaria fazer mais sessões de fisioterapia, mas já conseguia andar e logo poderia voltar a correr e treinar. Voltar para casa, contudo, era sua maior recompensa: havia se livrado enfim do quarto sem cor, da prisão sem trancas e da comida sem gosto. Poderia retornar aos estudos, à rotina, ao seu quarto alegre, ao quintal ensolarado e, principalmente, conseguiria voltar a passar os sábados assistindo filmes de terror e comendo hambúrgueres.
Seria um rapaz normal novamente, mesmo que tivesse mudado muito no período em que ficou internado.
A volta para casa e a inspiração de novos ares encheu Augusto de alegria. Era uma felicidade que ainda não havia sentido desde o acidente, enquanto convivia com a dúvida. É impossível viver em paz quando se está com dúvida.
A primeira coisa que o rapaz fez ao chegar em casa foi se dirigir à cozinha e preparar o maior x-burguer que conseguisse. Pão com gergelim, catchup, mostarda, maionese, hambúrguer tamanho família, batata frita, bacon... Cabia de tudo dentro daquele lanche nada saudável.
Antes mesmo que ele devorasse a refeição, a campainha tocou. O coração de Augusto disparou como uma metralhadora. "Será que é ela?", pensou imediatamente. Só conseguia pensar nela.
Sua mãe atendeu a porta e convidou a garota para entrar. Em instantes, ela estava na cozinha, olhando com surpresa para o enorme lanche.
— Meu Deus! — os grandes olhos saltaram. — Parece delicioso!
O rapaz sorriu aliviado. Não queria parecer um morto de fome, mas realmente havia sentido falta de comer uma refeição lotada de calorias.
— Quer um pedaço? — Augusto ofereceu sorrindo.
Agatha aceitou, sujando toda a bochecha com catchup e mostarda.
"Continua linda", pensou o rapaz.
Pela primeira vez, Augusto sabia o que fazer. Não era mais um menino, era um homem. Conhecia a verdadeira essência da vida, o que era importante e o que deveria relevar. Sabia que algumas pessoas eram tão importantes quanto seus sonhos. Ou até mais.
Sua vida, enfim, tomou o rumo que sempre deveria ter tomado. Augusto não apenas se recuperou totalmente, como também conseguiu voltar aos campos. Com a ajuda de Johnny, sua profissionalização estava a um passo. Ao lado de Agatha, era alguém maduro, completo. Com seus pais, descobriu que o valor da vida está no valor que damos a ela. Aprendeu que para realizar um sonho, basta sonhar.
As folhas caem porque já não são necessárias às árvores, novas folhas virão: é hora de aceitar que tudo que se vai, se vai por alguma razão. O clima muda porque o calor já não serve, o frio vem para nos fazer sentir, da melhor e da pior maneira possível. Augusto mudou como mudam as estações: caiu como folha no outono para renascer mais forte após o inverno.
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As folhas caídas do outono
Short StoryAugusto Torres está para se tornar jogador de futebol profissional e, com dezoito anos, tem um futuro promissor pela frente. Até o dia 20 de março. Junto com o outono, não apenas o vento frio invadiu São Paulo, mas também uma noite fatídica que muda...