Naquela hora reinava na casa um silêncio mortal. David havia levado a filha para brincar no parque permitindo que a mulher permanecesse um pouco mais na cama. Ela acordou com a claridade do sol difundida no quarto parcialmente, tinha sido uma noite quase que inteira rolando na cama e pensando nos problemas. Em contraste com o modo a que estavam acostumados a viver agora enfrentavam dificuldades financeiras, a morte de seu pai num acidente abalou-a em vários sentidos e pesou na decisão de se mudarem. A casa nova na verdade era velha e tinha alguns problemas. Uma ou outra rachadura e tinta descascando, encanamento velho, uma ou outra goteira aqui e ali. Uma casa como milhares de outras, mas que era deles. Não era grande, mas confortável e seria seu lar por um bom tempo já que sua antiga casa fora vendida para quitar algumas dívidas da família. Ela era composta de dois quartos, sala, cozinha, banheiro e um comodo menor que David havia tomado como um escritório.
Não era mais uma questão de gostar ou não, nem de se adaptar, não havia mais para onde ir. Não era como se eles tivessem outra opção e Carolina estava ciente disso. Talvez as coisas melhorassem um pouco no futuro, mas antes disso poderiam ficar pior. Suas ilusões já haviam caído por terra sobre muitos aspectos. Não era uma pessoa desiludida, era mulher lúcida e bem resolvida. Sentiu a cabeça pesada ao colocar os pés no chão, tateio a procura dos chinelos rumando para o banheiro. Uma das piores noites que já passara. Um banho restauraria suas forças levando o cansaço embora. Pensou. O banheiro era um cômodo pequeno, suas paredes nuas e sem reboco revelava os tijolos e a fiação, a pia ficava quase encostada na porta, a privada passos atrás e finalmente o chuveiro. Este separado do resto apenas por duas peças de acrílico embaçado. tirou suas roupas e colocou sobre na pilha já crescente de roupa suja. Com o chuveiro já ligado fechou o box de acrílico se enfiando de baixa da água apenas sentindo as primeiras gotas do líquido morno percorrer-lhe o corpo.
Com a água caindo sobre si ensaboa seus cabelos pretos com o shampoo, minutos depois a espuma branca desce pelo ralo. Ao levantar a cabeça em direção ao teto vislumbrou um rosto espiando por cima do box. Desviou os olhos, sem tempo de gritar deu um passo para trás, olhou novamente para o lugar em que o rosto estava e não viu nada. Desligou o chuveiro com as mãos trêmulas, coisa que era incomum para sua profissão mesmo nos dias mais tensos. Enrolada na toalha deu uma ultima olhada na direção do box e saiu dali. Teria realmente visto algo? Imaginado apenas?
Mais tarde naquele dia comentou com David o corrido:
— Aconteceu uma coisa estranha comigo hoje.
— É? O que?
— Não, não vou dizer, você vai achar que é loucura. Eu achoque é uma loucura.
— Pode me contar, não vou rir.
— Tá bom lá vai. Acho... Acho que vi alguém no banheiro hoje.
— Como assim Carol?
— Eu não sei explicar, estava tomando banho olhei pra cima e vi um rosto de criança dependurado no box. Tomei um susto e quando olhei de novo tinha sumido.
— Acho que você está trabalhando demais é só isso.
— Pode ser. — ela concorda massageando suas têmporas —Talvez eu tenha ficado muito impressionada com o caso daquele menino que morreu. Ele tinha a mesma idade da nossa filha.
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A MENINA NO ESCURO
Misterio / SuspensoAna é uma menina com um dom especial. Desde muito pequena ela já mostrava sinais, mesmo que sutis de que não era uma criança comum, mas seus pais nem desconfiam disso, David o pai dela é quem mais se perturba pois como um bom jornalista ele está ac...