Ela pela janela (final)

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Não há por que limitar-se


A janela já não tinha mais motivo de ser. Cobriram o jardim, cobriram a chuva, cobriram a luz e o ar. Preencheram tudo com motivos egoístas, com planos mentirosos, com desejo de morte. Os passarinhos não cantavam mais, não ali, e as conversas com Deus tinham que ser em outro lugar. Sempre disseram a ela que quando uma porta se fecha, uma janela é aberta. Mas e quando fecham a janela? Ela não podia falar por ninguém, mas agora quem havia aberto tinha sido a alma dela. E tão aberta que estava, não precisava de janela, agora seria janela para os outros. A janela já não era motivo pra fazer alguém ficar, mas por não ser motivo de ficar, havia se tornado motivo de criar coragem e ir. "Ide" dizia a janela. "Vai e mostra que há mais o que ver do lado de dentro do que há lá fora".

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