capitulo 2

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As nuvens negras estavam camufladas pela noite sem luar e sem estrelas, pessoas perseguiam algo pela floresta, pareciam caçar. Munidos de suas belas armas; lâminas diversas, lanças, bastões e arco e flecha. Não gritavam para se comunicar, falavam normalmente e todos eram capazes de ouvir um ao outro, apesar de metros de distância. Suas orelhas levemente pontudas, foram desenhadas para captar niveis dez vezes abaixo do que um ser humano é capaz de ouvir. Não esbarravam em galhos, nem tropeçavam nas pedras ou raízes expostas,caminhavam com habilidade pelos obstáculos naturais da mata. Não se espantavam com os animais que surgiam de repente. Seus olhos treinados e adaptados para ver no escuro, reluziam pela penumbra, podiam ser vistos ao longe como olhos de um animal na noite.

-Ele não deve ser ferido... Tragam-no em condições apresentáveis. (disse uma voz masculina calmamente)... Os limites da mata devem ser obedecidos.

Sim. Pois nem mesmo para elfos, aquela região era recomendada durante a noite. Todos estavam em alerta, grande parte dos elfos ali presentes eram jovens e inexperientes. Sentiam-se observados, analisados. Naquela floresta nada era simplesmente oque parecia, uma luz na escuridão, poderia não significar uma saída ou a salvação e a escuridão não era necessariamente o fim. Porém, cada vez se tornavam mais perceptíveis presenças que se multiplicavam pelas trevas da mata. Algumas tímidas, outras intocáveis, furiosas e até mesmo brincalhonas, escondidas nos cantos mais sombrios. Difícil saber pra onde ir, oque ou a quem ouvir.

Uma ave albina de rapina sobrevoava a região, mesmo na ausência da luz dos astros, sua brancura se destacava em meio as nuvens escuras, em seu vôo imponente e sua visão perspicaz, logo avistou um movimento suspeito pela mata, seu canto denunciou a posição do alvo. Um vulto camuflado de verde que corria veloz e desesperadamente. Desajeitado saltava alguns arbustos em sua rota de fuga, quando teve um pedaço de tecido rasgado por um galho seco oculto nas folhagens. Assim que ouviram o sinal do falcão, todos, elfos e elfas correram na direção do alvo.

-Ele não é capaz se quer, de me proporcionar uma caçada emocionante!

-Cuidado Dhoria! Outros podem ouvir-te. (Dois elfos cinhavam juntos).

-Não te preocupes! Sob minha casa, todos são leais.

-Vamos cercá-lo!
-Não tenhas pressa, Ônix, Permita-me ao menos um pouco de diversão.

Dhoria era irônico, sínico, malicioso e facilmente entediável. Como a maioria dos elfos, era alto e esbelto, mas seus olhos azuis claríssimos eram penetrantes, invasivos, como se em uma fração de segundo revirasse os segredos mais obscuros do seu íntimo, apenas pelos olhos. A mais inocente palavra em sua boca se tornava uma navalha. A caçada lhe instigava, excitava. O meio sorriso em seu lábio perfeito e rosado demonstrava isso. Ônix simplesmente achava muita empolgação para tão pouco, sua expressão de pedra, dificilmente se abalava, não por qualquer motivo.

A presa havia estancado a cinco passos do precipício, uma presa fácil! O capuz de sua capa verde musgo ocultava sua identidade, por seus gestos percebia-se que estava atordoado, tinha a respiração ofegante, não de cansaço, mas de adrenalina. O indefeso pode perceber a aproximação dos elfos, chegariam pelos lados. Não havia saída a não ser para baixo, mas era um salto para a morte. O nervosismo, a raiva, a adrenalina, o levou a última tentativa desesperada por sua liberdade. Estava disposto a tudo. A única opção era enfrentá-los. Uma adaga surgiu debaixo de sua capa, mal sabia empunha-la, tremia de nervosismo, más sua determinação o manteve firme a aguardar a aparição de seus carcereiros.

O falcão alarmou mais uma vez, atiçando a curiosidade de um enorme cervo selvagem, que se alimentava de folhas, quando o pedaço da capa suja de sangue, que esvoaçava no corpo do fugitivo, enrolou-se em seus chifres. Os elfos sabiam que estavam próximos da presa. Os mais jovens sacaram suas espadas e deixaram suas flechas em posição. Uma parte do grupo se reuniu com dois lobos que auxiliavam na caçada. Eram animais grandes, altivos, majestoso, a loba era acinzentada, de olhos quase brancos e uma pelagem mais escura em torno do pescoço. O lobo alguns centímetros maior, era robusto, pelagem mesclada em preto e caramelo, de olhos amarelos quase dourados, em volta do pescoço seus pelos eram mais longos e formavam uma juba sutil. Tinham um porte comportadamente elegante para animais, porém via-se nos olhos que eram selvagens convictos. Farejaram por todas as direções, mas quando um indicava um caminho o outro indicava outra direção e como se conversassem gemiam um para o outro e recomeçavam a farejar, estavam confusos, pois o odor da presa vinha de duas direções. O lobo visualizou um movimento entre as folhagens, suas orelhas se moviam agitadas para captar os ruídos, rosnou. O cervo assustado saiu em disparada, levando consigo os lobos e quase todos os elfos. Mas Dhoria era astuto, ergueu a mão para que seu seleto grupo permanecesse.

-Quanto excesso! (comentou Ônix Serio, ao observar a agitação dos mais jovens).

