A fuga

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Lurian corria freneticamente através do corredor escuro. Seus pés vacilavam vez ou outra quando encontravam algum desnível no chão, tateava a parede úmida e limosa a procura de algum equilíbrio, um tropeço seria fatal.

Continue. Dizia a si mesma.

Tudo que enxergava era a escuridão, que se estendia infinitamente a sua frente. Não. As sombras não estavam apenas a sua frente, estavam atrás, em cima, embaixo, ao redor, sempre a acompanhando, a espreita, a espera. Algumas vezes confundia-se com a escuridão, algumas vezes era a escuridão.

Tudo que ouvia era o som de seus passos apressados se chocando contra as pedras, as batidas de seu coração que pulsava em um ritmo acelerado zuniam em seu ouvido. A respiração pesada, cortada, ecoava nas paredes ampliando a sensação de medo.

Um forte cheiro de bolor entrava pelas suas narinas, seu olfato acostumado a doces fragrâncias recusava o odor provocando-lhe de náuseas.

Olhou rapidamente o mapa do castelo em um dos raros momentos de descuidos dos sacerdotes.

As passagens secretas do subterrâneo eram tantas, um corredor era a cópia exata do anterior, um emaranhado de caminhos, perder-se ali era uma coisa bem provável. Perguntar-se se havia entrado no túnel errado, talvez estivesse correndo em círculos, poderia facilmente ter se confundido. Um erro e levaria uma eternidade até encontrar a saída, com alguma sorte encontrariam seus restos mortais para dar-lhe uma cerimonia fúnebre descente.

Estava perdida, isolada, nem saberia retornar com segurança a seus aposentos. Sentiu-se tola com sua estupidez, acreditou que conseguiria escapar, seu plano de fuga estava prestes a fracassar.

Persista. Só mais um pouco. Repetia.

Para seu total alivio um pequeno ponto luminoso surgiu, era as frestas quase imperceptíveis da porta camuflada na parede. A passagem secreta que a levaria até o mundo externo.

Arrancou com mais velocidade a curta corrida que a levaria até a saída, até a sua tão desejada liberdade.

A porta de ferro cravada nas pedras abriu facilmente, as dobradiças enferrujadas rangeram ao movimentar-se, um barulho irritante ressoou pelo longo corredor. A claridade inesperada feriu suas retinas acostumadas à escuridão, acostumou-se a algo que nenhum ser humano deveria se acostumar. Habituou-se a viver nas sombras.

Lurian.  O segredo do reino.Onde histórias criam vida. Descubra agora