Capítulo IV

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Naquela tarde eu acabei adormecendo, e quando acordei Bel já não estava mais em minha cama, apenas seu cheiro, impregnando meu corpo e o travesseiro que um dia pertenceu a Helen. Foi quando me dei conta que Bel estava aos poucos me conquistando, e saber que esse sentimento surgia de uma amizade bonita e despretensiosa me alegrava o coração.

Foi quando tomei uma decisão definitiva: eu precisava seguir adiante. Como estava à toa e sozinho, resolvi começar a grande faxina, primeiramente as roupas, tirei-as do armário com cabide e tudo e joguei dentro de uma caixa de papelão. Cada peça de roupa era uma lembrança, cada lembrança a dor que eu sentia se tornava mais e mais agonizante. Quanto mais eu sofria, mas raiva eu começava a nutrir por Helen, que já não considerava como minha, afinal, como pôde me abandonar e se entregar nos braços da morte?

- POR QUÊ? _Gritei de raiva, agarrado a um vestido que ainda trazia seu perfume.

Inconformado e com raiva, desisti das roupas, entrei no banheiro e bati a porta com força. Sentei-me no vaso, apoiei a cabeça nas mãos, suspirei e olhei em volta. Foi quando vi a bolsa da Helen pendurada atrás da porta do banheiro. Como eu nunca tinha pensado nisso? Podia ser que ali eu encontrasse algumas respostas para o seu suicídio. Peguei sua bolsa e comecei a vasculhar, o primeiro objeto que vi foi seu celular, mas estava descarregado. Larguei a bolsa no chão, busquei um carregador no criado mudo e conectei o celular na tomada. Não esperei carregar, assim que a luz da bateria se acendeu, eu liguei o celular. Surpreendi-me com a quantidade imensa de mensagens de um número totalmente desconhecido. Cliquei para ver do que se tratava, pois não passava outra coisa em minha cabeça, Helen estava me traindo, mas para minha surpresa, as mensagens eram de uma loja de joias, a mesma loja que Helen ficou namorando a pulseira durante vários minutos, a mesma pulseira que coincidentemente eu vi no pulso de Bel ou pelo menos uma bem parecida. Mas as mensagens se referiam apenas a um par de alianças, e por mais que eu me esforçasse, não entendia o significado daquelas mensagens. Por que diabos Helen tinha comprado um par de alianças?

A ira veio a galope, comecei a quebrar meu apartamento inteiro, atirei os porta-retratos que estavam deitados sobre a cômoda todos na parede, chutei as portas do armário até partirem ao meio, arranquei as coisas de Helen do armário de das gavetas e joguei-as todas no chão... Mas nada de que eu fazia diminuía a raiva que tomava conta de mim, por fim, caí em minha cama e extravasei minha angústia em meio ás lágrimas e ao perfume de Bel. Horas depois de completa inércia, tomei coragem e saí de casa. Precisava saber que alianças eram aquelas. Tomei um banho, vesti-me e quando passei pela sala, vi um bilhete de Bel em cima da mesa da sala.

"Tive um compromisso inadiável, mas assim que voltar, começaremos a dar um novo sentido a nossas vidas. Sua dor precisa chegar ao fim. Sempre sua, Bel."

Aquelas palavras me petrificaram, o impacto que elas causaram em mim fizeram meus pelos se arrepiarem da cabeça aos pés. Aquilo não era possível! Preferi não pensar e sai rapidamente do apartamento. Queria saber sobre aquelas malditas alianças...

Chegando á joalheria, descobri algo terrível, Helen havia encomendado duas alianças com os nossos nomes, provavelmente presente de casamento. Mas não foi isso que me fez perder o ar, o que mais me desestabilizou foi saber que a pulseira de berloques, que Helen tanto queria, também fazia parte do pedido. E o que realmente estava me fazendo querer morrer era que as alianças tinham vindo como pequenos detalhes equivocados e retornaram para o ourives, já a pulseira de berloques... Não!

Meu mundo girava na volta para casa, minha cabeça tinha dado um nó com perguntas sem respostas. A pulseira de berloques era a mesma de Bel? Por que Bel usava a pulseira como se fosse dela? Bel esteve com minha mulher no dia de sua morte? Aquelas dúvidas estavam me enlouquecendo, quando cheguei em casa, agarrei o bilhete de Bel, aquelas palavras, eu precisava entender o porquê daquelas palavras estarem me afetando tanto. Ri e reli, foi quando me dei conta que parte do bilhete era o mesmo da nota de despedida de Helen. Essa revelação foi como um soco no peito, eu perdi o ar, eu não queria acreditar. Corri no quarto e abri com tanta força a gaveta do criado mudo que tanto a gaveta como as coisas que estavam dentro voaram longe.

