Capítulo I

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Assim que entrei na rua de casa, naquele dia infeliz, um medo súbito percorreu toda extensão do meu corpo. Os carros de polícia parados em frente ao meu prédio, com seus giroflexes ofuscando minha visão, corpo de bombeiro, ambulância, e eu temia que o prédio estivesse em chamas ou alguma coisa parecida.

Minha preocupação naquele momento era somente chegar em casa para sairmos para jantar, para comemorarmos nosso aniversário de casamento, e ela provavelmente já estava me esperando. Mas não era nada daquilo que eu imaginei, era pior, era o dia que minha vida desmoronou feito um prédio sendo implodido. Foi o pior dia da minha vida.

- Senhor Rui? _ Perguntou um policial assim que estacionei o carro, ainda na rua, pois não podia entrar na minha garagem.

- Sim, sou eu mesmo.-Perguntei aflito por ter sido interpelado pelo policial.

- Como vai, Sr. Rui? Sou o Sgtº Alvarez, queira me acompanhar, por favor.

- Aconteceu alguma coisa, sargento?! _Neste momento o sangue já tinha sumido das minhas veias e meu coração palpitava freneticamente dentro do peito.

- Sim... Aconteceu!

Aquela sentença pronunciada pelo policial teria uma dimensão bem maior dali a alguns segundos em minha vida. Caminhamos em direção à área comum do edifício, o porteiro me encarou com olhar de pena, meus vizinhos tentavam sorrir consternados, minha amiga Bel chorava copiosamente e em todos os olhares, eu busquei o dela, mas não encontrei, de todas as pessoas que estavam ali, a única que importava era ela, mas ela não estava presente. Ela já não estava mais aqui! Engoli em seco, um nó se formou na minha garganta quando vi alguns policiais em volta de um corpo.

- O senhor é o marido da Senhora Helen diBiase, certo?

- Sim. - Sussurrei...

Foi quando percebi as pontas dos cabelos longos e loiros espalhados em cima do gramado e escapando de baixo do pano que cobria aquele corpo, provavelmente o lençol fora dado por uns dos vizinhos para cobrir seu lindo corpo. Corri até ela e a descobri pedindo a todo os deuses que não fosse minha amada esposa, mas quando vi o vestido preto de alcinhas, que cobria aquele corpo, o mesmo que ela havia comprado no brechó de Paris na nossa lua de mel, aquele que balançava em seu corpo, acompanhando o movimento dos seus quadris largos... Aquele corpo no chão, era ela, não podia ser ela, mas era, era a minha Helen.

- Não... AMOR, NÃO ! _Gritava em desespero. - NÃO!

Eles me seguravam, tirando-me dali. Eu lutava e me debatia, mas não conseguia voltar para perto dela... Ela não se mexia. O vento estava levantando seu vestido, suas coxas estavam de fora... Eu precisava cobrir, eu precisava arrumar seus cabelos, ela não gostava dos cabelos embaraçados... Eu tentei chegar perto dela, mas não consegui. Eu não consegui. Ela se foi e eu não consegui chegar perto dela...

A última coisa que restou do nosso amor foi um bilhete de despedida: “Me desculpa para sempre, mas eu já não suporto mais, a dor do amor precisa chegar ao fim, sempre sua, Helen”.

E aquelas palavras foram indecifráveis durante meses, meses em que eu vivi na completa escuridão, sem entender o motivo do seu suicídio. Sempre fomos felizes, somos jovens e independentes, quando eu chegava em casa, todos o dias, seu sorriso aquecia meu coração, sua felicidade me contagiava, sua leveza me acalmava. E por mais que eu não acreditasse que meu amor pudesse me abandonar assim dessa maneira, o laudo da perícia foi definitivo: Helen cometeu suicídio!

Pulseira de berloques (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora