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"Vamos, Natália!" chamei a pequena garotinha que implorava para sua mãe levá-la para comprar chocolate. "A prima te leva, deixa sua mamãe descansar, Nat," falei e tia Jaque, que estava deitada no sofá, me agradeceu sussurrando.

"Então a gente vai poder comprar muitos e muitos chocolates?" a pequena perguntou esperançosa.

"Depende. Quantos aninhos você tem mesmo?" fingi que pensava, enquanto ela tentava erguer os quatro dedinhos da mão para indicar sua idade.

"Quato, prima," respondeu, encarando-me com os olhos verdes iguais aos de minha mãe.

"Então a gente compra 4 chocolates diferentes, ok? Mas você vai ter que dividir comigo," decidi, enquanto minha tia procurava o dinheiro dentro de sua enorme bolsa para me entregar.

"Aqui," ofereceu-me as duas notas de 10 reais e virou-se para Natália. "Mas você tem que dividir com sua prima Carol, tá bom? Não pode comer tudo sozinha, não pode ser egoísta. E tem que dar a mãozinha na hora de sair, nada de correr na frente," tia Jaque alertou a pequena enquanto eu guardava o dinheiro no bolso da calça jeans.

"Tá bom, mamãe. Obrigada!"


*


"Olha quem não aguentou de saudades de mim," ouvi a mesma voz masculina irritante falar enquanto esperava minha pequena prima escolher seus chocolates na enorme prateleira.

"Você de novo?", queixei-me.

"Eu trabalho aqui já faz algumas semanas, então quem veio atrás de mim foi você," sorriu convencido. "E dessa vez já trouxe até parte da família só para me conhecer," apontou para a garotinha que colocava as mãos na cintura enquanto encarava os doces, provavelmente decidindo quais pegar.

"Só nos seus sonhos, loiro," respondi.

"Bruno Kammers e você?" apresentou-se, do nada, e eu o encarei confusa. "Se me chamou de 'loiro' é porque quer saber meu nome," explicou-se.

"Sua lógica é tão errada..." comecei, mas parei quando lembrei-me de uma coisa. "Ah, então quando me chamou de 'gatinha' foi por isso?" ri da expressão culpada que fez. "A-há!"

"Fui pego," admitiu. "Mas ainda estou esperando sua resposta, gatinha."

"Maria Carolina."

"Sei que vai parecer que eu estou dando em cima de você agora, mas você que decide se vai levar para esse lado ou não. Seu nome me fez pensar em uma princesa."

"Você totalmente deu em cima de mim," afirmei, rindo alto.

"Talvez."

Natália surgiu com sete chocolates de diferentes tipos puxando minha camiseta. Minha bolha particular com Bruno fora rompida.

"Prima, eu quero esses aqui."

"Nat, combinamos que você ia pegar só um, dois, três, quatro," enumerei enquanto apontava para os quatro primeiros chocolates da cesta. "Você vai ter que escolher só quatro entre esses que você pegou."

"Mas eu quero todos!" gritou, com seu rostinho começando a ficar vermelho, indicando que logo começaria a chorar como se eu estivesse torturando-a de forma cruel.

"Ei, não foi esse o trato, mocinha," falei firme.

"Mas... Mas..." balbuciou triste, jogando a cesta azul no chão. "Então eu não quero!" a pequena protestou.

"Não faz isso, Natália! Que coisa feia!" ralhei e ela se encolheu desfazendo o rosto bravo.

"Desculpa."

"Tudo bem, só não faça mais isso. Que tal se eu te ajudar a escolher os chocolates?" perguntei, abaixando-me para ficar com o rosto na altura do dela.

"Não, pode ficar aí conversando. Mamãe falou que não é certo ine... ite... iperromper os adultos," a criança afirmou. "Eu posso pegar quato chocolates, né?"

"Sim, só quatro."

Natália saiu, devolvendo os sete chocolates à prateleira para pegar os quatro que ela mais queria. Então, ouvi um barulho de tênis batendo contra o chão e lembrei que Bruno provavelmente ainda estava ali. Levantei-me, usando a prateleira como suporte, e comecei a encará-lo. 

Irritante e mal-educado. Péssima combinação.

"Você cuida dessa criança por livre e espontânea vontade?" Bruno perguntou, semicerrando os olhos, desconfiado.

"Claro que sim, eu adoro crianças."

"Você é louca, doida, maluca..." começou a listar os melhores adjetivos do mundo, mas eu o interrompi.

"Tudo isso por que eu gosto de crianças? Amo crianças! Louca por crianças. Quero umas 20 crianças na minha casa quando eu for mais velha."

"Me lembre de não ser seu amigo," falou. "Tenho que ir, até amanhã, que eu sei que você vai vir me ver de novo."

"Convencido. Se eu vier, vai ser por causa de falta de comida em casa, não de você," ri.

"Vou fingir que acredito em você, Maria Carolina."

89 Dias & Uma CartaOnde histórias criam vida. Descubra agora