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Sentada no pequeno sofá da varanda olhando a imensidão azul do céu repleto de estrelas, arrumo a coberta em meu corpo e pego a caneca de café na pequena mesinha do lado esquerdo do sofá, onde também estava o meu antigo diário, a brisa fria toca as persianas do quarto fazendo-as dançarem, sinto o doce aroma que emana da caneca entrar por entre minhas narinas e me arrepio quando o vapor quente toca minha pele fria. Sorrio ao lembrar da época em que era criança, onde, nas noites frias de inverno, era um bom café que me aquecia. Era costume reunir a família em noites como essa, ficávamos todos debaixo das árvores em frente à pequena casa de minha avó, com sua arquitetura robusta, paredes pintadas de um amarelo vivo e um enorme portão de ferro já oxidado pelo tempo. Lembro-me de como me divertia em dias como este.

James e eu íamos juntos à casa de minha avó, era difícil convencer sua mãe a nos deixar ir, principalmente porque desviávamos do caminho diversas vezes indo em direção à floresta, lá tínhamos um refúgio. Ele ficava perto da trilha para a montanha, havia um lago próximo há um enorme carvalho. No inverno sua vista era deslumbrante, seus galhos ficavam repletos de uma neve branquinha que mais parecia um tapete de veludo, e era ali que ficávamos sentados debaixo da árvore, muitas vezes dispensávamos o banco de madeira antigo que tinham colocado debaixo dela e sentávamos na grama, sentindo-a úmida, me aproximava de James e ficávamos ali, juntos, de braços dados tentando nos aquecer do frio, olhando a lua refletir sua beleza no lago, não falávamos nada, o único som ouvido era o de nossas respirações que se uniam, deitava minha cabeça sobre o seu ombro e ali permanecia, em completo silêncio.

Viro meu rosto em direção a nossa foto que permanecia no mesmo lugar, na escrivaninha do lado esquerdo da minha cama. Eu sempre o admirei, desde pequena! O que eu mais amava era o seu sorriso, costumava dizer que eram como floquinhos de neve. Ele amava tirar fotos, e eu odiava quando eu era o alvo de seus flashes, e lembrando-se disso agora parece que, por um momento, escuto ao longe sua risada, aquela que ele dava quando estávamos no seu quarto estudando para uma das dezenas de provas que teríamos na semana e de tão concentrada nem ao menos percebia que ele se levantava e pegava sua câmera, só notava o seu flash em meus olhos, e como sempre, eu me irritava e ele sorria tombando a cabeça para o lado e me dizia como todas as vezes que a foto tinha saído magnífica. E eu balançava a cabeça e somente pelo fato de o ver sorrir meus lábios perpetravam a mesma ação. Sinto saudades daquela época, onde éramos quem quiséssemos ser.

Agora os dias não são como antes... Disseram-me uma vez que era bom expressar a alguém o que sente,nunca gostei disso, e, sinceramente, James era o único que sabia algo realmente verdadeiro sobre mim, nem mesmo as psicólogas conseguiram, e olha que foram algumas tentativas. Mas eu decidi dar uma chance. Talvez escrever o que eu sinto e tudo que eu já vivenciei seja bom para mim, então, por esse motivo estou aqui, olhando o diário a minha frente, com suas páginas amareladas e cheiro de mofo, tomo mais um gole do café já frio e pego a caneta que deixei ao lado do diário, coloco a caneca em cima da mesinha em minha frente, me ajeito apoiando o diário em meu colo e respirando fundo começo a escrever. 

Olhe para o céuOnde histórias criam vida. Descubra agora