03 - Mal Representados

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Jude sempre foi uma menina que odiava e era contra a todo tipo de preconceito. Seja por causa de gênero, cor de pele, aspecto físico... Não importava o motivo, ela sempre acharia uma prática ridícula feita por pessoas completamente infantis.

Não era difícil saber então o motivo de sua fúria quando ela entrou na sala de aula, logo após de sair da secretaria, e se deparou com dois garotos conversando.

- Cara, eu tô te falando, esse campeonato feminino é uma coisa completamente imbecil. Desde quando mulheres jogam futebol? Deveriam colocar os moleques pra jogar, com essas menininhas aí, a gente vai perder feio. A escola tá super mal representada.– Guilherme... Não era novidade uma coisa dessas sair da boca dele. Ao menos a garota tinha a certeza que Matias, um amigo seu de longa data, daria uma boa resposta ao idiota.

- Que isso, mano? Mulheres jogam sim! – Jude sorriu ao ver o amigo defendendo as jogadoras. Mas é como diz aquele ditado: “Alegria de pobre dura pouco” – Mas jogam extremamente mal. E sabe por que? Porque elas não nasceram pra isso, nasceram pra cozinhar, pra limpar chão e pra esfregar roupa suja!

- Exatamente! – Gui deu um riso alto e deu tapinhas nas costas do amigo – Nasceram pra fazer o que a gente mandar.

Os dois ficaram ali tão entretidos em sua conversa que não perceberam Jude se aproximando lentamente da mesa em que estavam sentados.

A garota, vermelha de fúria, chegou perto da dupla e esmurrou a carteira. Os garotos se voltaram assustados para a menina – que poderia facilmente ser confundida com um pimentão agora.

- Você tá maluca, Judith? – Matias perguntou para a “pimentona”, usando um apelido que criara - e que ela odiava. Até porque era uma ótima ideia irritar ainda mais uma pessoa que estava prestes a explodir.

- Malucos são vocês! – Jude gritou, atraindo a atenção de todos os presentes – Como assim mulheres nasceram pra servir homens? Em que séculos vocês estão? Dezesseis?

Os olhos da garota estavam perceptivelmente cheios de lágrimas de pura raiva.

- Calma aí, Judezinha. – Gui tentou acalmar os nervos da menina, levantando as mãos como se estivesse se rendendo – A gente tava só brincando, não precisa levar a sério.

A garota dos cabelos azuis estava borbulhante. Não adiantaria nada pedir calma pra ela naquele estado, já estava num ponto irreversível.

- Não se brinca com coisa séria! Preconceito e machismo são ridículos! Se bem que não poderíamos esperar outra coisa de vocês, bando de crianças!– A menina estava a ponto de bater em qualquer um.

- Tá putinha por que? - Gui gritou perdendo a paciência - Se te afetou tanto, é porque sabe que é a mais pura verdade!

Jude avançou rapidamente e levantou os punhos cerrados.
Isabela, que observava toda a discussão de longe, correu e interveio antes que Jude perdesse totalmente o controle e machucasse um dos moleques. A pimentona – agora um pouco mais clara – reclamou no começo, (queria mesmo dar uma lição naqueles dois) mas logo agradeceu a amiga por tirá–la de perto daqueles babacas, afinal, ela provavelmente ia deixar alguém ali de olho roxo, e uma advertência não era muito bem-vinda no momento. Aliás, era como a própria Isa dissera depois: Eles não valiam nenhum esforço.

***

Logo após o fim da discussão – e da raiva de Jude – o professor de Educação Física, Sr. Marcos, chegou na sala de aula e levou a turma para a quadra. As aulas de Educação Física eram as preferidas de Jude, que até ficou feliz por saber que eles teriam aulas logo na segunda feira cedinho. Mas é claro que a Lei de Murphy - maldita seja - não demorou muito pra agir.

Dourado Futebol Clube {HIATUS}Onde histórias criam vida. Descubra agora