bum!
um revólver atira com mira perfeita no meu peito
sinto que não existe mais chão
o que é o Inferno? o Céu?
eu tenho vivido como um fantasma
minha presença não existe mais
as pessoas passam por mim, esbarram
e parecem não notar minha presença
até o gato de Schrodinger tá vivendo mais que eu
eu só quero gritar
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
ninguém te avisa como é esse tal de luto
como acordar de manhã cedinho e perceber que não existe mais o seu bom dia
não existe você pertinho de mim pra me contar qualquer coisa
esqueci quem eu sou
quem eu já fui
os meus gostos e desgostos
é tanta angústia dentro do meu peito, sabe?
nem milhões de lenços de papel conseguiriam sanar essa dor
eu até rezaria pra Deus
acontece que não acredito muito em religião
juro que já tentei
OH, COMO EU TENTEI
já rezei o Pai Nosso, Aves Marias
tentei barganhar com Deus a sua volta
ao que parece, nem se eu fosse a melhor pessoa desse mundinho os mortos voltariam
Ó morte
a tão temida morte
a nossa única certeza da vida
não sei como se define que você morreu
já que não existe nenhuma diferença de partículas de um corpo vivo para um morto
cientificamente, seu corpo pode ter parado de ter produzido oxigênio
os orgãos não conseguiriam cumprir suas demandas e falharam
mas como foi a sua última respiração?
seu último suspiro ?
você viveu muito bem meu caro
deixou sua marca no mundo
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Contos de um jornalista fantasma - tentando lidar com o luto
PuisiVários textos em homenagem ao meu falecido avô; que tentam descrever um pouquinho o luto ; desabafos