2 - Camila Santos

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- Devias ir para casa. – Inicialmente aconselhei-a sem quaisquer segundas intenções, porque reparei no estado lastimável em que a menina desastrada se encontrava. Depois... passou mil e uma coisas na minha cabeça sobre o que poderia acontecer se ela fosse para casa comigo.

Suavemente, comecei a aproximar-me dela com a intenção de iniciar um clima entre nós. A sua forma de se mover provoca algo dentro de mim. Algo como um fogo que percorre as minhas veias. Algo que me faz querer saber como ela funciona em todos os sentidos possíveis e imaginários.

Enquanto ela estava distraída tive a oportunidade de observar cada curva do seu corpo, as curvas que a tornam quase irresistível, as curvas que se vão mexendo de forma tão delicada e tentadora.

- Devia mesmo! – respondeu convicta.

A menina não reparou que me tinha aproximado e afastou-se ligeiramente enquanto me respondia. Não ia deixar que esse pequeno pormenor estragasse os meus planos e pus as minhas mãos em volta da cintura dela que estava um pouco descoberta devido ao formato do vestido. Senti a pele macia nas minhas mãos e senti um pico de adrenalina que me fez arrapiar desde as mãos até à cabeça.

- Já te disse que és muito bonita? Esses olhos são de matar qualquer um. – Disse-me com um tom sedutor que me mostrou caminho livre para continuar a avançar.

Retribui-lhe o elogio, que de alguma forma a lembrou de que ainda não sabia o meu nome. Disse-lho da forma mais sedutora possível, mas sem sucesso pois ela me respondeu com ironia.

- Queres que te leve a casa... Gabi? – Ofereço-me.

- A sério? – Um brilho surge nos olhos dela.

- Vamos para o carro, anda.

Ela seguiu-me até ao carro um pouco reticente, mas sem hesitar entrou no carro. Deu-me a morada dela e comecei a conduzir.

Até metade do caminho houve um silêncio perturbador devido à tensão que havia entre nós.

- Então... Eu esqueci-me de avisar os meus amigos que me fui embora. – disse atrapalhada. – Não deve ser grave, eles devem ter encontrado alguém para fazerem coisas obscenas enquanto eu aceitei boleia da pessoa com quem choquei há um dia... Não deve ser grave.

Sorrio e resolvo tentar de novo com as provocações:

- Não é tarde para fazeres coisas obscenas com alguém que encontraste no bar.

- Isto é um mal entendido, o meu amigo é que me levou ao bar, eu não faço parte da comunidade. Eu sou hétero, desculpa... - respondeu-me.

- De hétero não tens nada. – respondi-lhe.

- Como tens tanta certeza?

- A maneira como me olhas, a forma que reages ao que faço e até a tua negação te denuncia. – Digo sem tirar os olhos da estrada.

Ela ficou calada durante um tempo, provavelmente o tempo que foi preciso para arranjar uma resposta para o que acabei de dizer:

- Estás assim tão desesperada para ficares com alguém?

- Nem por isso, apenas sei aquilo que sei.

- Não és de muitas palavras, pois não?

- Não preciso de usar muitas palavras para expressar o que quero. Atitudes são mais valiosas. – Respondi-lhe.

A Gabi voltou a encarar a estrada em silêncio e não trocámos mais diálogo até ela me indicar a sua casa.

- Queres que te leve até à porta? – Questionei.

Repentinamente, ela inclinou o seu tronco na minha direção e com um sorriso de orelha a orelha afirmou. Esta rapariga é a pessoa mais inocente que já vi na minha vida, definitivamente.

A Gabi insistiu para eu entrar e para me apresentar a casa:

- Este quarto não está a ser usado por ninguém e estamos a tentar arrendá-lo para conseguirmos pagar a renda com mais facilidade. Eu vivo com a minha melhor amiga, a Alice. Ela é um amor de pessoa... às vezes. – Sorriu. – Seria um prazer ter-te cá se quiseres, obviamente!

- Obrigada, Gabi. Se precisa eu aviso logo! – Disse.

- Só espero que precises. – Ri-se e dá-me um abraço.

Fiquei perplexa com o que acabara de acontecer que nem consegui reagir...

- Eu... Eu acho que vou andando para casa agora! – respondi de imediato por não saber o que fazer.

Assim que lhe disse isto, a Gabi imediatamente mudou a sua expressão facial:

- Oh, ok... Tudo bem! Vemo-nos na escola então. – dá-me um beijo na bochecha e mais uma vez os meus olhos arregalaram-se e borboletas na barriga surgiram. Apressei-me a sair. Não estava a conseguir lidar com aquelas sensações no momento.

Cheguei à casa do Valentim e assim que entrei, vi algo que me deixou completamente chocada:

- Estou a atrapalhar alguma coisa? - Pergunto com cara de nojo.

- Camila, isto não é nada do que estás a pensar! - Diz a Mariana no tempo em que estava a tapar o corpo com a primeira coisa que lhe apareceu à frente, que neste caso foi a almofada do sofá.

- Eu estou a ver com os meus próprios olhos, não preciso sequer de pensar muito. - Digo com raiva.

- Camila, eu não queria que isto tivesse acontecido. - Diz o Valentim, já meio vestido.

Assim que ele reproduziu estas palavras a Mariana olhou para ele com uma cara de espantada e chateada.

- A tua paixão por mim é tão grande que até me deste o tempo que foi preciso para pensar em nós, não é Mar. Uma paixão tão grande que te deste ao luxo de me iludir ao máximo, pensar se realmente valia a pena seguir em frente ou não com a minha vida. Uma paixão tão grande que até resolveste voltar aos tempos antigos! – Viro os olhos para o Valentim e volto a olhar para ela de novo. – Coisa que me disses...

- Calma, Camila! As coisas não são dessa maneira! Eu...

- Eu ainda não terminei de falar! – Levanto a voz e logo a seguir retorno ao tom inicial. – Disseste-me que me querias e o motivo de estares cá era eu. Tudo farsa!

Viro o olhar para o Valentim:

- E tu... Tu sabes de tudo o que sofri com ela, as minhas dúvidas, os meus choros, tudo! Eu nem sequer consigo entender. Eu nunca conseguiria fazer-te algo assim! Pensava que eras a minha família por escolha e afinal... - Faço uma cara de repugna. – Saíste-me um traidor como toda a gente em que confiei.

- Eu não entendo porque estás a reagir assim... - Responde-me o Valentim.

- E a tua namorada? Vais continuar a mentir-lhe ou vais ganhar maturidade para acabares o relacionamento?

- Essa rapariga não tem nada a ver com esta conversa! – Defende a Mar.

- Não tem? Ela retrata e reforça ainda mais a falta de caráter do Valentim, não me digas que não tem a ver.

Os dois ficaram calados sem saber o que responder com olhares cabisbaixos.

- Não falem comigo, não quero olhar para a cara de nenhum de vocês os dois - Disse com raiva - Tu pra mim eras como um irmão. Eu não acredito que fizeste isso comigo. – Começo a caminhar para sair de novo.

- Camila, deixa-me explicar! - Diz Mariana a correr na minha direção toda nua.

- Explicar o quê? – Pergunto. – O porquê de estares nesses trajes? Eu já não sou uma criança para me ensinarem o que é sexo, obrigada.

- Eu não queria... - Diz a Mariana num tom reticente e começa a chorar.

- Pensassem nisso mais cedo. – Abro a porta de casa e dirijo-me aos dois com a cabeça. - Sejam felizes.

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⏰ Última atualização: Jul 16, 2020 ⏰

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Ânsia pelo AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora