A claridade entrava pela sacada de portas abertas, incomodando o sono agora leve. Ao abrir os olhos, sua primeira visão fora o relógio digital sobre o criado mudo branco, que indicava em números vermelhos ser nove em ponto, só então se deu conta de que havia dormido de mais. Preguiçosamente passou a mão pelo colchão em busca de alguém.
-Amor?...(virou-se para olhar sua mão, onde reluzia uma aliança dourada e larga, apalpava um abdômen coberto pela regata cinza). Está tudo bem?... Teve outro pesadelo?
Seu marido estava sentado, escorado na cabeceira da cama e tudo indicava que passara a noite assim. Os olhos irritados e avermelhados pela insônia não deixava negar. Encarava um passarinho que repousava na balaustrada e o encarava de volta em movimentos ligeiros de cabeça.-Nenhum. (respondeu um pouco robótico). Está tudo bem. (sorriu na tentativa de enganá-la). Só estou um pouco cansado.
-Você não gosta da casa nova. Não é?
-A casa... (estava aéreo).
-Pedro!
-Eim?...(tentava parecer normal). A casa é ótima. É espaçosa, temos um quintal.
-Não foi isso que perguntei. (teve um suspiro exausto de resposta).
-Bianca. (deitou-se a puxando para junto de si na cama, abraçando-a de lado). A casa é perfeita. Está tudo perfeito... Só tenha um pouco de paciência... Eu vou me adaptar.
-Não. (virou-se para olha-lo). Não Pedro. Você não pode se forçar. Você precisa sentir que essa é a casa certa e...
-Ei... (chamou em tom brando). Não faria isso com vocês de novo. Não posso mais mudar tudo assim.
-Sempre faremos oque for preciso. Quantas vezes for preciso... (tocava a mão em seu rosto).
-Eu sei amor. (Acariciou seus lábios suavemente para calá-la, não queria essa conversa). Eu também... (olhava-a no fundo dos olhos, admirando sua boa vontade) A casa é perfeita... Está quase tudo perfeito.
-Quase?!(perguntou interessadamente, o vendo sentar novamente como antes)... E o que falta?
-Hm. (Cruzou os braços atrás da cabeça de um jeito folgado). Um café na cama pra começar seria ótimo!
-Vai sonhando. (olhava-o friamente).
-Estou em tratamento sabia. Não posso ser contrariado.
-Você é muito cara de pau mesmo. (dirigiu-se ao banheiro o ignorando humorada).
-Que foi?!
-Vejo que já esta melhor.
-É assim que vai começar o primeiro dia na casa nova?
-Seu remédio não é tão forte assim! E mesmo que seja não causa amnésia... (Tinha a boca cheia de espuma e a escova de dentes em mão).Pedro se aproximou e permaneceu na porta com um sorriso besta de chacota. Admirava sua jovem esposa, que agora penteava os cabelos loiros e curtos com as pontas dos dedos. Seu sorriso se desfez aos poucos de forma estranha, chamando a atenção de Bianca pelo reflexo no espelho. Pedro a olhava diferente, de uma forma que Bianca temia.
-Oque foi?... Pedro?
Tentava reconhecer o ambiente. Parecia confuso, perdido. Bianca o observava atentamente, já desconfiando de algo.
-Você não tomou seu remédio ontem, antes de deitar. Não foi? (perguntou cautelosa).
-Que remédio?... Do que está falando? (parecia levemente abalado)... Quem é você?
-Bibi, sua esposa... Está tudo bem amor. Mas você precisa tomá-lo agora. Está bem?Pedro não reconhecia mais a própria esposa. Estava confuso e tenso. Bianca ergueu a mão com cautela para pegar o medicamento no armário atrás do espelho. Seus músculos estavam rígidos, temia fazer qualquer movimento que pudesse parecer hostil. Sua visão se perdia da face de Pedro à medida que a pequena porta se abria.
-Oque está fazendo?(Bianca sentiu a voz ao pé do ouvido, paralisando-a subitamente) É só o seu remédio amor. Esta tudo...
-Eu não quero... (disse em tom firme a fazendo engolir um nó de ar).Bianca sentia a respiração forte em sua nuca, isso lhe causava receio, sentiu seu rosto cada vez mais próximo e temeu nesse momento. Viu um braço passar por cima de seu ombro fechando o armário bem devagar. Seus olhos tensos se prenderam no espelho por medo do rosto que encontraria. Então os fechou, preparando seu psicológico para oque aconteceria, para sentir o toque suave dos lábios de Pedro em seu pescoço, lhe causando arrepios gelados e a fazendo abrir os olhos imediatamente, para encontrar no reflexo o sorriso sínico de Pedro.
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Véu, O Mundo Que Não Conhecemos (EM PAUSA)
FantasyMinna, sempre rejeitada por todos, humilhada pela tia. Cresceu sem compreender o desafeto gratuito que recebia. Acostumada a posição que lhe impuzeram, sempre na defensiva, como um bicho acoado. Nunca se sentiu em casa. Nunca se sentiu querida e de...