Capítulo 1

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O Natal é uma data incrível, família inteira reunida, música, comida, piadas, palhaçadas e risadas atoas. Bom, o meu foi assim. Pena que essa alegria não durou por muito tempo. Dia 27 de Dezembro, acordei com um choro vindo do andar de baixo. Levantei, tomei um banho, escovei os dentes e desci para ver o que estava acontecendo. No meio da escada escutei uma conversa da minha mãe com a empregada: "Como vou contar para ela? Não tenho coragem" disse minha mãe para Joana, "Acalme-se Dona Clara, esse seu nervosismo não vai ajudar em nada. Beba a água e respire"

-Mãe, está tudo bem?- digo assim que cheguei na sala, ambas assustaram ao me ouvir e me olharam com cara de piedade. O que estava acontecendo?- Por que está chorando?

-Minha filha, bom dia, sente-se aqui, tenho uma coisa pra te falar- fiz o que ela pediu e Joana saiu- Anna, seu pai...- ela disse segurando os soluços- seu pai sofreu um acidente e infelizmente não conseguiu sobreviver.

Sabe quando você sente o mundo desmoronar? Estava sentindo isso naquele momento, não caia minha ficha. Fiquei paralisada  alguns minutos encarando minha mãe assustada, esperando algum sinal de que estava brincando e meu pai aparecesse atrás de mim. Não aconteceu isso. Eu a abracei e desmoronei, chorei feito uma criança de 10 anos quando cai e rala o joelho. Não conseguia acreditar que não iria mais vê-lo, não iríamos mais no parque em família, não iríamos brincar de Eu Sei  juntos. Ele partiu e eu não estava pronta para deixá-lo ir. É tão injusto isso, quando tudo da certo, a vida te prega uma peça e te derruba do palco, lhe deixando sem uma base.

O corpo chegaria uma hora da tarde e ainda era onze da manhã. Minha mãe e Joana foram preparar o almoço, por mais que não estivessemos com fome, deveríamos comer e a família toda estava vindo para nossa casa. Então resolvi subir, arrumei a bagunça do meu quarto e a cama, na esperança de ficar menos pior. Não deu certo. Nada estava dando certo hoje, só queria meu pai aqui, para abraçá-lo e dizer que eu o amava. Queria acordar e ver que isso tudo era um pesadelo. Queria que ele estivesse aqui agora, do meu lado, para falar que a colcha estava mal colocada em cima da cama só para me irritar, queria ele aqui para me chamar de princesinha, por mais que odiasse quando ele me chamava daquele jeito. Sentei diante da minha penteadeira e da última gaveta peguei um album de fotografias que tinha feito. Estava todas as minhas fases, desde o feto até minha festa de 15 anos no começo de outubro deste ano. Eu passei uma hora vendo todas aquelas fotos e chorando. Dizem que o choro alivia a dor, bom, não aliviou. Fui tirada de meus pensamentos quando alguém bateu na porta. Enxuguei meus olhos e me vi no espelho, estava péssima.

-Pode entrar.

-Anna?- diz minha prima Alícia entrando no quarto e encostando a porta.- Ô meu amor, vem cá- diz ela me dando um abraço, começo chorar novamente em seus ombros. Alícia era a minha melhor amiga além de prima, eramos como irmãs.- não imagino o que está sentindo, mas preste atenção, estarei com você no que precisar, ele está olhando por vocês lá de cima. Ele te ama eternamente e incondicionalmente.- não conseguia falar nada, só concordava com a cabeça. Era tão reconfortante o seu abraço, me sentia menos mal, mas a ausência de meu pai ainda ardia em meu peito.- Sua mãe está te chamando para almoçar, vamos.

-Okay, só vou lavar meu rosto e passar uma água no corpo para relaxar. Pode descer, já vou.- digo pra ela que acente e sai do meu quarto sem dissentir. Me despi e entrei debaixo da água gelada, onde fiquei mais uns 10 minutos chorando. Sai e coloquei um vestido preto soltinho com uma sapatilha preta, amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e desci. Todos vieram me abraçar e tive que segurar para não chorar novamente, mas sempre tem umas lágrimas teimosas que cairam dos meus olhos. Sentamos todos e almoçamos em silêncio. Assim que terminamos, ajudei Joana a tirar a mesa e fui lavar os pratos.

-Deixa ai, minha menina, eu lavo não tem problemas- diz ela assim que nota minha ação.

-Tudo bem Joana, quero ocupar a cabeça, pode terminar de varrer e vai se trocar.- ela vem até minha direção e me abraça.

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