Capítulo 7

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Liz

Acordo cedo, por algum milagre me sinto descansada. Isso é inédito em um mês, eu acho. Fazia tempo que não me sentia tão bem. Algo me diz que foi o vinho, não sou acostumada a beber tanto assim, além de toda confusão que foi meu dia.

Santo Cristo! Será que aquilo tudo aconteceu mesmo?

Sim, aconteceu, ainda posso ver os olhos dele. Sorrio lembrando-me do nosso jantar e de como ele deixa uma sensação diferente no meu peito, nunca me senti tão vulnerável assim com nenhum outro homem. Mas rapidamente o encantamento pelo meu vizinho gato se desfaz e da lugar a tristeza do dia de hoje.

10 de Maio.

Há dez anos minha vida mudou completamente e eu deixei de acreditar em tudo que significa a palavra família pra mim. Nunca poderei esquecer aquilo tudo. Levanto-me, vou ao banheiro escovo os dentes e vou à cozinha passar um café. Hoje, diferente de anos anteriores, eu estaria chorando na cama lamentando tudo que passou. Mas hoje não, não posso mais viver me lamentando, sentindo pena de mim e de tudo que já aconteceu comigo.

Estou triste é claro, mas não quero mais chorar, quero ser forte, preciso ser forte. Preciso passar por esse dia da melhor forma possível. Tomo meu café, e resolvo ler um livro. Essa é uma ótima forma de fugir da minha realidade. Como dizia Fernando Pessoa: "A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida.", ele sabia das coisas.

Na hora do almoço, faço um sanduíche rápido e volto a ler. O livro é tão bom que só venho perceber a hora quando meu celular começa a tocar e eu já até sei quem é.

Cristina.

Corro pra atender antes que ela fique chateada.

— Oi Cris.

Oiiii fofinha, já está arrumada?

— Hãm? Não, não está muito cedo? Não sei nem para onde vamos.

— Abriu um barzinho novo com música ao vivo aí perto, não se preocupe, daqui a quinze minutos estou aí pra te ajudar a se vestir.

— Ok, mas olha Cris, não fique chateada se eu não quiser demorar muito.

— Liz, nem vem, você me prometeu, agora vá para o chuveiro e trate de se depilar, não vou andar com um gorila do meu lado. – ela diz sendo provocativa.

Eu começo a rir, essa garota é louca, só pode, essa é a única explicação plausível.

— Cris, eu me depilo. – rebato ressentida.

— Só estou brincando fofinha, em um minuto estou aí. – ela fala divertida.

Ela desliga e eu continuo rindo, olho a hora, já são 19:15. Nossa, como a hora passou rápido. Corro para o banho, esfolio a pele, lavo o cabelo, depilo as pernas (para garantir não parecer um gorila como Cris falou) e vou me trocar, quando estou vestindo a calcinha à companhia toca.

Cris entra com um vestido curtíssimo de paetês prata, uma sandália na mesma cor com saltos assassinos. Os cabelos negros e cacheados caem nos ombros como cascatas de seda. Ela está linda como sempre.
Cris me abraça e já vai seguindo para o meu quarto tagarelando em como estamos atrasadas.

— Porque você não abriu a porta com a chave que te dei? – pergunto lhe beijando a bochecha.

— Acabei esquecendo na outra bolsa, só lembrei dentro do táxi. Mas deixa pra lá, amiga hoje é dia de brilhar... Temos que te deixar ainda mais linda. - ela dá um tapa na minha bunda e corre em direção ao guarda roupa procurando alguma coisa que eu não sei se terei coragem de vestir. Puxa um vestido preto que comprei na internet e nunca tive coragem de usar, ele tem um jogo de mostra e esconde com transparências, as costas tem um decote tão profundo que nunca seria possível vesti-lo com sutiã.

Azul Profundo ( Livro 1 Série Cores) SEM REVISÃOWhere stories live. Discover now