A luz ofuscou sua visão momentaneamente, colocou a mão sobre a testa criando um ponto de sombra, protegendo suas retinas, até se acostumarem a luminosidade repentina. Os raios solares vieram de encontro a seu rosto despigmentado, a sensação térmica do sol em sua pele era revigorante.
Fechou os olhos e deu o primeiro passo para fora do túnel, um sorriso escancarado brotou em seus lábios, 'liberdade', pensou extasiada.
Estava em uma pequena clareira, no meio da mata, as folhagens camuflavam perfeitamente a porta por onde saiu. Apressadamente fechou-a, recusando-se a olhar para atrás, deixaria todo seu passado ali, naquelas paredes, que durantes anos foram testemunhas de seu sofrimento, esqueceria tudo naquele túnel escuro.
Olhou ao seu redor com encantamento, tudo era novidade, os sons, as cores os cheiros. Queria rir e chorar para transbordar o turbilhão de sentimentos que represara, mas era demasiadamente cedo para comemorar vitória, conteve a emoção, o momento exigia racionalidade, não poderia perder-se em seus devaneios, afogar-se em lágrimas só a atrasaria. Venceu uma pequena batalha, da imensa guerra que estava por vir.
Não sabia o que encontraria aqui fora. Seu único contato com o mundo externo, era através das janelas da sua ala, jamais pisou fora dos muros, ou teve contato com pessoas além de um grupo seleto de sacerdotes, que a tratavam como uma relíquia e uma aberração ao mesmo tempo. Intimamente sentia-se mais próxima a uma aberração.
Todos temiam que ela se tornasse uma aberração incontrolável.
Tentou localizar-se para seguir pelo caminho correto. A noite caia rapidamente, para sua sobrevivência, precisava embrenhar-se na mata fechada. Lurian não temia os animais noturnos, nem os perigos que se escondem na escuridão, as sombras eram seu refúgio.
— Alteza, vai a algum lugar?
Seu corpo todo permaneceu imóvel por um momento, em estado de alerta, a respiração suspensa. Conhecia o dono daquela voz.
— Ebu? — sussurrou decepcionada.
Por entre os arbustos surgiu uma figura masculina, com armadura reluzente, entalhado no peito o brasão real. A mão direita mantinha-se próxima a bainha de sua espada. Ele a olhava seriamente, com a mandíbula contraída, seu semblante endurecido denunciava que a situação era crítica.
— O que faz aqui? —Inquiriu ela sem encara-lo.
Lurian usou sua visão periférica para descobrir soldados escondidos nas arvores, ou bestas farejadoras, provavelmente metade da guarda real estaria ali, para captura-la Sabia que ele já a devia ter delatado, Ebu ambicionava galgar degraus extras dentro da Ordem, queria um posto de prestigio próximo ao Rei. Era uma questão de minutos até os soldados a levarem de volta até seu clausulo.
— Eu que deveria te fazer essa pergunta. —retrucou amigavelmente.
Ela finalmente levantou o olhar, o orbe incrivelmente amarelo, um ocre intenso avermelhou-se momentaneamente, encarava-o enraivecida.
— Já avisou os guardas? —Perguntou magoada.
Lamentou sua sorte, afoita esqueceu de pegar uma adaga, não que ela realmente soubesse manuseá-la perfeitamente, mas se sentiria mais confiante empunhando uma. Segurou com força seu braço enfaixado, pressionado com as pontas dos dedos as faixas, sentindo a aspereza do tecido que cobriam toda a extensão até quase o ombro. Talvez devesse quebrar sua promessa e desenfaixar sua mão encoberta.
Não.
Lurian manteria sua promessa, não atacaria ninguém.
—Estou sozinho. Fique tranquila.
Ficar tranquila? Impossível. Seu olhar desconfiado, direcionou-se novamente para a mão dele próximo a espada. Ele estava blefando. Instintivamente ela recuou um passo.
— Meu pai?
— Também não.
Ela sorriu nervosamente, um riso de puro escárnio misturado ao deboche.
— Pretende me levar de volta sozinho? Quanta coragem guardião.
— Não pretendo leva-la de volta.
Ela afastou-se bruscamente, experimentou uma sensação avassaladora de pânico, seus olhos foram em direção à espada ainda embainhada presa a armadura. Estava encurralada não havia rotas alternativas para uma possível fuja. Morreria ali, sozinha.
— Não? O que pretende então? Me matar aqui, sem testemunhas?
— Porque acha que desejo sua morte? Sou seu guardião, não posso deixa-la sair sozinha por aí. O mundo aqui fora pode ser bem perigoso.
— Você é guardião do Rei. Não pode me ajudar.
— Essa decisão não é sua.
— Se o pegarem será acusado de alta traição, será punido com a morte.
— Então é melhor nos apressarmos e sairmos daqui.
— Não quero que se arrisque por mim. Não quero que morra por minha causa.
— Minha família serve a sua há centenas de anos, meu dever como guardião é proteger a verdade, muitos homens vivem e morrem sem terem feito nada de relevante, eu vou lutar por algo que acredito, se isso me conduzir à morte, terei uma morte honrosa.
Comoveu-se com as palavras dele, um gesto de abnegação era algo incomum, todos sempre queriam algo em troca, algum favor especial.
— Obrigada pela lealdade. —Agradeceu.
Ele estendeu a mão para ajudá-la a subir no cavalo, porém ela continuou imóvel. Ter contato físico com alguém do sexo oposto era no mínimo assustador.
— Não posso te tocar. —Sussurrou.
— Não estamos mais no palácio. Não há tempo para isso.
— Mesmo assim, não é prudente.
Percebendo a batalha interna que ela travava, desceu rapidamente do cavalo.
— Princesa Lurian, venha.
O longo vestido que usava limitava seus movimentos dificultando sua subida até a sela, porém insistiu em fazê-lo sozinha dispensava qualquer tipo de ajuda. Sentou-se desajeitada, a imensa camada de tecidos em breve se tornaria um problema eminente para uma fugitiva. Antes que Lurian acomodasse seu corpo sobre o cavalo o guardião sentou-se atrás dela em um gesto repentino.
— Desculpe, estamos perdendo um tempo precioso.
— Não seria mais apropriado se eu ficasse atrás de você?
— Você poderia cair, e vamos cavalgar a noite toda, poderá dormir um pouco encostada em mim.
Lurian encolheu-se constrangida, dormir encostada em alguém era algo impensável para ela.
— Para onde está me levando?
— Para onde eu sei que estava tentando ir. O único lugar onde estará a salvo, mas o caminho é longo e não podemos usar magia, os sacerdotes a achariam rapidamente.
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Lurian. O segredo do reino.
ФэнтезиPara alcançar o poder, eles libertaram até o mal. Para manter o segredo sacrificaram e selaram o destino de um novo hospedeiro. Para alcançar sua liberdade ela iniciará uma guerra.