A caçada teria seu fim, mesmo que não soubesse o motivo, o fugitivo sentia-se aliviado, não ter de enfrentá-los, era anestésico, pois sabia de suas chances. Estremeceu relaxado, ao perceber que os elfos se afastavam e no mesmo ritmo e intensidade seu corpo enrijeceu novamente, causando uma sensação dolorosa de cãibra no espinhaço. Mais uma vez sua mão apertou firme o cabo da adaga, pois surgia Ônix, alto, robusto, forte, suas vestes quase medievais em couro exotico e avermelhado, com uma generosa cicatriz do lado esquerdo do rosto, seus cabelos negros e lisos iam à cintura. Andava calmo, com as mãos cruzadas nas costas, aproximou-se calma e destemidamente uma vez que a presa não representava ameaça alguma.

-Diga-me... Filho de Azmir, oque pretende?
-Pretendo a verdade!(hesitou).
-De que verdade me falas? ... Existem tantas neste mundo...
-Sabe do que falo! (Interrompeu irado)... Não finja ser desentendido.
-Acalma-te rapaz!(a tranquilidade de Ônix o irritava) Primeiro diz-me... (a petulância do fugitivo lhe deixava mais sisudo). Até onde pensa em chegar com essa sua adaga ridícula e minúscula?... Crês que pode sobreviver longe de Douro?...Longe de tudo que conhece?

O silêncio do rapaz fora decepcionante, Ônix estava pronto para rendê-lo, mas o medo e hesitação do jovem deu lugar á um olhar decidido e raivoso omitido pelo capuz, ergueu a adaga para frente em um gesto desafiador. Mal sabia empunhar a arma. O veterano não precisava ver seu rosto para entender oque se passava, mesmo assim, não esperava pela reposta que obteve.

-Conheço apenas as paredes de uma prisão. (disse de forma sombria).

Ônix deixou que um sorriso surpreso desenhasse seus lábios finos, lhe tirando por segundos, a expressão pesada e séria.

-Não seja ingrato! Há seres que subsistem com menos...
-Basta! ...(ofegava rancoroso)... Não sou um de vocês! Então diz-me! Porque manter-me cativo! Oque esperam obter com toda esta...
-Cuidado!(retomou o ar sério) Jovem filho de Azmir, cuidado com oque pretende dizer. Não queremos que ninguém o interprete mal e use suas palavras contra você!... Oque procuras só existe em sua mente... E nada mais! (diante do jovem, andava em um semicírculo) Essa sua obsessão o levará a caminhos obscuros e cheios de armadilhas, você se colocara em perigo constante, se não tomar cuidado com as palavras que saem de sua boca!
-Não fale comigo, como se eu fosse um...
-Um bibelô!(interrompeu os passos) Uma imagem!... (o encarava cada vez mais próximo) Um Prisioneiro?... (Encostou o peito na ponta da adaga)... Mas é isto... Que você é para Douro... É isso que Douro espera de você! ...(olhava-o nos olhos encobertos pelo capuz) Por fim!... Você possui o livre arbítrio, como todo ser vivente... Recomendo que pondere cautelosamente... Pois como esta, não haverá outra oportunidade... (disse irritantemente de forma pausada). Os demais estão próximos e não queremos ter de tomar medidas inadequadas.

O fugitivo de repente pareceu estar confuso. Susteve a adaga até recuar dois passos, atordoado se movia nervoso de um lado para outro, parou de frente para o precipício e de costas para Ônix, soltou um suspiro, que pareceu estar enterrado no canto mais profundo de seu pulmão, um suspiro alto, como um grito, pesado de dor. Colocou as mãos nas têmporas, ainda segurava a adaga. Depois do gemido ou desabafo, ficou mais quieto, imóvel e de cabeça baixa, olhava para o precipício, mas so conseguia ver o filme de sua vida. Seus braços amoleceram.

-Maravilhoso que retomas-te o bom senso meu caro!(o fugitivo virou-se para encará-los).Agora podemos retornar ao nossos afazeres comuns imagino!(Disse Dhoria ao aproximar-se, visivelmente entediado).
-Evidente!

Respondeu o encapuzado antes de dar o ultimo passo. Deixou que seu corpo caísse precipício abaixo. Dhoria correu para visualizar incrédulo, repentinamente estava empolgado, vivo, elétrico. Um breu tomava conta do precipício e nenhum olho humano seria capaz de tal façanha, mas Dhoria ainda conseguiu ver alguns segundos da queda, antes que o jovem fosse engolido pela escuridão.

-Como vamos justificar a morte do filho de Azmir a Douro?
-Não sabemos se morreu!(disse Dhoria empolgado)... Afinal você está aqui Ônix. (Ônix deixou um sorriso satisfeito de despedida ao suicida).

Foram dez segundos de queda livre e de olhos fechados, dez segundos onde toda sua existência sem sentido passou em sua mente. Mente que estava vazia, pois assim se sentia o filho de Azmir. Não houve como evitar a reação do corpo ao contato da água congelante. Um rio pedregoso e profundo passava por ali, era como um canyon submerso. A correnteza impiedosa castigava ainda mais o jovem, que tentava manter a cabeça fora d'água a todo custo, seu corpo fora jogado diversas vezes contra pedras, sentiu cada fratura ao extremo, apesar da baixa temperatura da água, apertava a adaga como se objeto pudesse salva-lo. Por fim, o ultimo impacto sofrido, lhe abriu um corte na cabeça e o jovem não viu mais nada. Desvanecido foi levado correnteza adiante.

Véu, O Mundo Que Não Conhecemos (EM PAUSA)Onde histórias criam vida. Descubra agora