Palermo, Itália
O SUV Cadillac Escalade preto parou em frente a construção branca de dois andares que ficava de frente ao mar. O condutor usava luvas pretas e vestia um terno elegante na mesma cor.
– Chegamos, Don. – Dirigiu-se a porta traseira esquerda e abriu a porta para que o passageiro pudesse descer, oferecendo a mão para auxiliar seus passos. Seu chefe usava seu habitual chapéu preto com abas retas que formavam um pequeno bico na frente. Seu sobretudo verde escuro cobria todo o corpo, não dando indício algum do que guardava embaixo dele.
As duas figuras caminharam até a porta azul e abriram sem cerimônias, assustando quem estava ali. Lá dentro, dezenas de homens apostavam milhares em rodadas de poker.
– Eu espero que o que vejo seja apenas fruto de minha imaginação. – A voz rouca se pronunciou e os homens arregalaram os olhos ao ouvir.
Caminhou entre as mesas olhando todos de olhos cerrados. Traidores. Sua mão direita estava no bolso de seu sobretudo, segurando sua pistola 9mm equipada com um silenciador e pronta para fazer o serviço.
– Os senhores acabaram de confirmar minha teoria de que segundas chances não devem ser dadas. – Se colocou ao lado do motorista de seu carro, que estava próximo a saída. – Foi um prazer, senhores.
Sem mais delongas, puxou a arma de seu bolso, tendo o motorista seguindo seus atos e sacando a pistola que carregava na parte de trás da calça. Foram 23 tiros certeiros na cabeça de todos os homens que estavam ali. Com toda a calma do mundo, caminharam de volta ao carro, seu motorista prestando todo o auxílio que precisava. Acendeu um charuto quando o SUV começou a se mover de volta para sua casa. A pistola repousada em seu colo não incomodou, apenas prolongava a sensação de poder que sentia sempre que matava alguém.
Não sentia remorço, nunca sentiu. E não deveria. As pessoas que matava não passavam de meros traidores que faziam as coisas por suas costas, colocando em risco sua segurança e seu império. Eliminar seus inimigos era a melhor forma de se precaver, não tinha escolha.
Tragou o charuto cubano e soltou a fumaça devagar, havia espaço o suficiente no carro para que a fumaça se espalhasse por todo ambiente, não se importava.
O SUV estacionou em frente a enorme mansão e novamente o condutor abriu a porta do passageiro.
– Tenha uma ótima madrugada, Don Jauregui.
O título de Don é dado aquele que está no topo. Como maior acionista de uma organização, deve ser protegido de vínculos com a base da pirâmide e é responsável por todas as decisões dentro da comunidade.
– Obrigada, Giovanni. – A voz rouca saudou o homem uma última vez.
Ao entrar em sua grande propriedade, repousou o chapéu no cabideiro perto da porta de entrada. O silêncio no ambiente confirmava que todos ainda estavam dormindo e que nenhum funcionário havia chegado. Fez o caminho até seu quarto com cuidado para que seus saltos não fizessem tanto barulho. Guardou sua 9mm na maleta que estava em cima da cama e a enfiou de volta ao cofre, escondido atrás de seu espelho. Aproveitou para admirar-se.
Seus olhos verdes pareciam cansados, os últimos meses foram só problemas, os quais teve que resolver tudo pessoalmente.
Sabia de suas responsabilidades quando teve sua ascensão de sottocapo ao cargo de Don e apesar de estar no topo de tudo e de todos, ainda encontrava dificuldades em ser respeitada, afinal, era a primeira vez que a Cosa Nostra era comandada por uma mulher.
Lauren Jauregui havia herdado o cargo de seu pai, Michael Morgado. Mas não foi tão fácil quanto parece. A mulher teve que provar diversas vezes que era digna e capaz de assumir as responsabilidades que o cargo exigia. E provou seu valor.
Agora, faziam dois anos que estava no comando da maior máfia do mundo, Lauren era tão boa em seu trabalho que os lucros dobravam todos os anos. Uma grande excelência, era o que diziam seus conselheiros e capos.
Removeu seu sobretudo verde, ficando apenas com blusa social e a saia que vestia por baixo, ambos na cor preta. Como rainha da máfia, precisava estar sempre elegante. Desceu de seus saltos e caminhou até o pequeno frigobar, capturando uma garrafa quase vazia de moscatel.
Andou rapidamente até o banheiro para encher sua banheira com água quente, precisava se limpar.
Sentou-se em sua poltrona e virou um pouco do líquido em sua boca, sem se preocupar em usar uma taça. Seus dedos tatearam a mesa ao lado em busca de um envelope preto. Segurou a garrafa com a mão esquerda e usou a outra para retirar o conteúdo. Ali estava sua próxima vítima.
Seu conselheiro.
Um de seus parceiros da máfia siciliana.
Lauren acariciou a foto do homem e sorriu. Ele merecia o que estava por vir. Havia traído sua confiança. Cometeu o único crime que não poderia ser perdoado.
A morena colocou a foto novamente no envelope e terminou de beber seu vinho. Retirou suas roupas e entrou em sua banheira, gemendo fraco quando sentiu o líquido fervente em seu corpo. Repousou sua cabeça na borda da banheira e encarou o teto.
– Você pagará por tudo o que me fez passar, Alejandro. – Sussurrou para si enquanto apertava as bordas da banheira com os dedos.
Sentia tanto ódio que mal podia reconhecer quem era agora. Talvez se arrependesse de seus atos no futuro, mas nada iria impedir sua vingança de acontecer.
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Sottocapo: é uma posição dentro da liderança nas famílias da Cosa Nostra americana e Máfia siciliana. O sottocapo as vezes é um membro de família, tal como um filho, que vai assumir controle se o chefe ficar doente, morrer, ou for preso.
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Toxic Love
FanfictionAo perder seu pai em um terrível homicídio, Don Lauren Jauregui se torna a nova chefe da tão famosa máfia Cosa Nostra. Movida pela sede de vingança, a mulher moverá mundos para executar seus planos. A mafiosa só não esperava reencontrar alguém que f...