Marionete

12

Lucio está novamente da cama do motel.

O quarto é outro, uma suíte um pouco mais requintada, com sauna, mas o objetivo continua o mesmo. A ferida em sua barriga já está cicatrizada, e talvez a ferida no psicológico de Angélica também. Os eventos traumáticos da semana anterior os acompanharão para o resto da vida, mas ao menos os dois parecem dispostos a seguir em frente.

Sua esposa vem em sua direção, sedutora. Porém desta vez sem nenhuma peça de roupa, o que deixa visível ainda algumas marcas por seu corpo. Seu caminhar tem muito mais charme e confiança.

Ao menos ela aprendeu algo na noite mais alucinante de sua vida.

Chega ao lado de Lucio e faz uma expressão maliciosa.

- Está preparado? – ela sussurra.

- O que tem em mente?

Ela então mostra uma de suas mãos, que estava escondida atrás de suas costas. Está segurando uma algema.

- Você tem certeza? – pergunta Lucio.

A resposta é dada em ação. Em poucos segundos o homem está com seus pulsos presos na cama e com o pênis quase explodindo.

Porém o curioso é que sua mente começa a vagar em outra direção. Enquanto Angélica monta em cima dele e começa a se esfregar, ao invés de focar no momento e deixar o prazer fluir, seus pensamentos estão em outro lugar. Pensa novamente na noite em que a apresentou a seus pais, e no sermão que eles lhe deram.

Tudo que eles diziam era que ela era uma interesseira, uma destas garotas que ficam atrás de uma carteira recheada, e tal.

Ele nunca a viu desta forma. Mas realmente ela teria ficado muito bem com sua morte. Herdaria uma boa participação nos aluguéis dos imóveis da família, participação na empresa, sem contar o gordo seguro de vida.

E é neste momento que ele tem uma revelação.

As palavras do velho vêm até sua cabeça, e lhe revela algo essencial, mas que ele não havia prestado atenção até o momento.

"O contato de sangue humano com a roupa a despertou, com certeza."

O contato do sangue humano.

O seu sangue!

O demônio estava adormecido na roupa, e teria continuado adormecido por toda a eternidade caso não tivesse tido contato com o sangue dele!

Quando ele finalmente percebe o que aconteceu já está com uma fita adesiva em sua boca. Tudo que lhe resta é observar o olhar cada vez mais cruel de sua esposa.

Seu anjo.

Seu pênis não está mais ereto. Mas as mãos dela sim. E seguram a maldita faca.

Ele se debate, mas já é tarde demais. Como acontece com muitas pessoas, ele só se dá conta de seu erro tarde demais.

A primeira facada dói. Mas só ela não será o suficiente para mata-lo.

Mas desta vez ela terá todo o tempo que a pernoite da suíte permite.