Capítulo 13

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Liz

Saio do apartamento do Gustavo soluçando pelo choro, não arrisco subir até meu apartamento pelo elevador para evitar que algum vizinho me veja nas roupas dele, vou subindo de dois em dois degraus a escada de emergência. Chego ofegante no meu andar, pego as minhas chaves na bolsa que resgatei no sofá dele e abro a porta, fecho-a como se estivesse fugindo de algum monstro lá fora.

Lembro-me do rosto dele me pedindo para ficar. Sinto-me cruel, mas eu não poderia ficar, todos que eu amo me abandonam. Não posso me dar o direito de amá-lo, ele me deixaria também, assim como meu pai, e assim como cada pessoa do meu passado. E foi tudo culpa minha.

Procuro meu celular na bolsa, preciso falar com alguém, penso de imediato em ligar pra Cris, fiquei um pouco preocupada por tê-la deixando-a com aquele estranho. Se algo aconteceu a culpa mais uma vez será minha. Desbloqueio a tela e vejo quatro mensagens da Cris, todas me perguntando se cheguei bem. Ligo pra ela.

— Oi fofinha, boa tarde! – Cris atende animada.
— Oi. – digo chorando.

— O que houve? – ela pergunta preocupada.

— Cris você poderia vir até aqui?

— Claro, só me dá uns vinte minutos que chego aí.

Desligo e corro para a cama. Todos os músculos do meu corpo doem, até os que nem imaginava que tinha, tudo devido a tanto esforço dessas últimas horas. Minhas lágrimas rolavam livres pelo meu rosto molhando o travesseiro quando a campainha tocou. Desvencilhei-me dos lençóis e fui abrir a porta. Cris entrou como um rojão porta adentro.

— Fofinha o que houve? Quem foi o desgraçado que te machucou?

— Vem, vamos sentar. – guiei-a até meu sofá. Ela já encarava minhas roupas como se tivesse visto um fantasma.

— De quem são essas roupas? – Cris me questiona sem meio termo, uma das muitas qualidades da minha amiga é que ela vai direto ao ponto.

— São do Gustavo.

— Quem é Gustavo?

— Eu o conheci na sexta-feira, ele é novo no prédio e acabei lhe oferecendo uma carona e de lá pra cá acabamos esbarrando um no outro, ontem ele me mandou umas mensagens enquanto estávamos na boate e eu estava confusa e fui ao apartamento dele pra tirar satisfações. Eu sou uma vadia não sou? – pergunto soluçando entre as palavras.

— Por que você seria uma vadia? Liz, você não está me contando tudo. Por que você está chorando desse jeito?

— Eu dormi com ele. - confesso limpando as lágrimas dos olhos.

— Você o quê? Liz, você está me dizendo que perdeu sua virgindade com um desconhecido? – minha amiga me pergunta alarmada.

— Sim. E foi incrível, você não entende Cris, ele é lindo, misterioso, tão gostoso e me fez sentir a mulher mais completa do mundo. Ele foi perfeito e cuidadoso comigo, minha primeira vez não poderia ter sido melhor.

— E qual é o problema então? Está na sua cara que você está afim do cara. Amiga, eu não estou entendendo, se ele é tudo isso que você está falando, qual o motivo do choro?

— Ele tem todos os elementos para fazer uma mulher se apaixonar por ele.

— Fofinha, isso é ótimo... Você nunca se interessou por ninguém.

— Eu não posso Cris.

— Liz, eu já te falei milhões de vezes que você não pode viver sua vida de acordo com o passado. O que ficou para trás já foi minha amiga, você é uma mulher linda, independente. Qual o problema em se apaixonar? Ele é solteiro certo?

— É, mas você não entende. Ele disse que me queria.

— Isso é que é um cara de atitude, na primeira transa já bateu a real. E porque você não aceitou, já que você está se apaixonando por ele?

— Cristina, todos que eu amo me deixam. Eu não aguentaria perder mais ninguém. Não tenho qualquer estrutura pra isso.

— Pode mudar essa ladainha Liz Maria Albuquerque. Você sabe quantas mulheres em São Paulo estão procurando um homem gostoso como esse aí? Ainda mais solteiro? Amiga, são milhares, inclusive eu estou na fila. Quer parar de chorar e correr atrás do seu homem? E se lá na frente as coisas não derem certo, você não será a primeira nem a última a se magoar com o amor, mas ainda amarei você e estarei aqui do seu lado para o que der e vier.

— Ele ainda não é meu homem. Eu ainda saí de lá batendo a porta, se você visse como ele ficou. Eu fui cruel.

— Liz, esse é mais um motivo pra você voltar lá conversar com ele e se desculpar, esse é só o seu primeiro relacionamento, não precisa casar com o cara. Curta o momento, ok? Você terá orgasmos múltiplos garantidos e ainda vai desestressar.

— Você sabe que pra mim não será só um caso. Não consigo ser assim, Cris. Sei que não serei a única a me machucar por um homem, mas as outras não perderam todos que amavam como eu perdi, em mim a dor é mais intensa, muitos acham que quando sentimos a dor de perder alguém na pele ficamos anestesiados para as perdas futuras, mas é o contrário, eu fiquei muito mais sensível.

— Eu sei, mas custauma vez na vida não pensar tanto nas coisas? Liz, qual foi à última vez quevocê fez o que lhe deu na telha? - você finge contar nos dedos e continua —Nunca minha amiga. Então se dê uma chance de viver, e tente apenas esquecer o seu passado, relembrá-lo não vai mudar o que aconteceu.

A Cris pode ser espevitada, mas ela tem razão. Eu nunca me arrisco, só faço o que esperam de mim. Nunca é minha vontade em primeiro lugar, é sempre o que pensarão de mim. Meu passado sempre está antes de qualquer coisa, talvez esse seja o momento de esquecê-lo, ou pelo menos fingir que esqueci.

— Obrigada Cris. Não sei o que faria sem você. – Abraço minha amiga apertado e quando nos afastamos pergunto curiosa. - — Agora me diz, você saiu da boate com aquele cara?

— Não, ele tinha mau hálito e dançava pessimamente.

Começo a rir do comentário sem noção dela.

— Jura? Ele era um gato, mas que bom que você não fez nenhuma besteira. – digo.

— Só não fiz por isso, se ele fosse gostoso como esse tal de Gustavo, eu ainda estaria uma hora dessas na cama dele gemendo horrores. - ela diz rindo. E eu a acompanho, Cris sempre sabe como me fazer rir.

O resto da tarde passa rapidamente, Cris nos esquenta uma pizza e comemos assistindo a alguns episódios da nossa série favorita, Sense8.

No começo da noite nos despedimos, e fico ali sozinha, em pé no meio da minha pequena sala olhando os quadros que meu pai me deu. Talvez a Cris esteja certa, eu preciso parar de olhar para trás.




Bom pessoal, 

Por hoje é só. Me contem o que estão achando amo ler os comentários.

Beijos!!! <3

Azul Profundo ( Livro 1 Série Cores) SEM REVISÃOWhere stories live. Discover now