Um, dois, três.
Éramos um, dois, três.
Era comum as pessoas comentarem "três? como isso é possível?"
Mas sim, éramos três.
Eu achava engraçado como três sempre fora meu número favorito.
Eu nascera num dia três, às três da manhã do mês três.
Coincidencia ou destino? Eu nunca soube afirmar.
Mas sim, éramos três, e isso nunca incomodou nenhum de nós.
Eu amava vocês dois igualmente, e vocês também me amavam e se amavam.
Era lindo.
Eu não podia deixar de lembrar em como é tão prazeroso não ter apenas uma, mas duas pessoas lhe satisfazendo em momentos mais íntimos.
Eu não podia deixar de sorrir ao pensar em como era excitante ver vocês dois juntos, e mais ainda quando me incluíam depois.
Eu não podia deixar de observar em como eu era sortudo por ter dois homens tão bonitos a meu dispor, mesmo que eles me afirmassem que eu sempre fora o mais bonito dos três, eu me recusava a acreditar nesse tipo de coisa.
Hyungwon era calma, leveza e silêncio. Era com quem podíamos se enroscar nos dias frios e receber carinhos furtivos. Era quem tomava decisões em momentos difíceis, já que eu nunca fora um bom exemplo de equilíbrio. Era também o mais possessivo, e achávamos engraçado como ele tentava de qualquer jeito esconder seus intensos ciúmes.
Hoseok era calor, sorrisos e altruísmo. Era quem nos animava nos dias mais difíceis, sempre fazendo coisas idiotas pra fazer nós rirmos, nem que seja apenas um sorriso sem dentes. Era quem nos arrastava para a piscina nos dias quentes, e nos fazia perceber que ficar em casa em frente a ventiladores não era nem de longe a melhor opção. Era quem nos provocava em público, e sussurrava palavras sujas junto a nossos ouvidos. Sem falar nas surpresinhas que ele adorava nos fazer, como se vestir de Coelho de Páscoa apenas com uma cueca de pompom e orelhas.
E eu, bom, eu nunca soube me definir nessa relação.
Hyungwon costumava dizer que eu era sua criança inocente, com quem ele sempre podia contar seus problemas e eu diria uma coisa tão fofa que poderia fazer qualquer problema sumir por alguns segundos.
Hoseok costumava me falar que eu era sua boneca. A quem ele podia sempre abraçar e conversar, e o compreendia como ninguém.
Um, dois, três.
Éramos três.
Tivemos três filhos. Dois lindos meninos e uma graciosa garota. O mais velho era sua personificação, Hyungwon, sempre de nariz em pé e nunca demonstrava seus sentimentos de maneira clara. O segundo era de longe sua criança, Hoseok, sempre pra cima, não se deixava abater por nada, sempre extrovertido e nos fazendo rir quando precisávamos. E a nossa garotinha... Ah nossa garotinha... Ela poderia ser considerada a coisa mais fofa que qualquer um poderia observar, tão dócil e gentil, nunca machuchou ninguém, sempre apenas acrescentando na vida das pessoas.
Mas agora, nessa tarde fria de janeiro, quando eu olho para o céu noturno, observando que as três marias não me observam mais como antigamente, eu percebo que o três acabou. Fecho os olhos e lágrimas silenciosas escorrem pelo meu rosto, pensando que agora, eu sou apenas um.
Eu sou apenas um.
Já fazem três anos que éramos três, desde que vocês se foram, e eu pude olhar para meus amados por cima de um caixão de vidro, seus rostos tão serenos, como se estivessem apenas dormindo. Eu observei vocês assim. Mas a última coisa que vocês viram foram lindos sorrisos.
Mas eu vi apenas dor, eu observei a dor.
Um, dois três.
Não somos mais três.
Apenas um.
Eu sou apenas um.