- Cadê... Cadê... _Falava em voz alta, ajoelhado no chão do quarto, tentando encontrar o bilhete de Helen em meio á bagunça e confusão de coisas espalhadas.

Quando finalmente achei, comparei os bilhetes, minhas mãos tremiam, e somente naquele momento me dei conta que a letra de Bel era a letra da nota de despedida de Helen.

- Não! _Sussurrei. Não fora Helen que escrevera!

Passei certamente uns quarenta minutos ajoelhados no chão do quarto, em meio ás coisas da Helen, no completo escuro, olhando fixamente para os dois bilhetes, recordando, analisando, encaixando os fatos. Até que escuto a voz da Bel me chamando alegremente da sala do meu apartamento. Levanto-me rapidamente e caminho a passos largos em sua direção, toda raiva e indignação presentes em meu olhar.

-CONFESSE! _Grito assim que a vejo.

-Ahhh, Rui! Me assustou. O que houve, querido? _Pergunta ela sem entender o meu comportamento.

-Foi você, não foi? Confesse! Você matou Helen. Você MATOU a minha Helen! _Digo exaltado.

Seus olhos cresceram na minha direção, e sua palidez repentina só denunciava sua culpa,  quando ela abriu a boca para me responder, balancei os dois bilhetes bem na sua cara.

-Não adianta mentir! A nota de despedida de Helen, com a SUA letra! COMO pôde?! _Agarrei seu pulso com força. – E essa pulseira de berloques, era dela, não era? _Soltei seu braço quase a empurrando.

Minha raiva fez minha vista ficar turva, não conseguia acreditar que minha amiga tinha assassinado minha amada esposa. Bel se sentiu acuada com minha fúria e se se encostou à parede, talvez com medo de uma agressão de minha parte. Eu já estava quase a ponto de fazer isso, tamanha era minha revolta.

-DIGA! _Urrei.

- SIM! _Lágrimas escorreram pelos seus olhos. – Eu te amo, desde que conheci vocês, assim que se mudaram para cá, admirava e sentia inveja pela maneira como você a tratava, nunca ninguém me tratou como você a tratava. Me apaixonei sim! Queria você pra mim! _ Dizia ela em um pranto convulsivo. - Cada dia que passava eu queria você mais do que qualquer homem fui capaz de querer na vida!

-E resolveu matar a mulher que amo?! COMO PÔDE? ! _Digo me aproximando, completamente indignado. Estava a centímetros dela...

-Eu somente queria ser amada por você! Nesses dias você foi feliz, não foi? Diga que não gostou do nosso sexo?! Diga se ela era quente como eu sou!!!  _Ela me atacou tocando no meu ponto fraco, me fazendo recuar. - Eu SOU a mulher que te fez GOZAR como nenhuma outra! CONFESSE!

Não soube o que responder, no fundo ela tinha razão. E ela percebendo minha fraqueza, deu um passo á frente e logo seus lábios acariciavam meu pescoço, senti seu rosto úmido junto ao meu, ela mordeu minha orelha.

-Diz que não foi feliz esses dias comigo?! _Seus seios roçavam em meu tronco por sob nossas roupas. Suas mãos apertavam meus bíceps.

-Hummm.  _ Solto um gemido estrangulado.

Não queria sentir tanto tesão por ela, mas era mais forte que o meu consciente. Suas mãos desceram pelo meu abdômen, ela se ajoelhou á minha frente e abriu a minha braguilha, gemi alto ao ter o meu membro abocanhado por Bel, minha amiga e minha paixão, mas principalmente assassina de minha esposa.

Entreguei-me aquele momento, e após mais uma sessão de sexo intenso com Bel, saí desorientado do apartamento, deixando-a desmaiada de cansaço. Eu precisava pensar, eu precisava ser forte, eu precisava denuncia-la, eu precisava dela.  Andei por entre as pessoas que passavam na rua, alheias a minha indecisão: teria coragem de deixar o assassinato de minha amada esposa impune? Ou teria coragem de denunciar minha louca amante? Uma certeza eu tinha: precisava pensar! Caminhei por entre essas pessoas desconhecidas, vez por outra eu me recostava numa parede de um bar qualquer, absorto em pensamentos, dividido entre o certo e o errado.  Caminhei a esmo, me sentindo fraco, me sentindo perdido.

Eu poderia caminhar a noite toda, a vida inteira, mas sabia que a dúvida nunca mais me deixaria ter paz.  Quando voltasse para casa, Bel estaria me esperando com seu corpo fogoso, pronta a me enlouquecer com o seu sexo quente; Helen estava morta e esperando que eu fizesse justiça. Eu só precisava pesar na balança, o que valia a pena?  Uma cama quente ou uma consciência limpa?

FIM

Pulseira de berloques (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora